É
pela boca que uma quantidade significativa da população dos tempos modernos tem
morrido. Atualmente, a alimentação e a nutrição inadequada são consideradas a
segunda causa de câncer capaz de ser evitada. Nos países em desenvolvimento,
entre eles o Brasil, a má alimentação corresponde por até 20% dos casos de
câncer e por 35% das mortes causadas pela temível doença – apenas atrás do
tabagismo.
Os
dados foram apresentados nesta segunda-feira (17) por Thainá Alves Malhão,
coordenadora substituta da Unidade Técnica de Alimentação, Nutrição e Câncer do
Instituto Nacional do Câncer (Inca), durante o encontro Cartografias da
Agricultura Brasileira.
Em
pouco mais de uma hora, a nutricionista e doutora em saúde coletiva mostrou uma
série de dados e pesquisas que evidenciam o quanto a população, em geral,
acredita que está se alimentando, mas na realidade está trilhando o caminho
para o desenvolvimento de algum tipo de câncer. São 20 milhões de novos casos
de câncer no mundo a cada ano, sendo 600 mil no Brasil, onde já é a segunda maior
causa de morte no país.
Segundo
Thainá, o hábito de uma alimentação in natura, baseada em frutas, legumes,
verduras, cereais integrais, feijões e outras leguminosas, tem efeito protetor
contra o câncer, podendo evitar entre três e quatro milhões de novos casos da
doença, por ano, no mundo. “O oposto é uma dieta baseada em produtos
ultraprocessados, que são aqueles prontos para o consumo ou que necessitam
apenas aquecer, além de bebidas açucaradas”, explicou. Em 2011, por exemplo,
estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), com
18 produtos que estampavam a imagem de uma fruta em seu rótulo, revelou que
oito não apresentaram nenhum vestígio da fruta em questão. Na maior parte dos
outros dez produtos, havia apenas cerca de 1% da fruta.
Tripé
da saúde
Combinada
com uma alimentação baseada em produtos in natura, a coordenadora do Inca
destaca a importância da atividade física diária e do peso corporal adequado
como práticas que evitam o surgimento de um em cada três casos de câncer mais
comuns. Isso significa que de cada 100 pessoas com câncer, 33 poderiam não ter
a doença.
Thainá
Malhão explicou que o excesso de gordura corporal causa alterações hormonais e
um estado inflamatório crônico que estimula a proliferação celular e prejudica
a apoptose (morte programada das células). Neste quadro, a gordura contribui
para a formação e a progressão de diversos tipos de câncer, como o de esôfago,
estômago, pâncreas, vesícula biliar, fígado, intestino, rins, mama, ovário,
endométrio, entre outros.
No
Brasil, 82 milhões de pessoas têm excesso de peso, pouco menos da metade da
população de 206 milhões de habitantes, segundo o IBGE. Thainá Malhão alertou
que 23% dos adultos brasileiros consomem refrigerante ou suco artificial
regularmente (cinco vezes ou mais por semana) e mais de 70% da população do
país consome elevadas quantidades de sódio.
Estudo
realizado pelo centro de pesquisa Center for Science in the Public Interest
(CSPI), nos Estados Unidos, em parceria com instituições governamentais e de
pesquisa de diversos países, testou a quantidade da substância 4-MI
(4-metil-imidazol), em latas de uma marca de refrigerante a base de cola
vendida no Brasil, Canadá, China, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos,
México e Reino Unido. Tal substância é um subproduto do corante caramelo IV,
presente nos refrigerantes e classificado como possivelmente cancerígeno pela
Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (Iarc), da Organização Mundial da
Saúde (OMS). O resultado do estudo mostrou que o refrigerante vendido no Brasil
continha 267 microgramas (mcg) de 4-MI em uma lata de 355 ml, o maior índice
dentre todos os países pesquisados.
Apesar
das evidências científicas, a coordenadora do Inca apresentou uma pesquisa
realizada no Reino Unido, em 2013, na qual 49% dos entrevistados não acham que
a comida tem relação com o câncer; 66% não acreditam que a atividade física se
relaciona com a doença; e 59% não creem que o peso corporal também está ligado
ao câncer. “Considerando o nível educacional do Reino Unido, podemos imaginar
que o resultado dessa pesquisa não seria muito diferente no Brasil”, ponderou
Thainá Malhão.
Pesquisa
realizada pela Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (Iarc) indica que
a adesão às recomendações de consumo de alimento in natura, atividade física e
peso adequado diminui em 10% o surgimento da doença e reduz em até 61% a
mortalidade dos pacientes em tratamento.
In
natura, apesar dos agrotóxicos
Durante
a palestra, a coordenadora do Inca enfatizou a importância de se optar pelo uso
de produtos alimentícios orgânicos ou agroecológicos, tanto pela questão da
saúde, quanto pela preservação do meio ambiente e apoio a agricultura familiar.
Mas se o consumo de produtos orgânicos não for possível, Thainá Malhão afirmou
que ainda assim é melhor usar frutas, verduras e legumes mesmo com resíduos de
agrotóxicos do que consumir produtos processados e ultraprocessados.
“Há
evidências de que os benefícios na prevenção do câncer superam os malefícios do
consumo desses alimentos com agrotóxicos”, disse ela, explicando que as
vitaminas, minerais, fibras e fitoquímicos existente nos vegetais previnem
contra diversos tipos da doença. “O ideal é consumir produtos orgânicos, mas se
não for possível, não se pode deixar de usar esses alimentos”, afirmou,
enfatizando que estudos indicam que a redução do consumo de frutas, legumes e
vegetais pode aumentar os casos de câncer.
Da RBA
http://www.sul21.com.br/jornal/populacao-ainda-ignora-relacao-entre-cancer-e-alimentacao-adequada/
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