Renzo
de Felice, professor de História da Universidade de Roma, falecido em 1997, é
por unanimidade considerado o maior historiador do Fascismo italiano.
Sua
monumental biografia de Benito Mussolini, em 4 volumes e 6.000 páginas se
alinha com mais 8 livros, do qual o mais importante é La Interpretazione del
Fascismo. Para De Felice , o Fascismo é uma IDEOLOGIA REVOLUCIONÁRIA E
MODERNIZADORA DA CLASSE MÉDIA COM ORIGEM NO ILUMINISMO. De Felice era comunista
histórico, rompeu com o PCI e entrou para o Partido Socialista.
Minha
interpretação (não é a de De Felice) é alinhavada em certos princípios.
Ao
contrário do que muitos pensam, o Fascismo não chega ao poder pela força das
armas. O roteiro do Fascismo:
1-
Um pequeno núcleo DETERMINADO imbuído da ideia salvacionista e messiânica
produz ações impactantes e surpreendentes para mostrar força perante a opinião
pública.
2-
Esse pequeno núcleo não descansa, opera por "ondas" contínuas,
sem intervalo e sem descanso, mostrando garras moralizadoras,
para não dar tempo às forças contrárias de esboçar reação. Essas ondas vão em
um crescendo de ousadia e audácia, deixando os opositores e os neutros
surpreendidos a cada dia.
3-
A audácia e a ousadia só são possíveis pela
existência de um fator central: O Fascismo opera CONTRA um regime
desgastado, desorganizado, incapaz de reagir, após crises políticas sucessivas.
Esse quadro de ESGOTAMENTO do regime cujo poder se assalta
ocorreu na Itália com o País arruinado pela Guerra Mundial; na Áustria
(com Dolfuss) com um regime desnorteado pela perda do Império; na Romênia
(com o Marechal Antonescu) com um Rei repelido pelos Pais; na Hungria
(com o Almirante Horthy) pela perda de referência nacional com o desmoronamento
do Império Austro-Húngaro. Em um único País o Fascismo chegou pelas armas
e pelo golpe militar: na Espanha de Franco.
Em
Portugal o Fascismo ascendeu sem luta, pela ruína financeira do
Estado que tornou possível convocar um modesto professor de economia para
assumir o poder por 40 anos, criando seu próprio fascismo, a União Nacional.
Nos
demais o grande elemento que favoreceu a ascensão do Fascismo foi a COVARDIA
de todas as estruturas do Estado. COVARDIA do Rei, do Parlamento,
da cúpula do Judiciário, dos empresários. Todos ficaram apalermados e inertes
com a OUSADIA do pequeno grupo determinado, messiânico e salvacionista, que se
considerava o único grupo capaz de salvar o País imbuídos de uma MISSÃO em que
eles acreditam ou fingem acreditar.
O
Fascismo não precisou de força armada para tomar o Poder nesses países. Bastou
a AUDÁCIA. Mussolini liderou a Marcha sobre Roma com um punhado de arruaceiros.
Meio batalhão do Exército liquidaria com o grupo em meia hora.
Mas
quem daria a ordem de comando? Ninguém, pois todos se acovardaram. Os Fascistas
são ousados e jogam com a sorte, como Hitler sabia que os aliados estavam
acovardados de 36 a 39 e não reagiriam às suas investidas na Renânia, na
Áustria, na Tchecoslováquia, só falhou na Polônia porque abusou da sorte,
falhou porque não acreditava, até o último instante, que a Inglaterra reagiria
e, com a invasão da Polônia, se iniciasse uma nova guerra mundial.
Na
Alemanha, onde um desdobramento do Fascismo, mais agressivo e
violento, chegou ao poder em eleições diretas, a audácia veio depois, com
Hitler em pouco tempo rompendo a Constituição de Weimar para se tornar ditador.
O
Fascismo é um movimento no início moralizador e de classe
média. A corrupção inevitável vem depois. No começo
veio para purificar as instituições, prender os corruptos, modernizar o País.
Depois se torna ditadura e cria sua própria corrupção, afastando a
corrupção do antigo regime.
De Felice é um Historiador visionário porque
decifra o Fascismo em dois ângulos: como História de uma época e como Ideologia
Salvacionista. Nesta segunda visão, se aplica a qualquer tempo, pois o Fascismo
é uma ideologia atemporal.
Fonte:
http://jornalggn.com.br/noticia/como-os-fascistas-chegam-ao-poder-por-andre-araujo
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