Leia
na coluna de Raphael Fagundes: Será que um cidadão comum de direita, os ditos
cidadãos de bem, seriam anticomunistas se soubessem o que é comunismo?
Você
pode ser antirracista, feminista, etc., etc., mas nada disso implica em ser
comunista. Esses “istas” são apenas ideais pelos quais a realidade deve ser
conduzida de acordo com os defensores de tais ideológicos. “Para nós o
comunismo não é um estado que deve ser criado, ou um ideal pelo qual a
realidade terá de ser conduzida. Consideramos comunismo o movimento real que
supera o atual status quo”,[1] explicam Marx e Engels.
A
revolução é a revolta “contra a própria ‘produção da vida’ vigente, contra a ‘atividade
total’ sobre a qual se fundamenta”. Ou seja, o comunismo só pode ser entendido
em âmbito materialista, na esfera econômica das relações sociais.
“As
acusações contra o comunismo feitas de pontos de vista religiosos, filosóficos
e ideológicos em geral, não merecem uma discussão pormenorizada”[2], dizem os
autores do Manifesto Comunista.
Você
pode até lutar por liberdade e igualdade e ainda assim não ser comunista.
Apenas uma coisa define o comunismo (e me parece que pouco se sabe disto
atualmente): a emancipação do Trabalho em relação ao Capital. Nada mais!
Nos
dirá Lenin: “Qualquer espécie de Liberdade é uma fraude, se é contrária aos
interesses da emancipação do Trabalho da opressão do Capital”. Mais adiante, no
mesmo texto, o revolucionário russo dirá sobre a igualdade: “a igualdade é uma
fraude quando em contradição com a emancipação do Trabalho da opressão do
Capital”.[3]
As
esquerdas caíram no jogo fraudulento do Capital ao lutarem por causas
ideológicas, filosóficas e, até mesmo, religiosas. Se separaram do socialismo
quando passaram a lutar pela emancipação da mulher, do negro, da liberdade e
igualdade de gênero sem bradar pela libertação do Trabalho da opressão do
Capital.
Será
que um cidadão comum de direita, os ditos cidadãos de bem, seriam
anticomunistas se soubessem o que é comunismo?
O
trabalhador médio que, em grande parte, tem um pensamento conservador
reprovaria a ideia de ter um trabalho garantido, sem submeter aos desejos,
muitas vezes espúrios e covardes, dos patrões?
A
economia moral da classe trabalhadora, a qual Vargas foi um dos grandes
forjadores, que luta por um emprego seguro, benefícios dignos assegurados em
lei e não nas flutuações do mercado, nos ajuda a compreender que grande parte
da massa trabalhadora tem uma grande tendência a se posicionar em favor da
emancipação do Trabalho em relação ao Capital.
Uma
grande fração da classe trabalhadora comprou o discurso da direita que, por sua
vez, defende que, em tempos de crise, é necessário salvar o capital e não o
trabalho. O discurso é sempre de atrair investidores. Atraindo investidores,
geraria-se empregos.
Nessa
lógica, vende-se a ideia de “menos direitos e mais empregos”. A Reforma
Trabalhista foi feita em grande parte para atender a necessidade da uberização
da mão de obra. E de fato, muitos empregos uberizados foram gerados. Mas será
realmente isto que querem os trabalhadores?
Muitos
compram esse discurso por causa das pautas morais. Votam no clã Bolsonaro
porque são antiaborto. São convencidos primeiro pela emoção, e quando chegam à
razão, já é tarde demais para compreendê-la porque estão cegos demais pelo
espírito.
As
esquerdas optaram por abrir os olhos da sociedade através da emoção, das
ideias. Parecem acreditar justamente naquilo que Marx desconsiderou, de que a
mudança vem do conflito entre ideias. Não. A mudança vem da dialética
materialista, do conflito entre classes, da batalha travada entre os interesses
do Trabalho e os interesses do Capital.
Enquanto
isto não for esclarecido, enquanto somente este jogo fraudulento entre ideias
estiver na superfície do conflito social, nos jornais e movimentos sociais, a
mudança ainda estará longe de acontecer. As engrenagens da história serão
conduzidas pela burguesia que alimenta este conflito espúrio, recrutando, inclusive,
membros de sua própria classe para protagonizarem tal “pornografia em vez de
política”[4] (palavras de Lenin).
Assim
dissuadem a classe trabalhadora a não defender sua economia moral, a retirar o elemento
econômico de sua moralidade e, assim, perpetuar a preponderância dos interesses
do Capital sobre o Trabalho.
[1]
MarX, K. e ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo: Martin Claret, 2005, p. 63.
[2]
MARX, K. e ENGELS, F. O Manifesto do partido comunista. São Paulo: Martin
Claret, 2006, p. 65.
[3]
LENIN, V. Como iludir o povo com os slogans de Liberdade e igualdade. São
Paulo: Global, 1979, p. 32.
[4]
LENIN, V. Esquerdismo, doença infantil do comunismo. p. 06. Disponível em:
www.enlacers.com.br.
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