Se ainda existiam dúvidas de que o processo que levou o
ex-presidente Lula à prisão não passou de uma farsa jurídica com objetivos
persecutórios, a reportagem da série Vaza Jato publicada nesta terça-feira (27)
faz todas elas caírem por terra.
Mais do que mostrar o conluio estabelecido entre o ex-juiz
Sérgio Moro e procuradores da Lava Jato que, conforme apontaram outras
reportagens, agiram à margem da lei para construir uma condenação para o
petista, as novas revelações escancaram que membros do Ministério Público
Federal atuavam não só com motivação política e ideológica, mas com a força do
ódio.
Quando em janeiro deste ano a Justiça não autorizou Lula a
ir no velório de seu irmão, o Vavá, a falta de humanidade do judiciário
brasileiro no trato com o ex-presidente já ficou evidente. Os diálogos privados
que agora vieram à tona, no entanto, nos mostram um caráter macabro daqueles
que eram alçados como heróis nacionais. Aqui, no entanto, vemos que o mundo
está invertido e nossos heróis são aqueles que brincam com a morte e sentem
prazer no sofrimento alheio.
“Agora sabemos que a Lava Jato não abriga apenas gente
antirrepublicana, corrupta (dedicada ao enriquecimento privado ilegal) e capaz
de urdir um complô contra a soberania nacional (as eleições livres e limpas):
agora sabemos que ela abriga também PSICOPATAS”. Assim o ex-deputado federal
Jean Wyllys, auto-exilado do Brasil por não ter a proteção necessária da
Justiça brasileira contra as ameaças que sofre, reagiu aos diálogos entre
procuradores ironizando as mortes de parentes próximos de Lula.
Preso há mais de 500 dias, Lula perdeu a liberdade, mas
também perdeu a esposa, Marisa Letícia, que faleceu logo após ver seu nome
citado na trama persecutória da Lava Jato. Trancafiado, o ex-presidente se
manteve altivo diante da perda do irmão e do neto. Ele não precisava se
humanizar, como sugeriu, em uma das conversas, o procurador Roberson Pozzobon.
Lula é e sempre foi humano. Quem perdeu a humanidade foram aqueles que o
condenaram.
“O pior e mais fiel retrato do que se tornou a Lava Jato
foi revelado hoje. Um conluio político alimentado por muito ódio, desrespeito,
boçalidade, falta de humanidade. Dá nojo e faz pensar sobre os procuradores:
‘que tipo de gente é essa? ”, questionou o deputado federal Márcio Jerry
(PCdoB-MA), um entre os inúmeros parlamentares que comentaram, com indignação,
as novas revelações.
Se por um lado, no entanto, a publicização das conversas
entre procuradores assusta pelo caráter, ela cria uma oportunidade para que,
diante do absurdo, as instâncias superiores da Justiça corrijam os erros e
reparem, ainda que minimamente, toda a desumanidade a que Lula foi submetido.
O Supremo Tribunal Federal (STF) tem dois recursos da
defesa do ex-presidente para julgar: um que pede a suspeição do ex-juiz Sérgio
Moro e outro que pede a suspeição dos procuradores envolvidos em seu processo.
Na semana passada, o ministro Gilmar Mendes demonstrou que pode haver uma
mudança de cenário. “A gente tem que reconhecer que devemos ao Lula um
julgamento justo”, disse em entrevista.
Cabe também ao Conselho Nacional do Ministério Público
(CNMP) demonstrar que é uma instituição séria e tomar as rédeas da Lava Jato
como uma operação séria, tomando as medidas cabíveis e punindo aqueles que
agiram com falta de ética e à margem da lei.
Em tempo, Lula segue, apesar de estar há mais de um ano na
prisão, sendo um dos principais focos da imprensa e seu nome, não só continua
na boca do povo como sua imagem, há pouco desgastada para alguns, passa a
trazer, diante do desastre que é o governo Bolsonaro, um sentimento de
saudosismo.
Pesquisa Vox Populi divulgada nesta terça-feira (27)
aponta que 53% da população defende novo julgamento para o ex-presidente e 48%
quer que a condenação do petista seja anulada.
Em oitiva na justiça federal de Curitiba, antes de ser
preso, Lula disse a Moro que o então juiz estava “condenado” a o condenar. E
assim o fez. Hoje sabemos que o ex-metalúrgico, apesar de preso, está condenado
a ser livre. Preso estão aqueles que perderam a própria humanidade. Eles estão
presos ao ódio.
Por Ivan Longo
Editor de política da
Revista Fórum

Nenhum comentário:
Postar um comentário