"O
que vimos no ano passado foi uma eleição fraudada, viciada, montada em todas as
peças para ter o resultado que teve. Não há razão alguma para respeitá-la...
Não há eleição real quando se escolhe quem pode e quem não pode
concorrer", diz Vladimir Safatle
Em
artigo publica no El País, o filósofo Vladimir Safatle afirma que, diante das
revelações pelo The Intercept com a Vaza Jato, fica claro que "não houve
eleição e não há presidente.
"O
que vimos foi simplesmente um processo sem condição alguma de preencher
critérios básicos de legitimidade. Ou seja, uma farsa, mesmo para os padrões
elásticos da democracia liberal", enfatiza Safatle.
"O
que vimos no ano passado foi uma eleição fraudada, viciada, montada em todas as
peças para ter o resultado que teve. Não há razão alguma para respeitá-la. Uma
eleição real pede partidos livres, possibilidade de todos se candidatarem e não
interferência de poderes extra-eleitorais nos processos em curso. Não há
eleição real quando se escolhe quem pode e quem não pode concorrer",
afirma
Para
ele, o Brasil segue sem presidente. "Quem está no poder sabe tanto disto
que sequer finge governar para a maioria do povo brasileiro. O sr. Bolsonaro
governa para os porões da caserna de onde saiu, além de governar para
consolidar a mobilização dos 30% da população brasileira que seguirão lhe
apoiando. Ele sabe que este é seu teto".
Sobre
a Vaza Jato, Safatle afirma que a descrição correta das mensagens trocadas pelo
então juiz Sergio Moro com o procurador Deltan Dallagnol "só pode ser uma
rede de corrupção".
"O
sr. Moro e seus asseclas utilizaram dinheiro público como se fosse privado (no
caso do pedido do sr. Dallagnol para uso de 38.000 reais da 13ª Vara para o
pagamento de campanha publicitária), aproveitaram-se financeiramente da
condição de servidores públicos com informações privilegiadas (ao, em meio a
processo envolvendo alguns dos maiores agentes econômicos nacionais, serem
pagos em palestras milionárias), tentaram tomar para si a gestão de 2,5 bilhões
de reais da Petrobras por meio da criação de uma fundação privada: tudo em nome
ao combate à corrupção", lembra.
O
filósofo também rebateu o discurso de apoiadores de Moro, que dizem que era
necessário “quebrar as regras” para conseguir enfim combater o pior de todos os
males: a corrupção.
"Na
verdade, o sr. Moro quebrou todas as regras possíveis para benefício próprio,
ou seja, para prender o candidato à Presidência que impedia seu próprio projeto
pessoal de se tornar presidente em 2022. Ninguém que tem interesse pessoal em
um processo pode ser o juiz do mesmo. Mas como ninguém parou o sr. Moro, ele
pode ser agora catapultado para o centro da política brasileira pelas mãos de
um político que ele, mais do que ninguém, elegeu ao tirar o primeiro colocado
de circulação, ao alimentar o noticiário com notícias construídas tendo em
vista o calendário eleitoral", frisou.
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