sábado, 13 de setembro de 2014

OS CAÇADORES DA CIDADANIA ALHEIA


A cidadania, juntamente com a soberania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo econômico, é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil.

Mas o que é cidadania afinal? Embora a palavra tenha sofrido uma ampliação considerável em seu leque semântico nos últimos tempos, ela está muito ligada hoje em dia ao consumidor que exerce seus direitos perante a justiça quando é prejudicado nas relações de consumo.

Acontece que não é simplesmente isto. Juridicamente, o conceito de cidadão está ligado à possibilidade de interferir nos destinos de uma nação e isto é feito através do voto de todos aqueles que estão em dia com suas obrigações eleitorais. Em suma, é a possibilidade de interferir nas decisões políticas do estado. Segundo Paulo Freire, é a possibilidade de o sujeito envolver-se diretamente na participação da sociedade em que ele está inserido e influenciar no processo de mudança de construção conforme é desejado.

Pois é com extrema indignação e asco que leio a notícia de que a Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa, município paranaense de 334 mil habitantes, a quase cem quilômetros de Curitiba apresenta um documento aos candidatos a cargos do Legislativo, propondo o fim do voto para quem é beneficiário do Bolsa Família, enunciado nos seguintes termos:“suspensão do direito ao voto para beneficiados de qualquer programa de transferência direta de renda, nas esferas municipal, estadual ou federal.”( http://politica.estadao.com.br/blogs/roldao-arruda/associacao-propoe-suspender-voto-de-quem-recebe-bolsa-familia/)

Trata-se de uma proposta estapafúrdia com visíveis nuances fascistas, que deixa explícita a presença ainda bastante acentuada de nosso passado escravagista que nossas elites insistem em não abandonar apesar de estarmos em pleno século XXI.

É claro que teleologicamente, a idéia pretende atingir o PT, partido que há doze anos vem implementando programas de inclusão social, só não fazendo mais em virtude da oposição ferrenha de alguns partidos retrógrados que ainda defendem com unhas e dentes o neoliberalismo, aliados a uma imprensa nefasta que não reconhece avanços sociais e só sabe desfazer de qualquer medida que venha a espraiar direitos para as camadas mais desamparadas da população.

Esta idéia desprezível não surgiu agora, pois alguns cartazes neste sentido já haviam sido mostrados nos movimentos de rua do ano de 2.013, mas à época eu achei que eram apenas pessoas com suas mentes doentias e sem noção da realidade expondo suas ignorâncias a respeito do verdadeiro significado da palavra cidadania.

Mas quando me deparo com entidades assumindo tais pleitos, eu sou acometido de pensamentos sombrios a respeito de tal questão e devo deixar bem explícito o meu repúdio e desprezo a estes caçadores de cidadania alheia (com cedilha mesmo), que querem atingir a maior parte da população carente do Brasil, alijando-a dos processos decisórios das questões importantes para o futuro de nosso país.

Não senhores saudosos dos tempos da casa grande e da senzala. Como tenho repetido seguidamente, o povo já está consciente e não se contenta mais com as míseras migalhas que lhe são jogadas de um bolo que ele confeccionou sozinho. Ele quer a maior parte do produto do seu trabalho e não aceita mais continuar sendo explorado por esta minoria detentora do poder econômico. Aprendam que é melhor perder alguns anéis do que perder todos os dedos das mãos. Parem de querer escamotear a cidadania das pessoas e aprendam a convier com a democracia em toda a sua plenitude.

Jorge André Irion Jobim



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