Eu
cresci ouvindo a história de que o Rio Grande do Sul era o estado mais
politizado da Federação. Naturalmente eu acreditava e até me orgulhava desta
assertiva, afinal com meus nove anos eu já havia ajudado a fazer campanha para
o Marechal Lott, que disputava a presidência com Jânio Quadros e Adhemar de
Barros, nas últimas eleições democráticas ocorridas antes do Golpe Militar de
1964.
Logo
depois, com a renúncia de Jânio, eu havia sido levado por meu pai, um
Brizolista ferrenho, até o Palácio Piratini na cidade de Porto Alegre, onde
assistimos a movimentação de resistência da Campanha da Legalidade, liderada
pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola e tinha como objetivo
garantir a posse de João Goulart como Presidente da República após a renúncia
de Jânio Quadros, candidato da União Democrática Nacional (UDN), momento no
qual quase foi deflagrada uma guerra civil entre os brasileiros.
O
movimento pela Legalidade restou parcialmente vitorioso e o vice-presidente João
Goulart acabou assumindo amarrado em uma espécie de parlamentarismo que
posteriormente se convolou em presidencialismo através de um plebiscito popular
realizado em 6 de janeiro de 1963. Posteriormente, com o anúncio do Presidente
Jango de sua intenção de implementar as denominadas reformas de base, reformas
estruturais propostas pela equipe de governo que incluíam os setores
educacional, fiscal, político e agrário, visando promover alterações nas
estruturas econômicas, sociais e políticas que garantissem a superação do
subdesenvolvimento e permitisse uma diminuição das desigualdades sociais no
Brasil, adveio o golpe militar e o sonho foi interrompido durante 21 anos.
De
qualquer maneira, permaneceu comigo aquele sentimento de que éramos ainda o
estado mais politizado do Brasil, já que aqui haviam nascido políticos notáveis
como Getúlio Vargas, Leonel Brizola, João Goulart e tantos outros.
Lérias.
Com o passar do tempo esta sensação foi se desvanecendo e hoje, se eu ainda
tinha algum resquício daquela enganosa ideia de um povo gaúcho politizado, ela
foi totalmente destruída e dissipou-se ao vento.
E
o golpe final veio nesta primeira fase das eleições de 2018 para o governo do
estado na qual ficaram para a disputa de segundo turno, o atual governador
Sartori do MDB e Eduardo Leite do PSDB. Rossetto do PT, meu candidato, foi
derrotado, mas até aí tudo bem, afinal ganhar e perder faz parte do jogo
democrático. E eu, naturalmente, não me furtaria de votar naquele que eu
considerasse mais próximo de minhas ideias, embora os programas de ambos eu
entenda sofríveis, pois voltados os dois para o nefasto neoliberalismo.
Com
a finalidade de me decidir, fiquei esperando para saber quem eles apoiariam nas
eleições para a presidência da República, fator determinante para minha
escolha, já que hoje estamos em uma encruzilhada, tendo que decidir entre a
civilização com Haddad e a barbárie com as idéias primitivas de Bolsonaro.
Pois
bem. O primeiro a se bandear para os lados do obscurantismo foi o candidato
Eduardo Leite e imediatamente abdiquei de qualquer possibilidade de votar nele.
Infelizmente, no dia seguinte, Sartori também manifestou seu apoio ao
inominável emissário do retrocesso. Assim sendo, seja lá quem for que venha a
vencer as eleições, as trevas irão pairar sobre o nosso estado.
Ao
saber disso, caíram por terra minhas derradeiras ilusões a respeito daquela
antiga idéia de consciência política do povo gaúcho, e eu, que nunca havia
fugido da raia, muitas vezes viajando muitos quilômetros para exercer minha
cidadania através do voto, infelizmente, pela primeira vez vou fazer uma coisa
que jamais pensei em fazer: VOU ANULAR
MEU VOTO, diante desta constatação de que meu estado, como praticamente
todo o sul do Brasil, tem uma vocação eminentemente fascista. Por um princípio
inquebrantável, jamais votarei em quem está do lado do retrocesso
civilizatório.
Jorge André Irion Jobim.
Advogado de Santa Maria, RS
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