Com o advento da internet aliado aos avanços no campo das comunicações, bastam algumas horas para que os fatos que ocorrem no mundo se tornem um déjà vu para a maior parte das pessoas. Temos muitas vezes a possibilidade de assisti-los simultaneamente, eis que transmitidos ao vivo sem que para tanto haja necessidade de grandes aparatos tecnológicos.
Isso faz com que sequer tenhamos tempo de assimilar tudo o que acontece, pois a quantidade de informações é tão grande que se pararmos para pensar, acabaremos nos tornando atrasados em relação aos novos acontecimentos que nos são trazidos de roldão. Naturalmente, alguns destes fatos merecem que façamos uma reflexão mais acurada, eis que nos revelam algumas verdades insofismáveis que não podemos deixar passar em branco.
Merece destaque o que vem acontecendo atualmente na Grécia. Como tantos outros, o país atravessa uma grave crise econômica que acabou gerando graves confrontos entre governo e população inconformada com as medidas que vinham sendo tomadas para estancar seus efeitos. Para tentar amenizar estes litígios, foi aventada a possibilidade de se fazer um plebiscito através do qual a própria população poderia optar sobre a aceitação ou não das novas medidas que lhes estão sendo impostas para que saísse da crise. Isso evidentemente acabou despertando a contrariedade das nações mais poderosas que ameaçaram a Grécia com a expulsão da zona do euro caso o plebiscito definisse pela rejeição ao pacote.
Pois o estado grego não resistiu e acabou sucumbindo ao ultimato que lhe foi feito pela União Européia. Na última quinta-feira 03/11/11) o ministro de Finanças da Grécia, Evangelos Venizelos, disse que o país planeja cancelar a realização do tal plebiscito no qual os gregos iriam decidir sobre a aceitação do segundo pacote internacional de resgate.
Duas reflexões emergem de tal fato e merecem ser destacadas: a primeira delas é que estamos diante da demonstração cabal da fragilidade das soberanias das nações submetidas às injunções da globalização. A segunda é que, contraditoriamente, no país que foi o berço da democracia, um dos pilares da nossa civilização, a população está proibida de decidir democraticamente através de um plebiscito a respeito de medidas de austeridade que irão lhes impor sacrifícios duríssimos.
Ficou escancarado que a tão decantada democracia apregoada aos quatro ventos como o regime político perfeito, servindo inclusive como motivo para várias intervenções imperialistas em outros países, é altamente excludente.
Na verdade, o poder de decisão sobre política econômica está restrito tão somente aos senhores do mercado, adeptos do deus-capital. Para o povo que é a maioria e a grande vítima de tais decisões, resta apenas a falsa liberdade de optar por uma atitude servil em relação às decisões que lhe são impostas ou ser esmagado pelos braços armados do poder destes senhores. Se etimologicamente democracia significa poder do povo, nós ainda não conseguimos encontrá-la, eis que estamos ainda diante de uma democracia seletiva, de uma democracia sem povo.
Jorge André Irion Jobim. Advogado de Santa Maria, RS
Publicado no Portal de Luis Nassif
http://www.luisnassif.com/profiles/blogs/a-democracia-seletiva
Publicado no Centro de Mídia Independente
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2011/11/499731.shtml
Isso faz com que sequer tenhamos tempo de assimilar tudo o que acontece, pois a quantidade de informações é tão grande que se pararmos para pensar, acabaremos nos tornando atrasados em relação aos novos acontecimentos que nos são trazidos de roldão. Naturalmente, alguns destes fatos merecem que façamos uma reflexão mais acurada, eis que nos revelam algumas verdades insofismáveis que não podemos deixar passar em branco.
Merece destaque o que vem acontecendo atualmente na Grécia. Como tantos outros, o país atravessa uma grave crise econômica que acabou gerando graves confrontos entre governo e população inconformada com as medidas que vinham sendo tomadas para estancar seus efeitos. Para tentar amenizar estes litígios, foi aventada a possibilidade de se fazer um plebiscito através do qual a própria população poderia optar sobre a aceitação ou não das novas medidas que lhes estão sendo impostas para que saísse da crise. Isso evidentemente acabou despertando a contrariedade das nações mais poderosas que ameaçaram a Grécia com a expulsão da zona do euro caso o plebiscito definisse pela rejeição ao pacote.
Pois o estado grego não resistiu e acabou sucumbindo ao ultimato que lhe foi feito pela União Européia. Na última quinta-feira 03/11/11) o ministro de Finanças da Grécia, Evangelos Venizelos, disse que o país planeja cancelar a realização do tal plebiscito no qual os gregos iriam decidir sobre a aceitação do segundo pacote internacional de resgate.
Duas reflexões emergem de tal fato e merecem ser destacadas: a primeira delas é que estamos diante da demonstração cabal da fragilidade das soberanias das nações submetidas às injunções da globalização. A segunda é que, contraditoriamente, no país que foi o berço da democracia, um dos pilares da nossa civilização, a população está proibida de decidir democraticamente através de um plebiscito a respeito de medidas de austeridade que irão lhes impor sacrifícios duríssimos.
Ficou escancarado que a tão decantada democracia apregoada aos quatro ventos como o regime político perfeito, servindo inclusive como motivo para várias intervenções imperialistas em outros países, é altamente excludente.
Na verdade, o poder de decisão sobre política econômica está restrito tão somente aos senhores do mercado, adeptos do deus-capital. Para o povo que é a maioria e a grande vítima de tais decisões, resta apenas a falsa liberdade de optar por uma atitude servil em relação às decisões que lhe são impostas ou ser esmagado pelos braços armados do poder destes senhores. Se etimologicamente democracia significa poder do povo, nós ainda não conseguimos encontrá-la, eis que estamos ainda diante de uma democracia seletiva, de uma democracia sem povo.
Jorge André Irion Jobim. Advogado de Santa Maria, RS
Publicado no Portal de Luis Nassif
http://www.luisnassif.com/profiles/blogs/a-democracia-seletiva
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http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2011/11/499731.shtml
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