Quando
se fala em agrotóxico, na maior parte do tempo estamos tratando de glifosato, o
herbicida mais usado no Brasil e no Mundo. Utilizado em 90% das lavouras de
soja, alvo de diversas polêmicas e contestações de médicos à ambientalistas,
mas fundamental para o agronegócio, está associado à morte das abelhas.
O
N-(fosfonometil)glicina, princípio ativo do Roundup da Monsanto e mais uma
centena de produtos agrícolas, age ao ser absorvido pela folha das plantas de
crescimento rápido, também conhecidos como mato, e inibe a ação de enzimas que
possibilitam sua existência.
Por
não dependerem dessa enzima, o produto não afeta aos animais. Pelo menos é isso
que se pensava. Um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade do
Texas, nos EUA, mostra que o mesmo não acontece com microrganismos, muitos dos
quais dependem a existência de animais, como as abelhas.
Publicado
essa semana no Proceedings of National Academy of Sciences, o artigo explica
que, assim como em nós, a saúde das abelhas depende de um ecossistema de
bactérias que vive em seu trato digestivo. O glifosato mata algumas dessas
bactérias, causando um desequilíbrio que reduz a capacidade do inseto combater
infecções.
"Diretrizes
atuais consideram que as abelhas não são prejudicadas pelo herbicida",
disse Erick Motta, estudante de pós-graduação que liderou a pesquisa,
juntamente com a professora Nancy Moran. "Nosso estudo mostra que isso não
é verdade".
Para
chegar à conclusão, os pesquisadores expuseram as abelhas a níveis normalmente
encontrados em plantações e jardins (é grande a chance do jardineiro perto da
sua casa usar esse agrotóxico). Pintaram suas costas para que pudessem
reconhecê-las e liberaram para seguir sua vida normal.
Recapturadas
três dias depois, eles observaram que o herbicida reduziu significativamente a
microbiota intestinal saudável. Das oito espécies dominantes de bactérias
saudáveis nas abelhas expostas, quatro foram consideradas menos abundantes. A
espécie mais atingida, Snodgrassella alvi, ajuda as abelhas a processarem
alimentos e a se defenderem contra patógenos.
Mais
tarde, ao expor as abelhas a um patógeno oportunista (Serratia marcescens),
morreram com mais frequência que as abelhas sem glifosato. Cerca de metade das
abelhas com um microbioma saudável ainda estavam vivas oito dias após a
exposição ao patógeno, enquanto apenas cerca de um décimo dos insetos cujos
microbiomas haviam sido alterados pela exposição ao herbicida ainda estavam
vivas.
"Estudos
em humanos, abelhas e outros animais mostraram que o microbioma intestinal é
uma comunidade estável que resiste à infecção por invasores oportunistas",
disse Moran. "Então, se você interromper a comunidade normal e estável,
estará mais suscetível a essa invasão de patógenos".
A
descoberta entra para uma longa lista de polêmicas que envolvem o agrotóxico
mais popular do mundo. "Não é a única coisa que causa todas essas mortes
de abelhas, mas é definitivamente algo que as pessoas deveriam se preocupar
porque o glifosato é usado em todos os lugares", disse Motta.
São
várias a críticas sobre o sistema da Monsanto, que vão da dependência e
endividamento de pequenos produtores, desenvolvimento de plantas resistentes à
substância, ao extermínio da biodiversidade. É considerado potencialmente
cancerígeno pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Apesar
da Monsanto (e sua nova controladora Bayer) atestar a segurança do produto com
40 anos de uso no mercado, em agosto a justiça dos Estados Unidos a sentenciou
a pagar US$ 289 (cerca de R$ 1,1 bilhão) ao jardineiro Dewayne Johnson que
alega ter contraído câncer devido ao uso do Roundup e do RangerPro, um
glifosato de segunda linha da Monsanto.
No
Brasil, a juíza substituta Luciana Raquel Tolentino de Moura acatou, no dia 3
de agosto, o pedido do Ministério Público Federal, sob a alegação de demora na
reavaliação toxicológica do glifosato, e proibiu o uso em todo o País. A ordem
para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária era priorizar a reavaliação até
o dia 31 de dezembro.
Um
dos principais interessados no assunto é o ministro da agricultura Blairo
Maggi. Um dos maiores produtores de soja do Brasil, ele afirmou que a decisão
impediria o plantio de 95% da área de soja, milho e algodão, as três maiores
culturas anuais do País. "É muito importante dizer: não há saída sem o
glifosato; ou não planta, ou faz desobediência da ordem judicial", disse
Maggi.
No
dia 3 de setembro, o presidente em exercício do Tribunal Regional Federal da
Primeira Região (TRF-1), desembargador Kássio Marques, derrubou a liminar. Uma
de suas alegações foi que “nada justifica a suspensão dos registros dos produtos”
sem a “análise dos graves impactos que tal medida trará à economia do país”.
FONTE:
revistagalileu
http://www.ogritodobicho2.com/2018/12/agrotoxico-mais-usado-no-mundo-esta.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário