Dora
Cavalcanti, advogada de Marcelo Odebrecht, o mais recente empresário enviado
para a Guantánamo de Moro, deu uma excelente entrevista ao Globo.
Eu
reproduzo um trecho, que considero uma denúncia gravíssima às fragilidades da
delação premiada.
Na
verdade, nem considero apenas uma denúncia: a advogada destrói completamente a
credibilidade das delações, com uma lógica simples. Elas estão sendo montadas,
ajustadas, corrigidas pelos delatores, ao longo de um processo, com a
cumplicidade criminosa de procuradores.
“Globo:
As denúncias estariam baseadas só em depoimentos de delatores?
Dora:
A Operação Lava-Jato vai entrar para o “Guinness” (o livro dos recordes) como a
investigação que mais teve delatores. E o interessante é que cada delator vai
ajustando o próprio relato para salvar a sua delação. Temos longa cadeia de
delatores que vão refrescando a memória gradualmente, vão lembrando pouco a
pouco das coisas. E temos o delator que, em face do que o outro disse, tem que
reajustar o que disse inicialmente. E tem ainda um terceiro tipo de delator,
que inclui na delação dele o que ele ouviu dizer de outro delator. A meu ver, a
delação criminal, da forma que está acontecendo na Lava-Jato, é um verdadeiro
incentivo à mentira.”
Em
outro trecho da entrevista, Dora nos dá uma informação estarrecedora:
“É
uma defesa serena e dentro das regras do jogo. O juiz disse no despacho sobre a
prisão do Alexandrino também que a empresa se recusou a fazer acordo de
leniência e que o ideal para resguardar o juízo seria a interrupção de todos os
contratos e de todas as atividades da empresa.”
Moro
quer que a Odebrecht paralise todas as suas atividades?
Ora,
isso embutiria, além de um desemprego em massa, num prejuízo muito superior,
para o Estado, para a Odebrecht, para a sociedade, a qualquer suposto desvio de
verba que Moro suspeite que tenha ocorrido!
Moro
regula bem?
A
Odebrecht é quase um país!
Como
você pretende que um país inteiro paralise todas as suas atividades?
Não
é à toa que eu chamo a Lava Jato de conspiração midiático-judicial. É isso que
ela é: uma conspiração, uma operação bandida e perigosíssima, que usa técnicas
de narrativa e manipula a psicologia das massas (prender empresário rico), além
de dar um cheque mate político na esquerda (que fica paralisada, pois como
defenderá empresários ricos).
É
algo parecido ao que Marx descreve no 18 de Brumário de Luis Bonaparte. Os
capitalistas apoiam Luis Bonaparte, o sobrinho farsante e golpista de Napoleão,
mesmo sacrificando seus próprios parlamentares e a própria estabilidade
econômica da França, porque entendiam que Bonaparte cumpriria o papel de
destruir todo um campo de ideias.
Assim
como a Lava Jato, Luis Bonaparte contou com o apoio do populacho e com a
indiferença da classe trabalhadora organizada, que não viu o perigo que corria.
O
grande capital apoia a Lava Jato, mesmo observando a destruição de grandes
empresas nacionais, porque a vê como oportunidade para criar uma atmosfera
favorável à destruição da esquerda e, com ela, as leis trabalhistas e o
monopólio da Petrobrás.
O
aumento do desemprego também interessa ao capital, porque ele força os
trabalhadores a se ajoelharem diante do si, submissos.
Além
disso, o grande capital tem sua matriz nos EUA, e interessa a ele destruir
empresas nacionais que mantinham o país fechado à entrada das empresas
norte-americanas.
http://www.ocafezinho.com/2015/06/28/advogada-da-odebrecht-a-delacao-premiada-e-um-incentivo-a-mentira/
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