sábado, 5 de novembro de 2011

A DEMONIZAÇÃO INSTANTÂNEA



O método é simples. Basta que uma pessoa qualquer esteja atrapalhando os planos de dominação militar, econômica ou de qualquer outra ordem de alguma nação imperialista ou de algum segmento mais poderoso de uma sociedade que ela terá seu nome jogado às feras. Serão potencializados fatos negativos ocorridos no passado ou criados factóides novos se eles não forem suficientes, e a mídia venal irá cumprir o seu papel de instantaneamente demonizar esta pessoa que está obstaculizando os passos de tais nações. Tudo irá se proliferar de maneira rápida inclusive com o auxílio desta ágora virtual em que se transformou a internet e logo essa pessoa será considerada o inimigo número um da humanidade.

A pobre vítima, da noite para o dia, irá ser perseguida exatamente como acontecia na época em que o clamor público já bastava para que a pessoa fosse linchada ou submetida a um julgamento sumaríssimo pelo populacho que servia de acusador, advogado e juiz ao mesmo tempo, sendo imediatamente morta por enforcamento ou qualquer outro meio cruel.

Foi exatamente o que aconteceu com Sadham Hussein, Bin Laden e mais recentemente com Muammar Kadhafi. Em um primeiro momento, aliados bajulados pelos chefes de estado das grandes nações; logo a seguir, tão logo deixaram de servir aos interesses de tais países, foram tachados de ditadores terroristas culpados de todas as mazelas que estavam acontecendo no mundo.

No Brasil, o processo é o mesmo e a mais nova vítima foi o ex-Ministro Orlando Silva. Ele foi assassinado moralmente em um processo que durou vários dias, alvo desta mídia inescrupulosa e sem princípios éticos, eis que condena antes de provar. E não foram meras críticas; foram acusações graves de desonestidade feitas por maus jornalistas que deveriam ser banidos de nossa imprensa sob pena dela acabar perdendo o resto de credibilidade que ainda possui. Aliás, são justamente estas práticas jornalísticas abomináveis com suas campanhas difamatórias que nos levam a defender a necessidade de marco regulatório para a imprensa e democratização dos meios de comunicação. Afinal, contraria todos os princípios universais do direito condenar qualquer pessoa, por mais terríveis que tenham sido os atos por ela praticados, passando por cima dos princípios do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal.

Bem. Como operador do direito, eu acredito firmemente que a presunção de inocência até o trânsito em julgado de uma sentença penal condenatória é um dos grandes pilares sobre os quais se assenta o nosso estado democrático de direito. Pode ser que o futuro acabe me provando o contrário, mas enquanto isso não acontece, eu fico com as palavras de Orlando Silva que durante a cerimônia de posse do novo ministro, em um discurso que arrancou aplausos do público presente, afirmou: “eu fico feliz de poder olhar nos olhos de cada um de vocês, da senhora, presidenta, e dizer: ‘eu sou inocente’”.

Jorge André Irion Jobim. Advogado de Santa Maria, RS

Publicado no Portal de Luis Nassif

http://www.luisnassif.com/profiles/blogs/a-demoniza-o-instant-nea

Publicado no Centro de Mídia Independente

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2011/11/499522.shtml

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