O Supremo continua de cócoras. E amedrontado diante de
manifestações raivosas que incluem até o lançamento de pedras contra o seu
prédio-sede, além de ameaças e insultos nas redes sociais. O Supremo, na
verdade, no momento em que parece tentar restaurar sua credibilidade, buscando
reparar os abusos cometidos pela Lava-Jato, está sofrendo as consequências da
sua cumplicidade passada com a força- tarefa de Curitiba. Se, ao invés de
endossar os atos daquela operação, fazendo vista grossa para suas ilegalidades,
tivesse logo de inicio estancado sua atuação criminosa e ambição de poder,
conforme revelado pelo site The Intercept, certamente não estaria hoje vivendo
sob um clima de medo, criticado por gregos e troianos. Enquanto não recuperar
sua austeridade e o respeito do povo, com decisões realmente justas e sem
coloração política, a Corte Suprema será alvo de radicais que não hesitam,
inclusive, em pedir o seu fechamento, indiferentes à sua importância para a
sobrevivência da própria democracia. E não adianta adiar julgamentos que podem
anular atos da Lava- Jato, com medo das reações, ou manipular interpretações,
porque mais cedo ou mais tarde terá de enfrentar a realidade.
O que está acontecendo com o Supremo é o mesmo que ocorre
com a chamada grande imprensa que, com sua campanha sistemática contra Lula e o
PT e o seu apoio à Lava-Jato e ao golpe que destituiu a presidenta Dilma
Roussef, foi a grande responsável, junto com o Supremo, pela prisão do
ex-presidente petista e a eleição de Bolsonaro. Agora também sofre as
consequências da sua cumplicidade com os acontecimentos que culminaram com a
ascensão do capitão que, vingativo, não admite críticas e tenta asfixiar a
mídia tradicional cortando as verbas de publicidade do governo e pressionando
os anunciantes a fazerem o mesmo. Os efeitos já se fazem sentir com as
demissões nos grandes veículos. Bolsonaro, que aprendeu durante a campanha
eleitoral, com Donald Trump, que pode prescindir da imprensa substituindo-a
pelas redes sociais ( com o uso do whatsapp e robôs as informações que lhe
interessam, assim como as fakenews, chegam rapidamente ao povão), já declarou
guerra aos veículos que não o apoiam e fará tudo o que o poder lhe permite para
sufocá-los. A poderosa TV Globo, que perdeu patrocínios governamentais milionários,
volta e meia tenta agradá-lo, com notícias simpáticas ao seu governo, mas não
tem obtido êxito e já enfrenta dificuldades financeiras, com repercussão na sua
programação. E ao que tudo indica a Globo e demais veículos sob o fogo cerrado
do capitão terão, também, de assumir posição mais clara quanto ao atual
governo.
A Justiça, em especial o Supremo Tribunal Federal, precisa
urgentemente redimir-se dos erros que levaram o Brasil a esta situação
desastrosa, onde um governo sem programa, conduzido ao sabor dos acontecimentos
e submisso aos Estados Unidos, todo dia improvisa alguma coisa para manter-se
vivo mas completamente divorciado dos interesses do povo e da nação. Por isso,
virou um governo-sanfona, sempre obrigado a recuar no dia seguinte do que fez
na véspera. Não existe planejamento, gerando notícias com declarações absurdas
como a do ministro Paulo Guedes, de que vai buscar o último bilhão empregado em
favor dos mais necessitados. Parece que estão brincando de governo sem
importar-se com as consequências catastróficas para o país. O Presidente, que
não mede suas palavras e agride de maneira primitiva quem ousa lhe fazer
perguntas inconvenientes, estimula com sua violência verbal os seus seguidores
que, como verdadeiros trogloditas, fazem ameaças e as vezes até atacam
fisicamente. Ainda recentemente um cidadão de cabeça branca, aparentemente
maduro e equilibrado mas imbecilizado pelo discurso de ódio, saiu em defesa de
Bolsonaro ameaçando o ciclista que lhe perguntou pelo paradeiro de Queiroz. “Se
meu filho te pega te corta em cinco”, disse. Por que tanta violência a uma
simples pergunta?
Bolsonaro, a julgar por seu comportamento agressivo e
autoritário, parece estar completamente perdido, sem rumo, buscando blindar-se
contra os escândalos do seu governo. Além de atacar a imprensa que não lhe
presta apoio, inclusive com frases sem nenhum sentido, ele agora briga também
com o seu próprio partido, o PSL, talvez como estratégia para escapar da
acusação do seu envolvimento com o laranjal da legenda, que já provocou o
indiciamento do ministro do Turismo. Aparentemente ele pretenderia deixar tudo
nas costas do presidente do partido, Luciano Bivar, que na sua opinião já está
“queimado”. Muitos dos seus aliados, decepcionados com o seu comportamento, já
deixaram a legenda e se transformaram em seus adversários, o que evidencía a
falta de liderança e de lealdade do capitão. O líder do partido no Senado,
Major Olimpio, se declarou perplexo com as atitudes do Presidente. Não é
difícil concluir que se as investigações sobre o laranjal do PSL forem
realizadas com seriedade e imparcialidade, comprovando o uso de caixa dois na
última eleição, Bolsonaro pode ser expelido do Planalto pelo mesmo partido que
o colocou lá. Afinal, caixa dois é crime e, como costumava dizer o ex-juiz
Sergio Moro quando se referia a Lula: “Ninguém está acima da lei”. Tanto quanto
Bolsonaro, Moro também tenta se blindar usando a estrutura do cargo que ocupa
no Ministério da Justiça, que lhe permite o controle da Policia Federal.
O ex-juiz, na verdade, sabe que terá, mais cedo ou mais
tarde, de prestar contas à Justiça pelos crimes que praticou à frente da
Lava-Jato, inclusive pelos grandes males causados ao país, conforme revelou o
site The Intercept ao divulgar os diálogos secretos dos integrantes daquela
operação de Curitiba. Na Câmara dos Deputados já existe um documento com
assinaturas suficientes para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito
destinada a investigar a Lava-Jato, mas além do esforço da base do governo para
impedir o seu funcionamento também o presidente da Casa, deputado Rodrigo Maia,
vem se recusando a promover a sua instalação com desculpas esfarrapadas. Maia, que está sempre
do lado do poder (impediu o impeachment de Temer e comandou a rejeição à
autorização para sua investigação), parece interessado em blindar Moro. Por
que? Teria o rabo preso com ele? Ou teme que a CPI possa descobrir alguma coisa
que o incrimine. O que diz o Regimento da Câmara? Maia não é o dono do
Parlamento para fazer o que bem entende, pois de outro modo melhor seria
dispensar os 500 deputados, anular o colegiado, e deixa-lo decidir sozinho
sobre tudo o que estiver na alçada do Legislativo. Afinal, do que é que ele tem
medo? E por que será que o Supremo também não toma nenhuma atitude em relação a
Moro e à força-tarefa de Curitiba depois de tudo o que foi revelado?
No chamado “mensalão” o ex-ministro José Dirceu foi
condenado e preso com base apenas na Teoria do Dominio do Fato, ou seja, em
noticias de jornais e revistas, porque não encontraram nenhuma prova contra
ele. Na ocasião ficou famoso o voto da ministra Rosa Weber, do STF, que
reconheceu a inexistência de provas contra Dirceu mas o condenou “porque a
literatura jurídica lhe permitia”. Por conta disso chegou a ser chamada de
“leviana” pelo filósofo Leonardo Boff. Lula também foi condenado sem provas,
baseada numa delação sob medida de Leo Pinheiro, da OAS, alterada por ele mesmo
diversas vezes para atender aos objetivos do pessoal da Lava- Jato. Contra
Aécio Neves havia provas em abundância, como imagens, áudios e malas de
dinheiro, mas ele continua solto até hoje. Contra Moro e Deltan Dallagnol os
jornais e revistas parceiros do site The Intercept já publicaram uma montanha
de notícias sobre os crimes praticados nas atividades daquela operação, mas até
hoje nada mudou e não surgiu nenhum sinal de que a Justiça ou o Ministério
Público pretendam investiga-los e puni-los. E eles continuam impunes, inclusive
dando palestras, como se fossem cidadãos acima de qualquer suspeita. Quer dizer,
a Justiça que vale para petistas não é a mesma para os outros. Alguma dúvida
sobre dois pesos e duas medidas? Por oportuno, vale lembrar que nada é eterno
e, portanto, mais cedo ou mais tarde todos terão de deixar os cargos que ocupam
e prestar contas dos seus atos. E pelo andar da carruagem parece que isso não
está muito distante.
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