Entre
os 210 milhões de brasileiros, menos de 1% da população concentra uma riqueza
igual aos de mais de 50% que vivem do outro lado da margem da sociedade. No entanto,
a onda conservadora que levou ao poder Jair Bolsonaro revela que há um fosso
ainda maior no país: de consciência.
Da
empatia, que é a capacidade de abandonar o próprio umbigo e se colocar no lugar
do outro, daquele que vive marginalizado nas florestas, nos sertões, nas
favelas.
A
incapacidade desses 1% e de boa parte da classe média de ser solidário - e não
praticar simplesmente uma caridade assistencialista para afagar o ego - gera
"desabafos" como o do procurador do Ministério Público de Minas Gerais,
Leonardo Azeredo dos Santos, que declarou a seus pares estar "vivendo à
base de antidepressivo" por ter de se contentar em gastar R$ 8 mil em vez
de R$ 20 mil no cartão de créditoem razão do "miserê" recebido como
salário, de R$ 24 mil por mês.
Um
discurso calhorda, desprezível, em um país onde mais de 12 milhões de pessoas
estão desempregadas e outros 42 mihões vivem de bicos. Onde mais da metade da
população vive com R$ 1,2 mil - em torno de 5% do que ganha o procurador.
Essa
letargia social se aprofunda nos discursos que medem negros por arrobas, que
comemoram assassinatos de pobres pela polícia, que ironizam acidentes que
deixaram marcas físicas para se fazer perseguição política travestida de
processo judicial.
Infelizmente,
o escárnio propalado por LEONARDO AZEREDO DOS SANTOS (assim mesmo, em letras
garrafais) não é solitário. É solidarizado por muitos de seus pares no
Ministério Público Federal, no Judiciário, nos Executivos, Legislativos e na
alta grã-finagem.
Um
escárnio que revolta, que indigna e que aumenta o fosso da desigualdade social
pela simples incapacidade que pouquíssimos têm de se colocar no lugar onde vive
a maioria.
Por Plínio Teodoro
Editor de política
da Revista Fórum
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