Do
falso segue-se qualquer coisa. Eis a bem conhecida “Lex Clavius” da lógica
silogística. Quando qualquer das premissas é falsa, a conclusão poderá ser
tanto falsa, quanto verdadeira. Cria-se, assim, o raciocínio indecisível. A
caraminhola sem sentido, ainda que por raciocínio legítimo. Por exemplo, “todo
chinês fala francês e Macron é chinês, logo, Macron fala francês.” Aqui, claramente
temos duas premissas falsas levando a uma conclusão verdadeira. Mas em “todo
francês fala chinês e Macron é francês, logo, Macron fala chinês” já temos uma
premissa falsa e outra verdadeira levando a uma conclusão falsa.
Com
premissas falsas, o governo Bolsonaro deixa o país à deriva. Podem-se, até, por
vez ou outra, extrair conclusões corretas na ação política, mas elas não
desfazem os vícios dos fundamentos sobre as quais são erigidas. Tome-se, por
exemplo, a decisão de negar ação militar contra a Venezuela, como seria ao
gosto dos idiotas trumpistas que governam os EUA. Mesmo correta, trata-se,
muito mais, de postura realista diante das debilidades de nossas forças
armadas, do que de uma construção estratégica sólida. Não tenhamos dúvida de
que, se tivessem condições de armamento e preparo, nossas fardas se meteriam na
aventura da agressão. As premissas falsas são precisamente a avaliação da
“ilegitimidade” do governo eleito de Maduro e a de que atender o interesse
norte-americano na região beneficiaria o Brasil. Essas parvoíces continuam
intactas, independentemente de a política externa ser conduzida pelo general
Mourão ou pelo Ernesto-Terraplanista.
O
estoque de besteirol do governo Bolsonaro está longe de se esgotar e não
faremos bem, as brasileiras e os brasileiros com discernimento, se, a cada
nesga de aparente racionalidade no meio do turbilhão das caraminholas
fascistas, nos iludirmos com a possibilidade de acerto desse ou daquele ator
bolsominion ou filobolsonarista. Achar que uma substituição de Bolsonaro por
Mourão melhora as coisas, por este exibir um discurso menos sopinha-de-letras
que o chefe e seu entourage, é uma quimera perigosa. As premissas da ação do
general são as mesmas do capitão precocemente aposentado. São falsas e
artificiais. Ambos foram eleitos pelo mesmo estratagema do ódio à política e da
mentira deslavada. O general, tal qual o marechal Hindenburg, serviu para
legitimar o Jair Messias, nosso cabo Adolf Hitler.
Posto
isso, cabe-nos, sem ilusões e “wishfulthinkings”, traçar o caminho pelo qual
sairemos do imbróglio em que a democracia se meteu, ao ceder às forças
reacionárias do patrimonialismo multicentenário, para garantir a
governabilidade. Nossas premissas têm que ser verdadeiras. Sua construção passa
pela cesura necessária no tecido político para dissecar não só as alianças com
o atraso, mas, também, o ódio político.
As
demonstrações de solidariedade na dor com o Presidente Lula são um bom
indicativo para a saída da crise. Desqualificaram-se os atores que apostaram em
novas injeções de ódio. Lula foi ao velório de seu neto e saiu maior. Foi
soberano. Os apoios sinceros que recebeu colocaram a nu a campanha judicial
mentirosa que o encarcerou. A tranquilidade das manifestações de afeto ao seu
redor mostraram civilidade e respeito à legalidade democrática, diferentemente
do teatro armado pelo ministério de Sérgio Moro, que escalou um ativo militante
bolsonarista para fazer a escolta do Presidente Lula. Perdeu o governo fascista
e ficou ridículo, pois, em momento nenhum, se justificou o tamanho do aparato
repressivo montado em torno do pacífico líder conduzido num momento tão
trágico.
É
chegada a hora de nos mobilizarmos pela soltura de Lula, o único personagem
nacional com capacidade de fazer frente ao besteirol institucionalizado pela
mentira e pelo ódio. Temos que mostrar, através de ação concreta junto ao STF,
com a liderança da OAB, o apoio de juristas de peso, no Brasil todo, ao
desfazimento da injustiça que vitimou Lula. Restabelecendo-se a verdade sobre a
mesquinhez do golpe judiciário do então juizinho e hoje ministrinho Sérgio
Moro, decompõem-se as premissas falsas que colocaram o bolsonarismo no poder e
nos fará ver luz no fim do túnel para recolocar a democratização do país no seu
caminho certo.

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