As
câmaras de gás não foram o primeiro método de extermínio em massa usado pela
Alemanha. Até 1941, oficiais da Polícia Militar de Hitler ( as S.S.) eliminavam
pequenos grupos de prisioneiros em caminhões de transporte, trancando-os em
caçambas fechadas que recebiam o monóxido de carbono do escapamento.
A
técnica do caminhão foi adaptada para salas trancadas, câmaras, e logo a fumaça
foi trocada por um pesticida, mais
barato e eficiente. O pesticida era o Zyklon B, produzido sob encomenda pela
Bayer, e a primeira aplicação em humanos deu-se em agosto de 1941.
Logo
as câmaras de gás aumentaram enormemente a produtividade da aniquilação de
homens, mulheres e crianças. Somente em Auschuwitz, as câmaras de gás produziam
800 cadáveres por dia! Covas comuns não suportariam tal volume! Logo, os
crematórios tornavam-se absolutamente necessários.
No
livro “Anatomia do genocídio”, Israel
Charny publica o resultado de uma pesquisa nos arquivos nazistas, realizada por
Harry Shapiro:
“Os
nazistas abriram concorrência pública para construção das câmaras de gás”.
Chegaram
até nós, diz Shapiro, os orçamentos de três empresas, todas elas contratadas
pelo III Fuerher para o holocausto nazista:
1.
Tpos e Filhos, de Erfurt, fabricantes de equipamentos de aquecimento. “Acusamos
o recebimento de sua encomenda de cinco fornos triplos, incluindo dois
elevadores elétricos para retirar os cadáveres e um elevador de emergência…”
2.
Vidier Works, de Berlim: “Para introduzir os corpos nos fornos, sugerimos
simplesmente um garfo de metal movendo-se sobre cilindros…”
3.
C.H. Kori, de Munique: “Garantimos a eficácia dos fornos de cremação, bem como
sua durabilidade, o emprego dos melhores materiais e nossa perícia impecável”.
Após
a instalação dos crematórios, o limite imposto por Hitler e pelos líderes
nazista foi a “solução final”, ou seja, a total eliminação do povo judaico, um
genocídio que fez 6 milhões de vítimas.
A
palavra genocídio foi cunhada em 1930 pelo jurista Raphael Lemkin, judeu
polonês, que requereu à Liga das Nações, antecessora da ONU, que proclamasse
uma lei contra o assassinato em massa de grupos raciais ou nacionais escolhidos
para serem aniquilados.
Embora
como palavra, genocídio tenha uma origem de menos de um século, ele é um tema
do presente, do passado e do futuro. É o tema que revela a natureza real de
nossa espécie, capaz do trabalho mais vil que possa sair de mãos humanas: matar
outros seres indefesos!
Nos
últimos 100 anos nós, seres humanos, massacramos mais de 150 milhões de membros
de nossa própria espécie. Diz Ronald Laing, que “todos nós vivemos sob a ameaça
de total aniquilação por nossos próprios atos. Aparentemente precisamos tanto
de morte e destruição, quanto de vida e felicidade. Somos tão impelidos a matar
e a ser mortos como o somos a viver e a deixar que outros vivam”.
Se,
como escreveu Malreaux, a morte transforma certas vítimas em destino, é
espantoso para a imaginação solidária e moral em todas as sociedades que haja
incontáveis indivíduos prontos para cometer o mal intolerável: torturar e matar
outros seres humanos!
Mas
a lembrança do sofrimento pode se transforma em uma salvaguarda contra o
sofrimento! Com essa intensão, Elie Wiesel nos ensina: “Auschwitz é o ponto
zero da história, o começo e o fim de tudo o que existe. É a referência final e
em relação a ele tudo será julgado. Por que vimos o triunfo das trevas, temos
que falar sobre o sofrimento e a resistência de suas vítimas. Por que vimos o
mal em ação, temos que denunciá-lo. Temos de combatê-lo sem dar um minuto de
trégua para salvar o mundo do contágio”.
O
que quer que transforme pessoas em destruidores monstruosos existe, de alguma
maneira, potencialmente em todos nós. As sementes da cura, também.
O
"caso Eichmann".
Otto
Adolf Eichmann foi um tenente-coronel Polícia Militar da Alemanha Nazista, e um
dos principais organizadores do Holocausto. Gerenciou a logística das
deportações em massa dos judeus para os guetos e campos de extermínio das zonas
ocupadas pelos alemães. Em 1960, foi capturado na Argentina pela Mossad, o
serviço secreto de Israel. Uma vez em Israel, foi submetido um longo julgamento
por crimes de guerra, crimes contra a humanidade e contra o povo judeu, tendo
sido condenado à morte.
Hannah
Arendt, acompanhou todo o processo, entrevistou diversas vezes o prisioneiro em
reportagens para “The New Yorker”. Em seu livro “Eichmann em Jerusalém”
descreveu Eichman como representante da "banalidade do mal".
De
todos os modos, o caso deste comandante nazista constituiu um dos estudos mais
abrangentes sobre a personalidade de um genocida. Vejamos suas mais importante
conclusões:
1.
Eichmann carecia inteiramente do senso de ser.
2.
Ele ficava perturbado com temas emocionais de agressão.
3.
O que lhe importava era reduzir toda a vida à ordem, ao não movimento, à não
emoção, de modo a que toda a vida pudesse ser controlada.
Conclusão
psiquiátrica: perfeito estado de sanidade mental. Era um funcionário calmo,
“bem equilibrado”, imperturbável, desincumbindo-se perfeitamente de seu
trabalho burocrático, ou seja, a supervisão administrativa dos assassinatos em
massa. Sentia profundo respeito pelo sistema, pela lei e pela ordem,
funcionário fiel de um grande Estado. Não possuía remorsos, era “mentalmente
são”e bem adaptado.
4.
Seus chefes poderiam ser até mesmo psicóticos. Mas quem confiaria um serviço de
inteligência a um psicótico? Os psicóticos são suspeitos; já os mentalmente
sãos, são pessoas bem adequadas, cumpridoras das regras, lógica, que estarão
obedecendo a ordens que consideram sensatas, que lhes chegaram através da
cadeia de comando. E devido a sua sanidade mental não terão remorsos depois das
ordens cumpridas.
5.
O foco real na vida de um destruidor talvez não seja a destruição como tal, mas
a imposição da ordem e a uniformidade em tudo.
6.
A coisificação do outro que o transforma em escravo, com agressão e exploração
cada vez maior da vítima.
Existem
muitos genocidas impelidos por emoções, outros por ambição desmedida, loucos
pelo poder. Alguns até mereceriam o rótulo de paranoicos ou psicopatas. Estes
desempenharam um papel decisivo no núcleo do poder nazista.
Mas
sem o apoio de líderes “normais e respeitáveis” da sociedade, sem uma grande
adesão em massa do povo e sem certas tendências culturais, dificilmente a
catástrofe nazista teria assumido sua magnitude.
Muitas
lideranças nazistas foram submetidas ao julgamento de crimes de guerra e contra
a humanidade no que se denominou Julgamentos de Nuremberg. Conclusões do doutor
Kelley sobre estes prisioneiros: “Os líderes nazistas não eram tipos sem igual,
nem personalidades que aparecem uma vez por século. Eles tiveram três notáveis
características em comum e a oportunidade de tomar o poder: ambição arrogante,
baixos padrões éticos e um nacionalismo fortemente desenvolvido, que
justificava tudo que fosse feito pela pátria alemã”.
Apenas
como para confirmar esta assertiva, transcreveremos as últimas palavras do
genocida Eichman, "a banalização do mal", antes de sua execução:
“Viva
a Alemanha. Viva a Argentina. Viva a Áustria. Estes são os três países com os
quais tive mais ligações e os quais não esquecerei. Agradeço à minha mulher, à
minha família e aos meus amigos. Estou pronto. Voltaremos a encontrar-nos em
breve, tal é o destino de todos os homens. Morro acreditando em Deus”.
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