quarta-feira, 10 de outubro de 2018

CANDIDATOS AO GOVERNO GAÚCHO ADEREM AO OBSCURANTISMO. Por Jorge André Irion Jobim


Eu cresci ouvindo a história de que o Rio Grande do Sul era o estado mais politizado da Federação. Naturalmente eu acreditava e até me orgulhava desta assertiva, afinal com meus nove anos eu já havia ajudado a fazer campanha para o Marechal Lott, que disputava a presidência com Jânio Quadros e Adhemar de Barros, nas últimas eleições democráticas ocorridas antes do Golpe Militar de 1964.

Logo depois, com a renúncia de Jânio, eu havia sido levado por meu pai, um Brizolista ferrenho, até o Palácio Piratini na cidade de Porto Alegre, onde assistimos a movimentação de resistência da Campanha da Legalidade, liderada pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola e tinha como objetivo garantir a posse de João Goulart como Presidente da República após a renúncia de Jânio Quadros, candidato da União Democrática Nacional (UDN), momento no qual quase foi deflagrada uma guerra civil entre os brasileiros.

O movimento pela Legalidade restou parcialmente vitorioso e o vice-presidente João Goulart acabou assumindo amarrado em uma espécie de parlamentarismo que posteriormente se convolou em presidencialismo através de um plebiscito popular realizado em 6 de janeiro de 1963. Posteriormente, com o anúncio do Presidente Jango de sua intenção de implementar as denominadas reformas de base, reformas estruturais propostas pela equipe de governo que incluíam os setores educacional, fiscal, político e agrário, visando promover alterações nas estruturas econômicas, sociais e políticas que garantissem a superação do subdesenvolvimento e permitisse uma diminuição das desigualdades sociais no Brasil, adveio o golpe militar e o sonho foi interrompido durante 21 anos.

De qualquer maneira, permaneceu comigo aquele sentimento de que éramos ainda o estado mais politizado do Brasil, já que aqui haviam nascido políticos notáveis como Getúlio Vargas, Leonel Brizola, João Goulart e tantos outros.

Lérias. Com o passar do tempo esta sensação foi se desvanecendo e hoje, se eu ainda tinha algum resquício daquela enganosa ideia de um povo gaúcho politizado, ela foi totalmente destruída e dissipou-se ao vento.

E o golpe final veio nesta primeira fase das eleições de 2018 para o governo do estado na qual ficaram para a disputa de segundo turno, o atual governador Sartori do MDB e Eduardo Leite do PSDB. Rossetto do PT, meu candidato, foi derrotado, mas até aí tudo bem, afinal ganhar e perder faz parte do jogo democrático. E eu, naturalmente, não me furtaria de votar naquele que eu considerasse mais próximo de minhas ideias, embora os programas de ambos eu entenda sofríveis, pois voltados os dois para o nefasto neoliberalismo.

Com a finalidade de me decidir, fiquei esperando para saber quem eles apoiariam nas eleições para a presidência da República, fator determinante para minha escolha, já que hoje estamos em uma encruzilhada, tendo que decidir entre a civilização com Haddad e a barbárie com as idéias primitivas de Bolsonaro.

Pois bem. O primeiro a se bandear para os lados do obscurantismo foi o candidato Eduardo Leite e imediatamente abdiquei de qualquer possibilidade de votar nele. Infelizmente, no dia seguinte, Sartori também manifestou seu apoio ao inominável emissário do retrocesso. Assim sendo, seja lá quem for que venha a vencer as eleições, as trevas irão pairar sobre o nosso estado.

Ao saber disso, caíram por terra minhas derradeiras ilusões a respeito daquela antiga idéia de consciência política do povo gaúcho, e eu, que nunca havia fugido da raia, muitas vezes viajando muitos quilômetros para exercer minha cidadania através do voto, infelizmente, pela primeira vez vou fazer uma coisa que jamais pensei em fazer: VOU ANULAR MEU VOTO, diante desta constatação de que meu estado, como praticamente todo o sul do Brasil, tem uma vocação eminentemente fascista. Por um princípio inquebrantável, jamais votarei em quem está do lado do retrocesso civilizatório.

Jorge André Irion Jobim. Advogado de Santa Maria, RS


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