Pelo
tempo que existir, o próximo será um governo culturalmente tosco. Não basta a
nulidade reconhecida do anunciado chefe da casa civil, a impostura de um
anônimo Bebiano, agraciado com os despojos do toma lá dá cá de uma legenda sem
destino, a truculência do futuro ministro da fazenda e a grosseria das
manifestações orais do próprio clã Bolsonaro.
Era
preciso adicionar ao espetáculo fantasmagórico um ministro das relações
exteriores que se entusiasma com a confissão, por outras palavras, de ser um
frankstein ideológico. Difícil interpretar como a Casa de Rio Branco
concedeu-se o vexame de abrigar semelhante exemplar de talidomida diplomático.
Mas, se o mundo não estiver ensandecido à la Trump, a Europa ocidental, os
nórdicos, mais os russos e sobretudo a China se encarregarão de expulsá-lo do
Itamaraty, já que os nossos não o fizeram.
Urgente
compreender o que significa um governo de ocupação para o qual os discordantes
são inimigos a serem vigiados e perseguidos. A regra do segundo turno ilude a
governantes e governados de que se trata de um governo de maioria. Nunca foi,
nem é. Os cerca de 58 milhões de votos dados a Jair Bolsonaro no segundo turno,
correspondem a não mais do que a 41% do eleitorado total e a 28% da população.
A maioria de 59% do eleitorado não o escolheram, sem mencionar a porcentagem
dos que, na realidade, votaram contra Fernando Haddad. Dadas as regras, a
eleição foi limpa e o mandato é legítimo, mas o governo não é da maioria mas,
sim, deveria governar para a maioria. Com o que, a concepção brutamontes em
cartaz discorda, mediante ameaças e promessas de vingança.
Consta
que as OABs dispõem de sentinelas para acorrerem aos perseguidos e
injustiçados. Pois é absolutamente vital que os profissionais não esperem pelas
associações de classe, nem pelas burocracias partidárias em contínua disputa
para controlar frentes que não terão fundo, só fachada. Essencial que grupos de
médicos e médicas, enfermeiros e enfermeiras, assistentes sociais, psicólogos
e, claro, advogados e advogadas, tomem a iniciativa de compartilhar o número
dos celulares, endereços eletrônicos, turnos de receptores e distribuidores de
mensagem, sem necessidade de hierarquia, documentos com bravatas ridículas ou
relatórios para funcionários de partidos. Não custam nada, apenas tempo e
disposição democrática, sem restrição de qualquer espécie. Importa a
compromisso de atender aos ferimentos da democracia e dos democratas, ali onde
necessário. E que os postos de recebimento de informações sobre atentados à
democracia sejam largamente conhecidos e, assim, qualquer brasileiro ter a quem
comunicar uma arbitrariedade que testemunhe.
Não
existe nenhuma organização vigilante fascista no país e duvido que venha a
existir. Mas, sem uniforme ou saudações fanáticas, bem que cada um de nós
poderia funcionar como vigilantes da democracia. Não se iludam. Seremos
necessários.
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