“Se
você é esperto, tem habilidades e possui os meios, você deve foder os poderosos”.
A
frase acima como que resume o jornalista americano Glenn Greenwald, 49 anos.
Ele a pronunciou no curso de uma entrevista que concedeu à revista americana
The Advocate, dedicada à comunidade gay.
Greenwald
foi capa da revista, mas não foi apenas ele o objeto do texto. Também seu
parceiro, o ativista brasileiro David Miranda, mereceu um amplo espaço da
Advocate.
O
casal acaba de fazer história no jornalismo brasileiro. Ambos foram decisivos
em mostrar ao mundo que, sim, é um golpe. Não bastasse isso, expuseram para
audiências internacionais a “mídia plutocrática” – expressão deles mesmos –
como jamais ocorrera antes.
Dois
artigos de Miranda foram particularmente devastadores para a Globo. Um foi
publicado no Guardian, jornal de centro esquerda britânico no qual Greenwald
foi até pouco tempo colunista. O outro saiu no Intercept, o site de Greenwald
montado com dinheiro do bilionário fundador do E-bay.
O
artigo do Guardian doeu tanto na Globo que João Roberto Marinho se sentiu na
obrigação de responder numa réplica que não convenceu ninguém.
A
virtude involuntária da reação de JRM foi provocar uma tréplica sensacional de
Miranda. Fora de sites independentes como o DCM, nunca um retrato tão veraz e
tão acachapante da Globo foi publicado – tanto em inglês quanto em português.
Tudo
somado, Greenwald e Miranda prestaram um formidável serviço à democracia e às
causas progressistas no Brasil.
Eles
moram numa casa espaçosa na Gávea. Têm dez cachorros, a maior parte dos quais
vira-latas recolhidos nas ruas do Rio.
Conheceram-se
no Rio em 2005. Segundo Greenwald, foi amor à primeira vista.
Greenwald
lia na praia no primeiro de dois meses de férias no Rio. Miranda jogava vôlei
ali perto. Uma bola perdida foi dar em Greenwald e Miranda foi buscá-la. “Oi,
meu nome é Glenn”, disse ele.
Nunca
mais se largaram. O amor deve ter gritado alto porque nem Greenwald falava
português e nem Miranda inglês.
Greenwald,
advogado de formação, começava a se encaminhar para o jornalismo. Miranda
tivera uma vida bem mais dura. Filho de mãe prostituta, ficou órfão cedo, e
passou por mais de uma tia bêbada.
Pode-se
imaginar o que Greenwald representou para Miranda, que tinha 20 anos quando
eles se encontraram.
Greenwald
faz questão de dizer também o que Miranda significou para ele. Foi, afirma,
vital para sua travessia rumo ao jornalismo.
O
casal optou pelo Brasil por causa dos direitos concedidos no país às uniões entre
homossexuais.
Mas
aparentemente não é mais o que os retém aqui, dados os avanços na legislação
americana na questão de uniões entre gays.
“O
Rio é o melhor lugar do mundo”, disse Greenwald à Advocate.
Não
é exagero dizer que a decisão deles de ficar no Rio acabou sendo extremamente
favorável ao Brasil.
Greenwald
acabou mergulhando nas coisas do país. Pôde ver o quanto a mídia nacional é
parcial. Numa entrevista que ele fez com Lula, num certo momento ele confessa
estar “chocado” com a imprensa brasileira, sobretudo a Globo.
Diz
nunca ter visto nada parecido nem nos Estados Unidos e nem no Reino Unido,
lugares em que militou no jornalismo.
A
Globo não poderia ter um inimigo pior. Respeitado mundialmente entre os
jornalistas, detentor do prêmio Pulitzer, o mais importante da mídia, Greenwald
é um exército de um homem só. Greenwald é referência internacional em
jornalismo, e a Globo não é nada fora do Brasil. Golias, neste caso, não pode
nada contra Davi.
A
vida no Brasil deu a Greenwald elementos para desmascarar o golpe perante o
mundo com petardos como uma entrevista que concedeu à CNN. Miranda daria também
sua contribuição milionária à causa com seus textos no Guardian e no Intercept.
Mas,
acima de tudo, o Brasil deu muito material para Greenwald seguir seu motto:
usar sua inteligência, suas habilidades e seus meios para “foder os poderosos”,
a começar pelos Marinhos e a Globo.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-casal-que-desmascarou-o-golpe-e-a-globo-perante-o-mundo-por-paulo-nogueira/
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