Na
entrevista que concedeu ao Brasilianas, o procurador e Ministro da Justiça
Eugênio Aragão teceu muitas críticas ao que ele chamou a visão penal de mundo,
a ideia de que todos os problemas de um país se resolvem com a identificação e
a punição do criminoso, deixando de lado outras formas de controle e às
preocupações com os efeitos sobre a economia (http://migre.me/ts0dc).
Para
quem quiser estudar a formação política da atual geração de procuradores
penais, a palestra do procurador da Lava Jato Carlos Fernando dos Santos Lima,
na Amcham (Câmara Americana do Comércio), é um documento precioso
(http://migre.me/tpn6c).
Segundo
ele, o PT tinha um projeto “abstratamente bonito”, mas junto com ele veio um
“projeto de poder”. Alvíssaras! Descobriu que partidos políticos têm projetos
de poder. Provavelmente recolheu exemplos de governantes que implantaram boas
medidas sem dispor de um projeto de poder na grande obra de ciência política
“Os Contos de Andersen”.
Muito
mais que defender Lula ou Dilma, há pelo menos um terço do país saindo às ruas,
manifestando-se nas universidades, nas academias, nos fóruns jurídicos, em
defesa desse projeto. Para o procurador, “as pessoas se apegam ao sonho
naufragado e se esquecem que existem outras opções para a frente”.
Com
a autoridade intelectual conferida pela Lava Jato, Carlos Fernando transformou
a complexidade da análise política em auto de fé, no bem contra o mal. Aliás,
essa simplificação é comum no raciocínio policial, seja de jornalistas,
delegados ou procuradores. Mas deixou nítido o viés político-partidário da
operação.
Para
não se sentir inferiorizado na Amcham, admitiu que era uma pessoa que estava
“mais à esquerda”, chegou a votar em Brizola e Lula - E? E?, indagariam os
cultivadores da objetividade anglo-saxã -, mas “mudou um pouco”, depois que foi
estudar nos Estados Unidos.
Certamente
não aprendeu nos Estados Unidos que empresas significam muito mais que o
patrimônio pessoal do dono, que se constituem em um conjunto de conhecimentos,
estruturas, pessoas, empregos, tecnologia que precisam ser preservadas.
Portanto, são ativos nacionais.
Preservar
empresas não significa preservar seus
controladores. Mas significa meramente assimilar que crimes são cometidos por
pessoas físicas, não jurídicas.
A
temporada norte-americana não livrou o procurador da síndrome de Inquisição que
sempre marcou a cultura brasileira, à esquerda e à direita: a de que empresas
onde se praticou a corrupção, assim como livros que investiram contra os dogmas
de fé, precisam ser queimadas para não propagar o pecado.
Em
compensação, transformou a Procuradoria Geral da República no principal aliado
da geopolítica norte-americana para o desmonte da diplomacia comercial
brasileira.
Um
e-mail de Alexandrino Alencar, da Odebrecht, solicitando a Lula que interviesse
junto ao governo mexicano, foi apresentado como prova do tráfico de influência
de Lula em favor de empresa brasileira.
Segundo
a última revista Época (http://migre.me/tpQNM), o e-mail foi enviado pelo
Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
Tanto
o Departamento de Justiça quanto a Procuradoria Geral da República brasileira
sabem que a defesa de empresas nacionais no exterior é uma atividade inerente
ao exercício da Presidência.
A
tentativa de criminalização confirma o pacto entre ambas as instituições –
antecipado há meses pelo GGN – visando reforçar as estratégias geopolíticas
norte-americanas.
Mais
cedo ou mais tarde, o Ministério Público Federal terá que explicar seu papel
nesse jogo profundamente antinacional, que vai muito além do penalismo .
http://jornalggn.com.br/noticia/o-brasil-visto-pela-otica-penal#.VwY4B5GiFWM.twitter
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