domingo, 6 de março de 2016

MORO. UM JUIZ SEM BRILHO

Existem pessoas que por mais que se esforcem não conseguem o destaque que pretendem obter. Querem brilhar, mas não possuem a luminosidade necessária para tanto. Em regra são aqueles que aqui no sul nós chamamos de toscos, ou seja, pessoas que não possuem o verniz cultural necessário para atingirem o intento pretendido.

E que verniz seria este?

Existem de dois tipos de verniz: o primeiro advém daquela aura resultante do conhecimento formal adquirido através de leitura de bons livros, o denominado verniz de gabinete. O outro é aquele proveniente da escola da vida, para mim o mais importante e sedutor. Sim, porque entre as pessoas mais incríveis que conheci ao longo da vida, estavam justamente aquelas que aprenderam a viver nas ruas, nas vielas, nas periferias e outros lugares que pessoas pertencentes às classes mais altas nunca pensaram em conhecer ou transitar. Este é o verniz material e como exemplo destas últimas, eu posso citar o ex-presidente Lula, aquele a quem sempre me refiro como sendo um homem dotado de uma sabedoria sem firulas retóricas e cujo aprendizado foi obtido nas lutas pela sobrevivência e nos embates sindicais.

Pois o juiz Moro não tem nem o verniz formal e nem o material. Não tem uma retórica refinada e nem demonstra ter um mínimo de vivência da qual pudéssemos inferir que ele possa ser um líder carismático em potencial. Eu imagino que ele deva ser um bom decorador de apostilas e ter alguma capacidade de decifrar os chamados pega-ratões das questões colocadas em concursos para as áreas jurídicas, afinal para ser juiz ele passou por todos estes obstáculos. Mas para por aí. No restante, ele tem um longo caminho a percorrer para tentar atingir o status de mito que Lula, Brizola e tantos outros já atingiram há muito tempo.

Assim sendo, ele deveria reduzir-se à sua condição de juiz e fazer o seu trabalho com imparcialidade, sem demonstrar esta compulsão pelos holofotes da grande mídia que ele demonstra ter. E deve ser prevenido de que por mais que tente, não tem a dimensão necessária para tentar ser algo mais do que aquilo que realmente deveria ser: um juiz pago pelo povo para aplicar o direito ao caso concreto, sempre com a devida obediência à Constituição Federal e aos demais diplomas legais. E que não deve continuar derrubando por terra princípios universais do direito conquistados pela humanidade duramente ao longo de séculos simplesmente para agradar segmentos elitistas que querem voltar ao poder, indignados que estão com os avanços sociais conquistados nos últimos anos.

Se eu pudesse, eu faria uma exortação ao senhor Moro e diria a ele: não se deixe transformar em instrumento do golpe que pessoas que não conseguem recuperar o poder pelo voto estão loucas para levarem a cabo. Não deixe que te transformem em um mísero peão neste jogo de xadrez entre a oposição golpista e o governo. Não te iludas pelas luzes da ribalta que lhe estão sendo direcionadas, pois tão logo tenhas cumprido tua deplorável missão, serás sacrificado em prol das peças mais importantes.

Se te deixares seduzir por delírios de glória, eles irão conduzi-lo diretamente à lata de lixo da história. Pode não ocorrer imediatamente, pois estás servindo aos interesses da direita e do imperialismo, mas futuramente, quando se fizer a revisão do atual momento político longe do calor dos embates ideológicos, serás inevitavelmente relegado ao papel degradante de ter sido mais um daqueles que ajudaram a destruir a soberania brasileira e o futuro de milhões de brasileiros.

É, mas infelizmente ele não me escutará, pois gente deste jaez não gosta de ouvir as vozes que ecoam nas periferias.

Jorge André Irion Jobim

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