Diante
da delação premiada que aponta o ministro José Serra (PSDB-SP) como
beneficiário de propina, o que se espera do tribunal do juiz Sérgio Moro?
Exatamente o comportamento que o magistrado vem adotando:
–
Firme nas investigações
–
Comedido nas conclusões
–
Discreto quanto à exposição de dados e acusações
–
Presunção da inocência
Processos
que “correm” no sistema judiciário não são administrados segundo as
preferências políticas que dividem os cidadãos entre amigos e inimigos. No caso
José Serra, o procedimento do juiz Sérgio Moro tem sido exemplar. Lembrando que
perante a lei todos são inocentes até se prove o contrário. Delação premiada
não é “confissão” da culpa alheia, muito menos visão premonitória.
Os
fatos apurados que são classificados como “fortes indícios” podem ser
catalogados também como “não há provas”. E não é o acusado que tem que provar a
inocência, suponho. Mas quem acusa deve “documentar” suas ilações.
O
José Serra é antipático, presunçoso e arrogante. Mas daí a condená-lo porque
foi citado numa delação…. O sistema judiciário não é pautado pela vingança,
muito menos pela opinião pública.
Neste
caso, o juiz Sérgio Moro tem se comportado de forma republicana. Enche os seus
pares de orgulho e sinaliza para os brasileiros que podem confiar na justiça e
no amplo direito à defesa. A justiça tem o seu ritmo e sua velocidade. Ou seja,
não funciona a toque de caixa, como gostaria a indústria que transforma qualquer
notícia em entretenimento.
Diante
da delação premiada que aponta o ministro José Serra como beneficiário de
propina, o que se espera da cobertura jornalística séria? Exatamente o
comportamento que os grupos de comunicação vêm adotando.
–
Noticiaram que o José Serra foi citado da delação
–
Não emitiram juízo de valor
–
Não produziram estardalhaço televiso criminalizando o acusado
–
Não o colocaram na capa das revistas semanais atrás das grades
–
As acusações estão sendo investigadas, logo, os editoriais não fazem análises
baseados em suposições.
Enfim,
o mínimo que se espera de um jornalismo republicano é a devida distância entre
acusação e condenação sumária. Com a honra das pessoas não se brinca.
Lembrar
que a notícia de que o ministro José Serra foi citado na delação como alguém
que transgrediu a lei e participou de atos ilícitos, recebendo dinheiro de
empreiteiras em conta no exterior, surgiu em pleno período eleitoral. A chamada
grande imprensa soube separar as coisas. Não misturou “alho” com “bugalhos”.
Simplesmente este tema foi retirado da pauta para não contaminar o pleito.
Quando o juiz Sérgio Moro se pronunciar sobre o caso, então que os
comentaristas façam suas análises. Enquanto isso, o nobre ministro trabalha
para “internacionalizar” o Brasil.
Comportamento
cuidadoso, mas tão cuidadoso, que não inflama as massas a saírem às ruas ou das
suas janelas baterem panelas no horário nobre da TV brasileira. Convenhamos,
quem é acusado não pode ser jogado à humilhação pública.
Quero
me congratular com os editores e com os intelectuais que fazem
jornalisticamente a cobertura da política nacional. Comportamento exemplar,
digno de um país democrático em que direito de opinião não é confundido com
“monopólio da fala” (salve o conterrâneo Muniz Sodré).
O
caso José Serra leva-nos a concluir que o tribunal do juiz Sérgio Moro e os
grandes grupos de comunicação do país estão numa sintonia fina. Respeitosos,
cuidadosos, comedidos, recatados, amistosos, enfim, tratando o servidor público
em questão com tamanho respeito como esperamos ser comum ao sistema judiciário
e ao jornalismo investigativo imparcial. Belos desempenhos.
Imagine
viver num país em estado de exceção em que o sistema judiciário usa pesos e
medidas diferentes de acordo com a pessoa ou grupo político? Quando o sistema
judiciário é seletivo, ele consagra os justiceiros e sepulta a justiça. O
personalismo no judiciário é típico dos sistemas políticos totalitários em que
a lei serve a interesses escusos. Que bom que entre nós prospera a impessoalidade
tropical, ainda que a toga seja preta e a gravata não admita florais.
Imagina
viver num país em estado de exceção em que os grandes grupos de comunicação
assumem protagonismos políticos e disputam poder? Ainda bem que no Brasil a
comunicação é pública, laica e os concessionários prestam contas dos seus
serviços. O fato de não existir concentração de veículos nas mãos de um mesmo
grupo (família) deixa-nos protegidos do monopólio da informação (salve o mestre
Venício A. de Lima).
Que
bom sabermos que o José Serra terá amplo direito de defesa e não será conduzido
coercitivamente para prestar depoimento como se fosse um criminoso caçado.
Imagina um juiz qualquer ligar para um veículo de comunicação e antecipar a
operação em que o José Serra seria conduzido pela Polícia Federal. Cobertura
“jornalística” histórica com tomadas de imagens dos helicópteros e os grandes
jornalistas devidamente posicionados nos estúdios para dizer a verdade e
traduzir as imagens.
O
José Serra não é um caso à parte. É assim que procedem os bons juízes e o
jornalismo sério. Não há presunção da culpa. Sabemos que o ministro em questão
é notívago, mas, se quiser, pode dormir, porque é certo que o juiz Sérgio Moro
não vai importuná-lo de forma abrupta para constrangê-lo diante da “opinião
pública”. Os grupos de comunicação de abrangência nacional sabem que estão no
limite. Preferem a verdade aos simulacros. Os brasileiros estão se cansando da
linguagem espetaculosa.
Então,
que José Serra durma durante o dia e trabalhe nas madrugadas com a certeza de
que o que é seu está bem guardado.
Que
o juiz Sérgio Moro siga despertando o respeito dos brasileiros e brasileiras
pelo seu trabalho “coerente” em que não admite, sob hipótese alguma, o
estrelismo dos operadores do direito, muito menos a justiça seletiva.
Que
os grandes grupos de comunicação continuem a sinalizar que o show tem que
continuar. Vejam vocês que, diante de tantos disparates, desvios de função e
ilícitos envolvendo dinheiro, o setor mais limpo, jamais citado pelos
delatores, é justamente o setor dos grupos de comunicação. Famílias honradas
que estão acima dos tribunais e das disputas político-partidárias. Os três
poderes transgridem e eventualmente decepcionam, mas eis que temos um setor que
inspira e impõe respeito. As famílias que mandam nas notícias nacionais são
exemplos de honradez. Caráter que passa de pais para filhos. Percebam, contra
eles nenhuma citação neste festival de delações que fazem tremer a república.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2016/11/serra-e-notivago-mas-pode-dormir.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário