Em
condições de normalidade democrática, as cerimônias de posse do novo presidente
são festas da democracia. Elas são a manifestação maior do principio da
soberania popular.
Contudo,
neste 1º de janeiro de 2019, a cerimônia de posse do candidato neofascista terá
um tom lúgubre.
Não
será, de forma alguma, uma comemoração da democracia.
Ao
contrário, será uma espécie de funeral das instituições democráticas e dos
direitos que as conformam.
Com
efeito, como comemorar democraticamente a posse de um candidato que manifestou,
inúmeras vezes, seu total desprezo pela democracia?
Como
alegrar-se com a chegada ao poder de forças claramente antidemocráticas, que
defendem a ditadura, a tortura e a eliminação dos adversários? Como festejar a
hegemonia de racistas, misóginos e homofóbicos?
Como
ter empatia com as forças obscurantistas que só pregam ódio e intolerância?
Mas
não se trata apenas da natureza neofascista e antidemocrática dos que chegam ao
poder. Trata-se também do processo que as levou ao poder.
Tal
processo foi antidemocrático.
De
fato, os neofascistas alcançaram o poder graças à destruição da normalidade
democrática no Brasil.
Primeiro,
criaram o ódio ao PT, à esquerda e à quimera do “marxismo cultural”, com
mitologias e falsidades variadas, como a de que o “PT havia quebrado o Brasil”,
tinha “instituído o maior esquema de corrupção da história”, havia distribuído
o “kit gay’ nas escolas e mamadeiras de pênis nas creches etc.
Depois,
aproveitando-se dos primeiros impactos da crise internacional no Brasil,
direcionaram esse ódio ao governo Dilma Rousseff.
Impediram-na
de governar, com as pautas bombas, para mais tarde dar um golpe contra a
presidenta honesta e a soberania popular, utilizando a invenção descarada do
“crime”, definido a posteriori, das "pedaladas fiscais”, feitas à larga
por governos anteriores.
Para
completar o trabalho autoritário, instituíam, com o prestimoso auxílio de um
judiciário grosseiramente partidarizado, uma lawfare destinada a criminalizar o
PT e prender sua principal liderança.
Essa
lawfare, já condenada até pela própria ONU, foi definitivamente confirmada com
a nomeação de Moro para superministro da repressão no governo Bolsonaro.
Nesse
processo, as forças retrógradas, que pretendiam reconquistar o poder na marra,
saíram às ruas junto com Bolsonaro, MBL e outros grupos protofascistas, que
pediam intervenção militar e condenavam a democracia e a política de um modo
geral.
Chocaram
o ovo da serpente que injetaria veneno mortal em nossas instituições
democráticas.
Em
sua obsessão irracional de tirar o PT do poder a qualquer custo, abriram a
caixa de Pandora do nosso fascismo tupiniquim, que agora floresce e os engole.
Na
sua sanha em derrubar a presidenta eleita, destruíram a democracia e jogaram na
lama o voto popular.
Em
sua tentativa de limar a credibilidade do PT, destruíram a legitimidade de todo
o sistema de representação política. De quebra, instituíram um Estado de
exceção seletivo, destinado a reprimir movimentos socais ou partidos políticos
que se oponham à restauração do paradigma neoliberal no Brasil.
Em
suma, romperam com o pacto democrático, instituído com a Constituição de 1988 e
a Nova República, e reintroduziram o culto à ditadura e ao militarismo. E, mais
ainda, chegaram ao poder com um esquema criminoso comprovado de disseminação de
fake news com dinheiro sujo.
O
pior, contudo, é que o governo neofascista e militarista de Bolsonaro,
representa ameaça séria e concreta ao que restou da democracia brasileira.
Ao
que tudo indica, a ruptura com a democracia e com o pacto político e social da
Constituição de 1988 foi planejada e veio para ficar.
É
uma estratégia de longo prazo que intenta consolidar a agenda ultraneoliberal
regressiva e uma “semidemocracia”, que não permitirá mais a alternância de
poder e quaisquer políticas que se desviem dos dogmas da ortodoxia econômica e
de uma inserção internacional subalterna.
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