A
decepcionante reforma política (uma tragédia anunciada: os políticos
profissionais sabem, como ninguém, preservar seus interesses) prova mais uma
vez o quanto que o Brasil é governado pelas bandas podres das suas instituições
políticas e econômicas, que são reconhecidamente extrativistas (sugam tudo em
benefício próprio, sem pensar no País). Enquanto lideranças podres comandarem o
Estado, o brasileiro (normalmente um alienado
político: seja porque odeia a política, seja porque não tem consciência
crítica) está fadado a viver na miséria, no desemprego, na marginalização do
mundo tecnológico, nos hábitos e costumes primitivos. Historicamente, todos os
países (selvagemente) extrativistas estão condenados ao fracasso absoluto (é só
uma questão de tempo e de agravamento das suas complexidades, que se
incrementam diariamente e em grande velocidade quando muito populoso).[1]
Ao
longo do tempo somente prosperam as nações com instituições políticas e
econômicas sólidas, inclusivas. As sociedades com instituições perversas
(Estado, democracia, mercado, Justiça e sociedade civil não inclusivas) são
extrativistas (tudo é feito pensando unicamente em cada um, em cada grupo, não
no todo; nada se faz concretamente para a educação de qualidade para todos, por
exemplo). Não há estímulo em favor do progresso social. As pessoas, nas
sociedades com instituições econômicas extrativistas, não são incentivadas a
pouparem, investirem e inovarem. Os Estados, com essas instituições, se dobram
frequentemente ao mito do governo grátis (aquele que promete vantagens e ganhos
para todos, sem custos para ninguém).[2] Com juros em patamares absurdos, o
parasitismo rentista passa a ser a regra.
A
aprovação, pela Câmara dos Deputados, da preservação do financiamento
empresarial para partidos políticos, prova que as instituições políticas
possuem a mesma natureza extrativa das bandas podres das instituições
econômicas. Nesse contexto autodizimador (extrativista), todas as mudanças são
feitas para manter os que se beneficiam da extração. Esse cenário é idêntico ao
descrito no livro O leopardo, do escritor italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa
(1896-1957), que se transformou em filme pelo cineastra italiano Luchino Visconti
(com Burt Lancester, Alain Delon e Claudia Cardinale). Nossa realidade
vergonhosamente extrativista só prenuncia mais corrupção, mais violência e mais
miséria. Caminhamos para uma situação de absoluta desesperança (que começa com
a falta de confiança nas instituições), mesclada com ira e a indignação da
população. Nitroglicerina pura em termos de sustentação social.
Tudo
sugere mudanças radicais em favor de uma vida coletiva civilizada, mas não é
esse o caminho escolhido pelas sociedades e instituições extrativistas, que vão
sucumbindo aos métodos mafiosos idênticos àqueles nascidos na Sicilia. Quando a
Justiça e o Estado de Direito se esvanecem, nos descarrilhamos naturalmente
para a lei da selva, ou seja, a lei do mais forte, que conduz a nação não para
a força do Direito, sim, para o direito da força, da violência, da corrupção,
do engodo, do medo e da omertà (silêncio). É impressionante a atualidade da
famosa frase do príncipe de Falconeri (no livro O leopardo), que dizia “tudo
deve mudar para que tudo fique como está”.
[1]
Veja ACEMOGLU, Daron e ROBINSON, James. Por que falham as nações. Lisboa:
Círculo de Leitores, 2013.
[2]
Veja CASTRO, Paulo Rabello. O mito do governo grátis. Rio de Janeiro: Edições
de Janeiro, 2014.
http://professorlfg.jusbrasil.com.br/artigos/192914701/reforma-politica-mude-tudo-para-que-tudo-fique-como-esta
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