Rosângela
Wolff Moro, mulher do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro,
disse não ver separação entre seu marido e Bolsonaro. "Sou pró-governo
federal. Eu não vejo o Bolsonaro, o Sergio Moro. Eu vejo o Sergio Moro no
governo do presidente Jair Bolsonaro, eu vejo uma coisa só".
Essa
declaração foi dada em entrevista publicada no jornal O Estado de S. Paulo em
fevereiro deste ano. Quem somos nós para discordar...
Cada
movimento e cada palavra do "marreco de Maringá" são pensados para
convencer os incautos que ele é "o cara", mas, infelizmente, apenas o
tempo para revelar quem é Sergio Fernando Moro e a que veio, espero que não
seja tarde demais.
Fato
é que Moro corrompeu e manipulou a Constituição, a lei e a opinião pública,
tudo em nome de um projeto pessoal de poder e a serviço de interesses que serão
revelados com o tempo.
Moro
traiu a magistratura, prevaricou à frente do Ministério da Justiça (quando
retardou e deixou de praticar, tempestivamente, ato de ofício, qual seja:
denunciar a pressão do presidente sobre a Polícia Federal) e apenas denunciou
Bolsonaro para satisfazer interesse ou sentimento pessoal, e mais: traiu a
confiança daquele que o nomeou ministro, tudo em nome de seu projeto pessoal,
tudo minuciosamente planejado.
Mas
vamos ao fato principal: Moro pediu demissão apenas porque avaliou que
Bolsonaro passou a atrapalhar seus objetivos, e com esse movimento abriu uma
crise que derrubou a bolsa, fez explodir o dólar e pode afastar Bolsonaro. Mas
isso não importa a Moro, o compromisso dele não é com o Brasil.
Pediu
demissão e na mesma cena lançou-se candidato à presidência da República, com
slogan e tudo.
Para
quem pensa que Sergio Fernando Moro é "boa gente" sugiro que observem
que ele tem até o slogan da pré-campanha: "Faça a coisa certa, pelos
motivos certos e do jeito certo", presumivelmente, com dinheiro público. O
fato de Moro estar utilizando na sua conta do Twitter o slogan acima pode
caracterizar utilização de dinheiro público para fins pessoais e faz sua conduta
amoldar-se ao que prevê o artigo 9º, incisos IV, VI e XII da Lei de Improbidade
Administrativa, pois, de uma forma ou de outra, esta se beneficiando.
Em
2017 perguntei num artigo se seria "Moro o contínuo do Império" [1],
mas a verdade é que Moro não é apenas um contínuo, é o representante de
interesses a serem revelados, mas não são interesses nacionais.
Um
registro: nunca firmei oposição às operações, tão necessárias, das policias,
especialmente as da Policia Federal, mas a reflexão sempre foi compreender os
porquês de tudo o que ocorria e a forma, suas verdadeiras causas e as
consequências imediatas e mediatas.
A
nossa obrigação é apoiar toda ação de natureza republicana e que represente um
passo adiante na construção permanente de nossa nação, mas segundo o nosso
próprio figurino e para atender aos interesses nacionais. Ocorre que Moro e os
Golden Boys do MPF professaram certezas de além-mar, como se o Brasil fosse uma
colônia do império estadunidense e, com apoio da mídia corporativa, impediram
que grande parte da população mantivesse um olhar crítico sobre os fatos que
ocorreram a partir de 2013, colocando o bem comum, a justiça social e o
desenvolvimento humano e econômico num segundo plano.
Moro
declarou que não ficou rico, então pergunto: quem pagará as suas contas? Talvez
encontremos respostas no livro Quem pagou a conta?, da historiadora britânica
Frances Stonor Saunders.
No
livro ela apresenta a tese de que a instrumentalização da "cultura"
foi um dos mecanismos de dominação e força dos Estados Unidos em relação a
artistas e intelectuais de todo o mundo durante a Guerra Fria. Fundações e o
Departamento de Estado dos EUA financiavam todos que se incumbissem de
trabalhar como multiplicadores da visão liberal do império.
Sabemos
que a dominação ainda ocorre e de outras formas, como o controle dos meios de
comunicação, das artes e da cultura que influenciam e dominam, virtualmente,
quase todos os povos, sobretudo no Ocidente, etc. Penso que Moro, Janot e os
procuradores da Lava Jato podem ter sido domesticados e dominados pelo american
way of life, todos eles, pelo que li, estudaram em universidades americanas e
frequentemente estão por lá.
O
intelectual Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira, em entrevista recente,
citando o historiador John Coatsworth, disse que entre 1898 e 1994 os Estados
Unidos patrocinaram, na América Latina, 41 casos de successful golpes de Estado
para mudança de regime, "o que equivale à derrubada de um governo a cada
28 meses, em um século", uma prova inexorável de que no país dos bravos
não há amor pela democracia.
Depois
de 1994, outros métodos, que não militares, foram usados para destituir os
governos de Honduras (2009), Paraguai (2012) e Brasil (2016).
Nesse
contexto entra em cena a figura obscura do juiz de primeira instância Sérgio
Moro, condutor do processo contra a Petrobras e contra as grandes construtoras
nacionais.
Sergio
Moro, servil e dócil aos interesses estadunidenses, preparou-se para as missões
a ele confiadas desde 2007, nos cursos promovidos pelo Departamento de Estado
dos EUA; seguiu em 2008, quando participou de um programa especial de
treinamento na Escola de Direito de Harvard e, em outubro de 2009, participou
ainda da conferência regional sobre Illicit Financial Crimes, promovida no Rio
de Janeiro pela Embaixada dos Estados Unidos.
Sabe-se
que a Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA), que monitorou as
comunicações da Petrobras, descobriu a ocorrência de irregularidades e
corrupção de alguns militantes do PT, e especula-se ter fornecido os dados
sobre o doleiro Alberto Yousseff ao juiz Sérgio Moro, já treinado em ação
multijurisdicional e práticas de investigação, inclusive com demonstrações
reais (como preparar testemunhas para delatar terceiros).
Mas
e os serviços prestados pela Lava Jato e Moro? Como exemplo dos
"serviços" prestados por Moro pode ser citada a perda de R$ 140
bilhões no PIB nacional, só em 2015, e a destruição das grandes empreiteiras
nacionais, quem explica bem tudo isso é Moniz Bandeira, a quem rendo minhas
homenagens com esse artigo.
Hoje
temos Moro pré-candidato à presidência da República.
A
história é serva da verdade e esta, prima-irmã da justiça, por isso com o tempo,
eterno aliado da verdade, haverão de emergir fatos sem véus e sem paixões.
[1]
https://www.brasil247.com/blog/moro-o-continuo-do-imperio
Pedro Benedito
Maciel Neto é advogado, sócio da Maciel Neto Advocacia e autor de Reflexões
sobre o estudo do Direito.
Revista
Consultor Jurídico
https://www.conjur.com.br/2020-mai-03/maciel-neto-moro-corrompeu-constituicao-projeto-pessoal

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