quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A IDEIA


Quase que diariamente pratico uma longa caminhada, necessária para manter a saúde na minha idade. Na verdade, eu não chamo mais de caminhada, mas sim, de um especial momento de captação de histórias e de inspiração para meus escritos. Enquanto caminho, gosto de observar e ouvir pessoas que passam por perto de mim. É incrível como podemos obter subsídios para nossos futuros enredos. O resto, fica por conta da imaginação. É só chegar em casa, sentar diante do computador e escrever. Tudo flui como um turbilhão. Ou melhor, fluía.

Acontece que após as alterações em nossa ortografia, não tem sido assim. Sento-me, viro de um lado para o outro, massageio o cérebro e nada. As ideias não me acorrem como acorriam antigamente. Por mais que eu tente, não consigo escrever uma só palavra. Cada vez que tento ter uma ideia segundo a nova ortografia, tudo emperra e nada acontece. É como se faltasse alguma coisa.

Tentei então colocar novamente o acento agudo na minha idéia e, eureca: novamente consegui escrever com a mesma facilidade com que eu fazia anteriormente. Descobri que a ideia sem o acento, é como uma lanterna na qual falta a lampadinha para acender e iluminar o caminho pelo qual transitam as minhas idéias. Parece viagem, como diriam os mais jovens, mas é isso mesmo: eu não consigo ter idéias sem o acento ao qual eu já estava acostumado desde o momento em que aprendi a ler.

Na verdade, ao menos para mim, o acento agudo é como se fosse o elemento catalisador necessário com que as idéias aflorem em nosso pensamento; a cereja do bolo, aquele toque final que faz com que o trabalho do artista se torne uma obra de arte.

Jorge André Irion Jobim

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