No dia 1º de janeiro de 1959, colunas do Exército Rebelde
comandadas pelos guerrilheiros Ernesto Che Guevara e Camilo Cienfuegos invadem
Havana. Dezenas de milhares de cubanos espalhados pelas ruas recebem
entusiasticamente os jovens combatentes. Estava derrocada a sangrenta ditadura
de Fulgêncio Batista e fracassava a tentativa de golpe de Estado cujo propósito
era escamotear a vitória do Exército Rebelde.
Uma série de acontecimentos transcendentais para Cuba
ocorre nesse dia e nos dias seguintes. Em 8 de janeiro chega a Havana a
Caravana da Vitória com o jovem comandante guerrilheiro Fidel Castro à frente,
depois de percorrer a Ilha de leste a oeste, comemorando com as populações
locais o triunfo revolucionário.
Duas horas antes da meia-noite de 31 de dezembro de 1958,
Batista chamou por telefone o comandante da guarnição de Santa Clara para saber
dos acontecimentos no front militar. Recebe, alarmado, a informação que Che
Guevara era senhor da situação e que havia esmagado o que restava das tropas
governamentais. Logo depois, no transcurso mesmo da ceia de fim de ano,
acelerou sua fuga do país.
Na madrugada de 1º de janeiro, escapa em direção à
República Dominicana num avião que decola do aeroporto militar de Columbia,
localizado na capital do país, sob a proteção da embaixada dos Estados Unidos.
Leva também a frustrada fórmula que havia recebido dos funcionários
norte-americanos de passar o poder a uma suposta junta militar encabeçada pelo
general Eulogio Cantillo. Centenas de membros da polícia política e muitas das
principais figuras do regime de Batista escaparam em outros aviões rumo aos
Estados Unidos.
A fuga do ditador ocorre nos momentos em que as tropas
rebeldes já ocupavam numerosos povoados perto da capital e tinham dominada toda
a área central do país. Era iminente o ataque a Santiago de Cuba, a segunda em
importância do país.
A notícia da fuga e da tentativa de se instaurar uma junta
militar chegou a uma emissora de Havana e logo depois o Quartel General
Rebelde, instalado perto de Contramaestre, Oriente dela tomava conhecimento.
Fidel Castro reagiu de pronto convocando pela Rádio Rebelde o povo para impedir
o golpe. Denunciou a traição do general Cantillo, que descumpriu o recente
acordo com os rebeldes de sublevar a guarnição santiagueira e, pelo contrário,
se prestou a apoiar a manobra golpista.
Fidel Castro dirigiu-se a Palma Soriano e por meio da
Radio Rebelde conclamou à greve geral revolucionária. Dispôs suas colunas e
grupos guerrilheiros com o fim de tomar os povoados e cidades de todas as
províncias com a “cooperação do povo e chefes militares honrados do exército
inimigo”.
Simultaneamente, ordenou que o comandante Camilo
Cienfuegos, com sua coluna invasora número Dois, avançasse imediatamente sobre
a cidade de Havana para tomar de assalto e render o Comando Militar de
Colúmbia, o principal do país. Determinou que o comandante Ernesto Che Guevara,
que já tinha sob controle a estratégica província de Santa Clara, também
rumasse prontamente para a capital e assumisse a chefia do Acampamento Militar
de La Cabaña e no trajeto ocupasse a guarnição militar de Matanzas.
Em sua alocução aos santiagueiros pediu que paralisassem
completamente a cidade a partir das 15h00 daquele 1º de janeiro, exclamando:
"A guarnição militar de Santiago de Cuba está cercada por nossas forças.
Se às 6h00 da tarde do dia de hoje – primeiro de janeiro de 1959 - não
depuserem as armas, nossas tropas avançarão sobre a cidade e tomarão de assalto
as posições inimigas".
"Santiago de Cuba: Os esbirros que assassinaram a
tantos de teus filhos não escaparão como escaparam Batista e os grandes
culpados em conluio com os oficiais que pretendiam dirigir o golpe arquitetado
ontem à noite".
"Querem proibir a entrada em Santiago de Cuba àqueles
que libertaram a Pátria. Porém, a
história de 1895 não se repetirá. Desta vez os ‘mambises’ [guerrilheiros
anti-espanhois que lutaram pela independência no século 19] entrarão em
Santiago de Cuba".
As forças batistianas depuseram as armas sem que novos
combates fossem travados e nessa noite a população local pôde celebrar o
triunfo junto aos rebeldes barbudos. A presença do povo nas ruas de todo o país
naquele primeiro de janeiro contribuiu enormemente para o triunfo da revolução.
Sabiam todos que estavam participando de um acontecimento único na história
contemporânea.
Se bem que até então o governo dos Estados Unidos vinha
prestando forte apoio político e militar ao regime, a deterioração da situação
fez com que se inclinasse pela substituição de Batista, como antes havia ocorrido
em 1933 com o tirano Gerardo Machado.
Em 10 de dezembro de 1958, o Departamento de Estado
comunicou a Earl E. Smith, seu embaixador em Havana, que Batista deveria ser
substituído por uma junta militar e que procurasse nomes para compô-la. A
decisão foi comunicado ao ditador caído em desgraça em 17 de dezembro.
A fuga das principais figuras do regime, prevista desde o
dia 20 de dezembro, dependia do desenrolar da guerra revolucionária nas
províncias do Oriente e de Lãs Villas, onde os rebeldes lançaram a ofensiva
final e obtiveram retumbantes vitórias.
O general não tinha como cumprir a incumbência que lhe
havia dado o embaixador Smith, de formar um governo e abortar o triunfo da
revolução. Ninguém mais poderia conter o ímpeto do exército rebelde de Fidel,
Che, Camilo e Raúl.
(*) Publicado originalmente em 01 de janeiro em 2010.
(*)Com base em texto da historiadora e jornalista cubana
Martha Denis Valle
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