sexta-feira, 19 de novembro de 2010

POBREZA DE ESPÍRITO

Para combater a pobreza material, foi criado o programa Bolsa Família, trazendo aos despossuídos, a possibilidade de uma alimentação melhor, de manterem seus filhos nas escolas e de não precisarem se submeter a salários indignos, coisa que muito agradava a uma boa parte da elite brasileira.

Agora, qual será o antídoto, qual o programa a ser criado para combater a pobreza de espírito das pessoas que criticam veementemente o programa Bolsa Família? Como iluminar o intelecto de tais pessoas para que elas possam entender que ele tem servido como uma espécie de muro de contenção, evitando que a violência venha a se alastrar de maneira ainda mais incontrolável? Será que elas não percebem que se isso viesse a ocorrer, os governos gastariam cinco ou seis vezes mais em construção de presídios e na manutenção dentro deles daquelas pessoas que, desesperadas pelo desemprego e pela falta de perspectivas, inevitavelmente iriam apelar para a ilicitude? Será que não é melhor utilizar o dinheiro dos tributos para dar o mínimo existencial e tirar a população da miséria, efetivando o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, ao invés de utilizá-lo em aparatos de repressão?

Bem, talvez assim elas achem que os nossos tributos estariam sendo bem utilizados, eis que não existe dinheiro mal gasto quando se trata de vigiar e punir pessoas que “parecem não saber o lugar ao qual pertencem”. Agora, gastar dinheiro em políticas eminentemente inclusivas que podem ser a chave de ignição para uma maior mobilidade social, é um acinte aos poucos privilegiados que sempre desfrutaram de um lugar ao sol e que não aceitam concorrência de qualquer espécie.

Não sei não. Sou instado a pensar que uma boa parte da chamada elite brasileira não tem remédio, pois herdou uma mentalidade escravagista e dela não quer se desvencilhar. Não aceitam que as maiorias possam sonhar em ascensão social e venham a disputar com elas aqueles espaços que já foram exclusivos de uma minoria. Ao verem que a distância que as separa da “plebe” está diminuindo, elas propugnam por um esticamento da corda das desigualdades sociais, sem se darem conta de que a violência que isso irá gerar, se voltará inevitavelmente contra elas próprias. Enfim, penso que eliminar o preconceito e a visão deformada desta falsa elite é bem mais difícil do que erradicar a fome de milhões de brasileiros.

Jorge André Irion Jobim. Advogado de Santa Maria, RS


Publicado no jornal A Razão no dia 16 de Novembro de 2.010
Publicado no site www.artigonal.com.br

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