Por
aqui, já não se consegue atravessar um dia sem que o tema da reforma da
Previdência seja lembrado como tábua de salvação para a nossa economia. Depois
de esfolarem a CLT e travarem os gastos sociais, o mantra da vez dos donos do
dinheiro é dizer que sem mexer na Previdência não se conseguirá restabelecer a
sacrossanta “confiança do mercado”.
Pois
bem, à parte o fato de que não parece nada sensato confiar no “mercado” brazuca
para qualquer assunto que diga respeito aos direitos sociais ou ao desenvolvimento
da nação, mundo afora a mania com a Previdência começa a ser seriamente
questionada por governos conservadores, em especial nos países que adotaram as
reformas de modo pioneiro e vão agora se dando conta do estrago que produziram.
Depois
da Polônia - comandada por um partido da direita ultraconservadora e
nacionalista - anunciar que pretende reduzir a idade mínima para a
aposentadoria em seu país e aumentar os impostos sobre os ricos, o
recém-formado governo italiano, conservador tanti quanti, não demonstra pudor
algum para enfrentar o mito do “colapso do sistema previdenciário”.
A
esdruxula coalizão que há sete meses governa o país (formada pela aliança entre
o Partido da Liga e o Movimento Cinco Estrelas) não apenas está propondo a
redução da idade mínima de 67 para 62, como também pretende instituir uma renda
básica da cidadania de 780 euros mensais (cerca de R$ 3,4 mil) a todo cidadão
italiano que não encontre no mercado condições de sustentar a si e a sua
família com um mínimo de dignidade. Além disso, a fim de aliviar o bolso da
grande maioria da população, o governo promete uma redução das despesas com
impostos para quem ganha até 65 mil euros por ano (aproximadamente 280 reais
mil anuais).
Para
dar conta do impacto fiscal das ousadas medidas redistributivas que pretende
adotar, a coalizão governista italiana propõe ainda aumentar as alíquotas dos
impostos pagos por bancos, seguradoras, loterias e cassinos (!!!!). Constatando
o óbvio fracasso da ortodoxia econômica e sua malfazeja austeridade fiscal,
buscam restaurar os instrumentos de solidariedade social, onerando mais os
lucrativos ramos das finanças e do rentismo.
Por
seu turno, de forma constrangedora, ao Partido Democrata Italiano (uma
moribunda sombra do outrora glorioso Partido Comunista Italiano) restou
protestar no parlamento sobre os riscos fiscais embutidos nas propostas do
governo de direita. Alinhados ao Banco Central Europeu e fiéis às bandeiras
neoliberais, os deputados do PDI parecem não perceber que a ousadia da direita
atual só foi possível graças à omissão social e econômica de seus patéticos
governos de “terceira via”.
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