A
autoproclamação de Juan Guaidó como presidente insulta a Constituição
venezuelana e despreza o senso do ridículo.
Não
fosse apenas outra tentativa de golpe de Estado numa Venezuela continuamente
agredida pelos EUA, o gesto seria considerado como puro delírio da
extrema-direita oposicionista.
Não
existe previsão, na Constituição venezuelana, de mecanismo pelo qual, de
repente, um indivíduo tresloucado desperta na manhã do dia que se celebra o 61º
aniversário do fim da última ditadura do país [23/1] e se autoproclama ditador.
Este
ato tem o mesmo valor de 1 cédula de 3 dólares; ou seja, é totalmente nulo,
insubsistente, bizarro. O autoproclamado ditador sem quartel não tem poder
sequer para dar ordens ao porteiro da sala de cinema, quanto menos ao guarda da
esquina.
Apesar
disso, todavia, Trump instantaneamente reconheceu a presidência fantasma de
Juan Guaidó. Na sequência da trama armada, os governos submissos dos países do
Grupo de Lima [exceto México], o governo do Brasil e de outros países satélites
dos EUA seguiram Trump no intento de rapidamente legitimarem o títere golpista.
A manobra, porém, fracassou.
O
governo Nicolás Maduro impôs dupla derrota aos EUA e aos governos e agentes que
atuam como cônsules norte-americanos. Primeiro, na OEA, em 24/1, e, depois, no
Conselho de Segurança da ONU, em 27/1. O fantasma inventado por Trump, o
“presidente encarregado” da Venezuela, não foi reconhecido pela comunidade
internacional.
Maduro
recebeu apoio da maioria dos países, incluindo China e Rússia, que o reconhecem
como o presidente constitucional da Venezuela.
O
ultimato dos governos da Alemanha, Espanha e França para que Maduro anuncie no
prazo de 8 dias o calendário de nova eleição, foi desdenhado pelo chanceler
venezuelano Jorge Arreaza como sendo uma “ingerência infantil”, descabida.
Em
corajoso e contundente discurso no Conselho de Segurança da ONU, Arreaza
defendeu a soberania da Venezuela, evocou o princípio da autodeterminação dos
povos e não-ingerência em assuntos internos, e denunciou o passo-a-passo da
conspiração, detalhando a viagem clandestina de Guaidó à Bogotá, Brasília e
Washington para planejar e coordenar o golpe desde o exterior.
Arreaza
avisou a comunidade internacional que “As forças armadas nacionais bolivarianas
defendem com sua vida esta Constituição”, e que o governo Maduro fará de tudo
para impedir que os EUA consigam gerar uma guerra civil na Venezuela, Nação
“irrevogavelmente livre”.
A
oligarquia venezuelana, organicamente associada ao establishment estadunidense,
combate sem tréguas o chavismo desde o primeiro mandato de Hugo Chávez,
iniciado em 1999.
Com
apoio político, financeiro e militar dos EUA, esta oligarquia promoveu várias
tentativas de golpe, sempre de modo combinado com uma estratégia contínua de
guerra econômica, locaute e sabotagem; caos, polarização e desestabilização
política; violência, conflito social e bandidismo de sicários.
Obediente
às ordens mandadas desde Washington, a elite venezuelana recusa-se a dialogar
com o governo, chegando a abandonar negociações mediadas pela comunidade
internacional.
Os
EUA já tentaram, e falharam, em muitas tentativas de golpes – tradicionais ou
modernos – para derrubar os governos chavistas. Eles aprenderam, nesse tempo
todo, que não terão êxito em nova tentativa de golpe, e, por isso, adotaram
tática distinta; evitando, por ora, a hipótese de intervenção militar
estrangeira, o que os colocaria em confronto direto com forças russas.
Apostam,
agora, numa situação de dualidade de poder para dividir as Forças Armadas, um
dos pilares do regime cívico-militar bolivariano, para levar o país a uma
situação de guerra civil.
O
ataque para golpear Maduro não visa simplesmente instalar um novo governo, mas
sim promover uma mudança de regime, mesmo que às custas da devastação do país.
O
objetivo continua o mesmo: retroceder a Venezuela, país detentor da 3ª maior
reserva de petróleo do mundo, à condição de subúrbio petroleiro da metrópole
imperial. E, como efeito colateral, debilitar um dos principais fatores, ao
lado de Cuba, da resistência e oposição frontal às políticas imperiais na
região.
O
respeito à soberania da Venezuela como nação independente e soberana é um
imperativo para a manutenção da paz na América Latina, porque a agressão à
soberania venezuelana tem potencial de criar uma Síria no hemisfério.
A
Venezuela tem o direito soberano de solucionar seus conflitos domésticos com
base no diálogo com a oposição, no marco da Constituição Bolivariana. Os EUA,
com sua política intervencionista, implodem essa possibilidade, e ameaçam a
estabilidade, a segurança e a paz no continente e no mundo.
A
defesa do direito à soberania venezuelana, na conjuntura atual, se converte na
luta pelo respeito ao Estado de Direito e em defesa da paz no continente.
É
uma luta contra a guerra, contra a ingerência estrangeira nos nossos países e
em defesa da autodeterminação dos povos.
É,
enfim, a luta da civilização contra a barbárie e contra a insanidade promovida
pela extrema-direita e pelo fascismo nas Américas e no mundo afora.
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