Conversando com um amigo
bancário a respeito da greve que está sendo deflagrada pela classe dele, surgiu
um assunto interessante. Conhecedor de minhas idéias anticapitalistas que eu
não deixo de expor, confesso que às vezes de maneira um pouco exacerbada, ele
me disse que não entendia como um sujeito como eu poderia ser contra o
capitalismo, regime que ele considera perfeito e que defende com unhas e
dentes, fato que nos colocará sempre em posições opostas.
Eu lhe respondi que minha
ojeriza na verdade, é contra o denominado capitalismo selvagem, sem freios,
desumano, que destrói culturas e florestas sem pensar nas consequências
nefastas ao planeta em que vivemos. Que eu sou contra as grandes corporações,
contra multinacionais, transnacionais, instituições financeiras que cada vez
mais se agigantam e estão se sobrepondo até mesmo aos estados que por sua vez
estão sendo colocados de joelhos em uma situação de subserviência em relação a
elas. Sou contra aqueles que cultuam o lucro como se um deus fosse e sacrificam
até mesmo a humanidade e a natureza como se fosse uma oferenda a este deus
maligno.
Pois ele tentou ainda
argumentar e falou que como capitalista que era, não podia conceber idéias como
as minhas. Bem, neste momento eu tive que interrompe-lo e ao faze-lo, talvez
tenha perdido o amigo, ou ao menos, tenha afrouxado um pouco nossos laços de
amizade.
Respondi que na verdade,
não existem capitalistas assalariados. Aqueles que vivem de quantias pagas
regularmente de maneira mensal, não são capitalistas. São apenas a classe em
cima da qual o capitalismo se sustenta e da qual recebe sua legitimidade,
criando suas necessidades artificiais e fazendo-os trabalharem cada vez mais
para consumirem produtos e serviços sem os quais eles sobreviveriam
tranqüilamente, mas que em função de frases pré-concebidas como “se você não tiver um
desses, você não será ninguém”, acabam adquirindo e alimentando e realimentando
a roda insana do capitalismo. Enfim, eles são o rebanho que em sua mansidão, joga
o jogo conforme as regras ditadas pelos verdadeiros capitalistas.
E mais. Como tenho vários
familiares que foram bancários, eu lhe disse que ele deveria sim ter esta mesma
visão de desprezo ao capitalismo, afinal, a classe bancária foi uma das maiores
vítimas do capitalismo. É só voltarmos trinta anos atrás e analisarmos a grande
quantidade de funcionários que trabalhavam em cada agência bancária e
compararmos com o reduzido número que encontramos nas mesmas agências. Eles
foram sim vítimas do capitalismo que os trocou por máquinas e continuará
fazendo isto até não precisar mais de uma pessoa sequer, tudo em nome do
maldito lucro. Os empregados? Ah, eles que se virem e procurem outras
atividades.
Diante de minhas palavras,
notei que o amigo baixou a cabeça e seu sorriso desapareceu, sobrevindo um
certo ar de tristeza como alguém que, de repente, vê o mundinho no qual ele
acreditava, ruir como um castelo de areia. Bem, eu não fico satisfeito com
estas coisas, mas não consigo permanecer calado quando pessoas tentam me
convencer de coisas que nem mesmo elas acreditam em sua totalidade. Tanto que
meu amigo não teve argumentos outros para tentar contrapor aos meus.
Sinto pelo fato de que
nossa amizade tenha esmorecido um pouco, mas realmente, assalariados não são
capitalistas.
Jorge André Irion Jobim.
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