sábado, 22 de agosto de 2020

VOCÊ SABE, REALMENTE, O QUE É COMUNISMO? Por Raphael Silva Fagundes

Leia na coluna de Raphael Fagundes: Será que um cidadão comum de direita, os ditos cidadãos de bem, seriam anticomunistas se soubessem o que é comunismo?

Você pode ser antirracista, feminista, etc., etc., mas nada disso implica em ser comunista. Esses “istas” são apenas ideais pelos quais a realidade deve ser conduzida de acordo com os defensores de tais ideológicos. “Para nós o comunismo não é um estado que deve ser criado, ou um ideal pelo qual a realidade terá de ser conduzida. Consideramos comunismo o movimento real que supera o atual status quo”,[1] explicam Marx e Engels.

A revolução é a revolta “contra a própria ‘produção da vida’ vigente, contra a ‘atividade total’ sobre a qual se fundamenta”. Ou seja, o comunismo só pode ser entendido em âmbito materialista, na esfera econômica das relações sociais.

“As acusações contra o comunismo feitas de pontos de vista religiosos, filosóficos e ideológicos em geral, não merecem uma discussão pormenorizada”[2], dizem os autores do Manifesto Comunista.

Você pode até lutar por liberdade e igualdade e ainda assim não ser comunista. Apenas uma coisa define o comunismo (e me parece que pouco se sabe disto atualmente): a emancipação do Trabalho em relação ao Capital. Nada mais!

Nos dirá Lenin: “Qualquer espécie de Liberdade é uma fraude, se é contrária aos interesses da emancipação do Trabalho da opressão do Capital”. Mais adiante, no mesmo texto, o revolucionário russo dirá sobre a igualdade: “a igualdade é uma fraude quando em contradição com a emancipação do Trabalho da opressão do Capital”.[3]

As esquerdas caíram no jogo fraudulento do Capital ao lutarem por causas ideológicas, filosóficas e, até mesmo, religiosas. Se separaram do socialismo quando passaram a lutar pela emancipação da mulher, do negro, da liberdade e igualdade de gênero sem bradar pela libertação do Trabalho da opressão do Capital.

Será que um cidadão comum de direita, os ditos cidadãos de bem, seriam anticomunistas se soubessem o que é comunismo?

O trabalhador médio que, em grande parte, tem um pensamento conservador reprovaria a ideia de ter um trabalho garantido, sem submeter aos desejos, muitas vezes espúrios e covardes, dos patrões?

A economia moral da classe trabalhadora, a qual Vargas foi um dos grandes forjadores, que luta por um emprego seguro, benefícios dignos assegurados em lei e não nas flutuações do mercado, nos ajuda a compreender que grande parte da massa trabalhadora tem uma grande tendência a se posicionar em favor da emancipação do Trabalho em relação ao Capital.

Uma grande fração da classe trabalhadora comprou o discurso da direita que, por sua vez, defende que, em tempos de crise, é necessário salvar o capital e não o trabalho. O discurso é sempre de atrair investidores. Atraindo investidores, geraria-se empregos.

Nessa lógica, vende-se a ideia de “menos direitos e mais empregos”. A Reforma Trabalhista foi feita em grande parte para atender a necessidade da uberização da mão de obra. E de fato, muitos empregos uberizados foram gerados. Mas será realmente isto que querem os trabalhadores?

Muitos compram esse discurso por causa das pautas morais. Votam no clã Bolsonaro porque são antiaborto. São convencidos primeiro pela emoção, e quando chegam à razão, já é tarde demais para compreendê-la porque estão cegos demais pelo espírito.

As esquerdas optaram por abrir os olhos da sociedade através da emoção, das ideias. Parecem acreditar justamente naquilo que Marx desconsiderou, de que a mudança vem do conflito entre ideias. Não. A mudança vem da dialética materialista, do conflito entre classes, da batalha travada entre os interesses do Trabalho e os interesses do Capital.

Enquanto isto não for esclarecido, enquanto somente este jogo fraudulento entre ideias estiver na superfície do conflito social, nos jornais e movimentos sociais, a mudança ainda estará longe de acontecer. As engrenagens da história serão conduzidas pela burguesia que alimenta este conflito espúrio, recrutando, inclusive, membros de sua própria classe para protagonizarem tal “pornografia em vez de política”[4] (palavras de Lenin).

Assim dissuadem a classe trabalhadora a não defender sua economia moral, a retirar o elemento econômico de sua moralidade e, assim, perpetuar a preponderância dos interesses do Capital sobre o Trabalho.

[1] MarX, K. e ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo: Martin Claret, 2005, p. 63.

[2] MARX, K. e ENGELS, F. O Manifesto do partido comunista. São Paulo: Martin Claret, 2006, p. 65.

[3] LENIN, V. Como iludir o povo com os slogans de Liberdade e igualdade. São Paulo: Global, 1979, p. 32.

[4] LENIN, V. Esquerdismo, doença infantil do comunismo. p. 06. Disponível em: www.enlacers.com.br.


Nenhum comentário: