Nada
poderia ser mais simbólico do que o mais novo presente recebido pelo presidente
eleito Jair Bolsonaro.
Um
mapa desengonçado do Brasil construído a partir de cartuchos de balas em que o
seu rosto resplandece em todo o centro.
Oferenda
de um autointitulado artesão e designer do Rio, no que pese o terrível mal
gosto, há de se admitir que a prenda condiz com a triste e brutal realidade que
ora esse país se depara.
Eleito
muito mais pelo sentimento de ódio, violência e culto à ignorância, um Brasil
representado por um “Bolsonaro de bala” é o reflexo melancólico e anacrônico de
uma sociedade que se esfacela e agoniza no chorume da própria mediocridade.
Talvez
até por isso mesmo, não deixa de ser curioso que o suposto artista acredite
piamente que a sua “obra” traga realmente algo de bom e de belo a partir da
conjugação de dois símbolos incontestes da violência, da obtusidade, da
intolerância, do preconceito, do racismo e da corrupção moral, ética e
material.
Retratar
um Brasil que já não se constrói com homens e livros, como queria Monteiro
Lobato, mas com armas e estúpidos deveria ser um dever da arte como protesto,
jamais como celebração.
É
uma grotesca inversão de valores que muito diz sobre o futuro próximo que se
avizinha.
Uma
nação que começa a se refestelar com o primitivo instinto de matar sob a batuta
de um desequilibrado que venera um torturador é o princípio falimentar de tudo
que é digno, honesto e solidário.
É
penoso admitir, mas milênios de avanços civilizatórios se desmoronam à nossa
frente sob o que parece ser a concretização da visceral profecia de Nelson
Rodrigues.
Quando
legiões passam a ter orgulho de algo dessa natureza, começamos a perceber que
os idiotas vão mesmo dominar o mundo.
À
base de bala e de estupidez.
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