quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O DESENCANTO




O Princípio da Publicidade que emana da Constituição Federal aliada às novas tecnologias de difusão de informações demorou, mas atingiu seu desiderato. Trouxe a necessária transparência e foi mostrando aos poucos as entranhas do poder, desvendando seus segredos guardados a sete chaves, deixando à mostra a quantidade absurda de privilégios e benesses que acabam beneficiando aqueles que têm acesso aos cargos públicos.

Aos poucos fomos descobrindo como funciona o poder legislativo, com suas votações todas direcionadas ao sabor de polpudas quantias que corriam à sorrelfa para as mãos de grande parte de nossos legisladores. Restou cristalino também que o poder executivo, em nome da tal governabilidade, somente tem momentos de calmaria após a partilha dos diversos escalões do governo entre os partidos aliados, o que nos leva àquela imagem das histórias de quadrinhos em que víamos as raposas repartindo as galinhas. Ah, e as galinhas somos nós mesmos.

Por último, estamos retirando a névoa que cercava a montanha na qual se encastelava o poder judiciário, sempre inatingível e distante dos reles mortais. Parecia para todos nós ser o único poder sem máculas até que para nossa surpresa, descobrimos que também ele é utilizado para que alguns de seus membros possam enriquecer de maneira desproporcional. Enriquecimento dentro da legalidade é claro, mas eivado de imoralidade se fizermos uma comparação com o que aufere a maioria do povo brasileiro. Não, aquela imagem que tínhamos de senhores doutos, sisudos, de vida estóica, quase espartana, dedicados tão somente às questões de distribuir justiça, não corresponde à verdade. Eles também são mortais muitas vezes em sua acepção mais rasteira e, a exemplo da maioria dos membros dos demais poderes, muitos deles estão ali para abarrotarem seus cofres ás custas do suor do povo.

Existe um ditado popular que diz que “quem não deve, não teme”. Pois bem, vocês já notaram o terror que toca no seio dos membros dos poderes da República cada vez que se fala em se levantar sigilos bancários, fiscais, telefônicos e outros? Por que será que nenhum deles quer ser fiscalizado? Ora, tudo nos leva a concluir que eles também têm algo a esconder, fato que nos remete ao também popular adágio de que “todos têm um esqueleto dentro do armário”.

Ainda bastante jovem, minhas leituras me levaram à descoberta de que eu era um anarquista congênito. Anarquista no bom sentido de ser contrário a qualquer forma de poder institucional e não da forma pejorativa como é utilizada por parte daqueles que desconhecem o que é tal ideologia. É claro que tive que me dobrar e acabar aderindo à figura do Estado até porque se eu não o fizesse teria que me tornar um eremita e viver à margem de tudo e de todos. Mas hoje, vendo ruir toda e qualquer ilusão que eu poderia ter em relação aos três grandes pilares do poder, voltam a pulular em minha mente aquelas velhas idéias anarquistas e cresce cada vez mais dentro de mim uma aversão a este mero ente da razão que é o Estado, cuja única finalidade é servir de instrumento para espoliar o povo. De forma asséptica, sem sangue, mas ainda assim, espoliação.

Jorge André Irion Jobim. Advogado de Santa Maria, RS


Publicado no Portal de Luis Nassif


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Publicado no Portal Mídia Independente


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