O
obscurantismo medieval ameaça o mundo, também o Brasil.
“Donde
trovões profundos rugem, bramam
Parecendo
no Céu do Inferno a imagem?
Se
pode ele imitar as trevas nossas,
Imitar
sua luz nós não podemos?!”
(Canto
III – Paraíso Perdido, John Milton)
Quando
Lula disputava pela quarta vez a presidência, em 2002, o tema “A Esperança vai
vencer o Medo”. Então fez a “Carta aos Brasileiros”, documento em que reafirmava
o PT como o partido da ordem, que não faria rupturas e governaria dentro dos
marcos do Kapital, sem surpresas, confiscos e toda uma série de obviedades que
precisavam ser reafirmadas.
Por
quatros eleições o PT e a Esquerda cresceram amplamente em todo o país, sem, no
entanto, se tornar hegemônico. Toda a maioria eleitoral e congressual era
conseguida com um amplo arco de alianças, inclusive com setores de
centro-direita. Claro que o PT era a força determinante e dava o Norte aos
governos de contradições insolúveis, mas de nítidos avanços sociais, ajudado
por um longo período de crescimento econômico.
Os
limites sempre foram a decisão Política, consciente, de que era possível levar
em frente um programa de inclusão econômica e distribuição de renda, ainda que
a Crise Mundial já estivesse pressionando e impondo estreitos marcos de ampliar
as conquistas. A virada definitiva se deu ainda sob Lula, em agosto de 2010,
com um pacote de contingenciamento de gastos públicos.
O
primeiro mandato de Dilma já se deu com espaço de manobra bastante reduzido, a
perda de fôlego econômico era nítida, a aposta feita em 2009 de que a Crise
mundial abrandaria e o Brasil teria uma solução sem solavanco se demonstrou
errada. A perda da capacidade política rapidamente fez desmoronar o governo com
as jornadas de junho de 2013.
Movimento
iniciado contra aumento de R$ 0,20 nas tarifas de ônibus municipais se
transformou em explosivas manifestações de massas contra o Governo do PT. A
demora de entender a virada conjuntural e a inabilidade de lidar com movimento
de ruas contrários acabou apressando os fatos e cristalizando uma nova
realidade. Tudo o que tinha sido feito em dez anos, se perdeu por 0,20.
A
improvável vitória de Dilma nas eleições de 2014 não chegou nem mesmo a ser comemorada.
Os ataques se tornaram impiedosos, tornando inviável qualquer governabilidade.
A aliança com as forças de centro-direita tinha se rompido, o congresso foi
completamente dominado por forças extremamente conservadoras, a queda era
questão de tempo. O que foi facilitado pela Operação Lava jato em parceria com
a grande mídia.
O
segundo governo Dilma não saiu do papel, os ataques diários e constantes,
nenhuma linha de defesa, a crise econômica se torna incontrolável, parte pelo
boicote dos empresários golpistas, parte pelas ações da Lava jato que quase
quebrou a Petrobrás, mas destruiu o setor de construção civil, com a perda de
milhões de empregos. O impeachment, sem crime, foi um “passeio”, assim como as
seguidas derrotas dos trabalhadores no congresso, como a PEC 241.
É
insofismável que a Esquerda foi quase varrida nessas eleições. Em maior relevo,
o PT. A derrota foi de forma avassaladora, especialmente nas duas mais
importantes cidades do país, São Paulo e o Rio de Janeiro, elegeram: Duas
figuras grotescas, obscuras e patéticas.
É
como se a idade média tivesse regurgitado uma legião de idiotas diretamente
para 2016, cheio de ódios e preconceitos, prontos para destruir o “mundo
pecador”, vide o pastor-MP e o juiz-justiceiro. As Fogueiras medievais foram
acesas. Pode parecer pessimismo, mas é bem consciente. Penso que os horrores
destampados pelas jornadas de junho de 2013, agora se estabeleceu.
Houve
uma negação generalizada da Política, as abstenções somadas aos votos nulos e
brancos, venceram em quase todos as grandes cidades. Em parte, é o repúdio a
todos, mas por outro lado é preocupante, pois favorece aos projetos mais
obscuros e tacanhos, que beira ao fascismo aberto e se impõe como Estado de
Exceção.
Aliás,
essa realidade de negação já se deu em quase todo o mundo, nas últimas eleições
italianas em torno de 40% de abstenções, o que chamo de Estado Gotham City,
prescinde de Política e Democracia, é o reino da burocracia permanente que
trabalha fielmente para viabilizar o Kapital, a sua parcela dominante, os
grandes bancos.
Esse
Estado é força, repressão política e ideológica, aberta ou seletiva, de acordo
com cada situação.
Temo
que em breve essa escumalha nos proíba até de falar e nos ataquem em qualquer
lugar, apenas por pensarmos diferente, nem será preciso ser de esquerda. Pouco
espaço nos sobrou, a reconstrução será dolorida, ou teremos uma longa jornada
nas Trevas. Estamos sem programa, partido, nem mesmo para jogar a culpa em um
ou noutro.
A
que horas vamos acordar?
http://linkis.com/arnobiorocha.com.br/bAv4v
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