A
reação não se fez esperar e veio de onde menos se esperava: do Paraná. Mais de
mil escolas ocupadas pelos estudantes secundaristas, cerca de 80% nesse estado.
O
movimento se alastrou como pólvora por todo o Brasil, demonstrando
imediatamente como os estudantes não estão dispostos a ter sua educação regida
por uma medida provisória do ministro da Educação de um governo que não foi
eleito pelo povo. Tampouco os professores, que entraram em greve em vários
estados, começando pelo próprio Paraná, e os estudantes universitários também.
O
Colégio Estadual do Paraná é o maior e o mais importante do estado. Já
completou simplesmente 170 anos, por ali passaram vários dos mais importantes
personagens políticos e culturais do estado. Hoje, 6 mil pessoas, entre
estudantes, professores, funcionários, entram e saem dali todos os dias.
Foi
um dos primeiros em que os estudantes ocuparam em protesto contra a medida
provisória de reforma conservadora do ensino médio, e também contra da PEC que
levou o numero 241 na Câmara, que limita drasticamente e por muito tempo os
recursos para as políticas sociais.
Quando
veio a pressão forte do governo do estado para que os estudantes desocupassem
as escolas, veio a proposta de que fossem desocupadas 24 unidades e os
estudantes se concentrassem no Colégio Estadual do Paraná. Os secundaristas
rejeitaram a proposta com o objetivo de que as demais escolas mantivessem sua
ocupações – recusaram o “risco” de assumir um protagonismo que violasse a
horizontalidade e a autonomia do movimento. E assim decidiram na noite de sexta
desocupar a escola no domingo. Mas os alunos das outras escolas pediram que
eles continuassem como forma de solidariedade e de manutenção da ação unificada
de todo o movimento para seguirem adiante – o que foi aceito, e a desocupação,
revista.
Eu
estive lá no sábado cedo, conversando com eles. Tinha sido uma noite longa, com
uma entrevista para a imprensa feita à meia noite. Às 10h, eles ainda estavam
acordando e já organizavam as coisas para desocupar a escola. Foram chegando,
simpáticos, cansados, combativos.
Relataram
como na noite anterior pessoas do MBL tinham tentado se aproveitar de que muita
gente estava concentrada ali, para tentar atacar uma outra escola. Foi possível
mobilizar muita gente rapidamente pela internet e logo houve uma concentração
de 300 pessoas na outra escola, que escorraçou o tal “movimento”. O imenso
carro de som emprestado pelo apresentador Ratinho aos milicianos saiu voando quando
foram comunicados de que seus pneus seriam furados se não fossem imediatamente
embora.
Eu
falei um pouco, dizendo que a partir daquele momento a ocupação física das
escolas era apenas uma dimensão da ocupação política, educacional, cultural,
esportiva, que os estudantes secundaristas estavam fazendo dos seus locais de
estudo. Que eles despertaram para o fato de que as escolas não são do governo,
são escolas públicas, pertencem à sociedade, aos cidadãos, aos estudantes, aos
professores, aos funcionários, aos pais dos alunos. Que não apenas é possível
derrotar a MP de reforma do ensino médio, como já nada seria realizado na
educação no Brasil e nos estados sem a participação ativa e democrática da
comunidade dos estudantes, professores e servidores públicos.
Eles
relataram as peripécias daquelas semanas de ocupação, de como se expressou a
estudante Ana Julia por todos eles, em pronunciamento na tribuna da Assembleia
Legislativa, e como aprenderam mais nesse tempo do que nos cursos burocráticos
que costumam receber. Todos eles se reconhecem em Ana Julia, orgulhosos do fato
de um deles conseguir romper o cerco da mídia e falar por todos.
Levei
exemplares do livro O Brasil que Queremos, para contribuir com as discussões
incessantes que eles desenvolvem na ocupação, na escola, nas suas atividades
permanentes. Para eles e para toda a juventude estudantil, já nada será como
antes, depois desta extraordinária primavera estudantil.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2016/10/primavera-estudantil-nada-sera-como.html
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