Há diversos estudos em
curso: desde acrescentar micronutrientes em alimentos para melhorar nossa saúde
até a análise de formas de conter o desperdício
por Rui Daher
A produção de alimentos
orgânicos é importante, mas ainda enfrenta complicações no Brasil
Três motivos me fazem
interromper o outubro sabático desta coluna em CartaCapital.
O primeiro, justo e feliz,
revelar que em intensas andanças pelo País encontro a agricultura em plantio
satisfatório e promissor. A relação de preços e custos, gangorra eterna e
cíclica conforme a cultura “bola da vez”, ainda será favorável aos produtores.
Às folhas e telas cotidianas restará agourar o clima em determinadas regiões e
assim cunhar para nosso dia não nascer feliz.
Segundo, mais simples e
pessoal, quem sabe um novo texto faça sair da minha página comentário único que
ali permanece, há quase 20 dias, sem resposta ou manifestação contrária.
Publicado, uma excrescência covarde e não fundamentada lá ficou como última
palavra.
Meu esforço de domingo,
neste mês trabalhoso para um agro caixeiro-viajante, no entanto, deve-se a fato
mais importante e auspicioso, que merece relato.
Desde 1981, nos dias 16 de
outubro, se comemora o Dia Mundial da Alimentação. Coincide com a data de
criação da FAO, 70 anos atrás.
Fui convidado para uma
mesa-redonda, em Campinas, na Faculdade de Engenharia de Alimentos da UNICAMP:
“Da produção ao consumo de alimentos: desafios e tendências”. Assunto dos mais
sérios e de alta reflexão.
Participaram também: o
diretor da instituição, Dr. Antônio Meirelles; a Dra. Marília Nutti,
pesquisadora da Embrapa; Ignez Novaes de Goes, representando a Associação
Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA); o Dr. William Latorre, Diretor
Científico de várias instituições; e a Dra. Julicristie de Oliveira, professora
da FEA/UNICAMP, especialista em saúde pública.
Tentei provocar e confundir
os simpáticos cientistas, professores e especialistas que lá estavam, usando a
“nova ordem econômica mundial”. Posso ter conseguido em parte. Pretendo expor o
que penso em próxima coluna.
Essa gente trabalha, sô!
Estudam, sabem muito, têm convicções protetivas sérias para as alimentação e
saúde brasileiras. Pesquisam aqui, lá fora, confrontam conclusões. Com eles
aprendi um monte de coisas. O assunto é polêmico, multidisciplinar,
multifacetado.
Os perrengues começam dentro
das fazendas, aprofundam-se nas legislações, visitam laboratórios, complicam-se
até em hortas urbanas orgânicas, e a coisa pega ainda mais quando chega aos
aditivos e alimentos processados.
Queixam-se dos leigos que,
em folhas e telas cotidianas, falam em “ultra processados”, sem saber muito bem
do que se trata.
Recomendo-lhes calma: se
ultra processar for mais caro do que processar o negócio não irá para a frente.
Caso contrário, sai de baixo. Hoje em dia, os temas estão sempre pautados pelos
resultados econômicos, mesmo quando benéficos às populações.
Da forma que a pobreza
cresce no planeta, vastos contingentes humanos se limitarão a colher os
alimentos diretamente do solo e comê-los com folhas, caules, bichos e ainda
alguns torrõezinhos de terra grudados nas raízes. A edição especial (outubro
2014, em inglês) da National Geographic, “Food”, afirma que um quarto da
população mundial come insetos regularmente.
Das apresentações, a Marília
(vou logo pegando intimidade) coordena a excelente Rede BioFORT, da Embrapa.
Saúde na mesa do brasileiro. Biofortificar é pegar batata-doce, feijão,
feijão-caupi, mandioca e milho, alimentos da cultura brasileira, e a eles
acrescentar micronutrientes controlados (ferro, zinco, vitamina A) para maior
sustança.
O trabalho vem sendo
realizado em regiões com os mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH)
do país. Entre 2012 e 2014, mais de 2.500 famílias puderam driblar a chamada
“fome oculta”.
A Ignez confirmou ser
necessária a preocupação com os níveis de sódio hoje consumidos, mas questionou
o nível de exigências na rotulação dos produtos industrializados, quando 77% do
sódio consumido saem dos próprios preparos domiciliares. Sugeriu mais educação
e conscientização.
O Dr. William Latorre,
embora reconhecendo avanços em outras áreas, como a medicina, remeteu o aumento
da longevidade à melhor qualidade dos alimentos hoje consumidos.
Citou um exemplo que pouco
ouço, mas me incomoda muito. As enormes porções servidas atualmente. Na minha
opinião, fator monetário de péssimas consequências. Vender e cobrar mais,
aumentar o desperdício.
A doutora Julicristie,
especialista em saúde pública, mexe em feridas sociais. Em diversos pontos,
contestou os demais participantes. Vê o mundo sem óculos cor-de-rosa e me
cativou ao citar duas obras seminais para o tema: “Geografia da Fome”, de Josué
de Castro; e “Parceiros do Rio Bonito”, de Antônio Cândido.
Finalmente, o diretor da
FEA, Antônio Meirelles, fez uma excelente explanação dos caminhos atuais da
engenharia de alimentos e o quanto foi importante a UNICAMP ter sido pioneira
na criação do curso.
Pensa que inovar não pode
ser considerado negativo. Para o bem, muitas crendices errôneas foram
abandonadas, a saúde e a segurança alimentares prosperaram, e não se pode parar
saudosos de passados supostamente melhores.
De forma geral, o que todos
lá pediram desaguava na palavra equilíbrio, justamente o que o planeta procura
e não acha.
Na próxima coluna, volto ao
assunto. Se não mudar de ideia.
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