Qualquer
pessoa razoavelmente informada, do mundo político e da imprensa brasileira,
sabe que esse esquema dos chamados "cartéis" de grandes empresas para
obtenção de contratos de obras públicas no Brasil é uma herança do período
ditatorial. Na realidade, foi na construção de Brasília que boa parte das
grandes empreiteiras "aprendeu" que boas relações com políticos
influentes rendem "bons contratos".
Durante
a ditadura, obras como a ponte Rio/Niterói, Itaipu, Transamazônica, entre
outras, mantiveram a mesma lógica, com um novo ingrediente: além dos políticos
era preciso também ser amigo dos generais.
Com
a Constituição de 1988, e a obrigatoriedade de licitações e concursos públicos
para preenchimento dos cargos, era preciso construir uma nova
"metodologia" para que as coisas continuassem iguais. Para tanto, era
preciso controlar licitações, eleger parceiros, ter influência nos Tribunais de
Contas, no Judiciário e na imprensa.
Os
grandes empreiteiros, durante anos, foram íntimos do poder. Com as velhas
amizades com políticos e militares, e protegidos pela imprensa, tinham livre
acesso aos palácios e colunas sociais. Estabeleceram fortes parcerias com os
bancos públicos e privados, com os fundos de pensões e "descobriam"
juntos o universo da Privataria das privatizações de obras e serviços públicos.
Através de leis de incentivo à cultura e ao esporte, muitos tornaram-se
verdadeiros mecenas dos tempos modernos, paparicados pelos bajuladores de
plantão sempre prontos para um elogio bem remunerado.
A
chegada do PT ao governo federal foi um fato novo não previsto. Os esquemas de
"rodízios" entre as "Grandes Irmãs" envolviam também
governos estaduais e prefeituras, mas sem dúvidas não funcionaria da mesma
maneira sem o governo federal. Em que pese a forte influência na burocracia do
Estado, nos TCUs e no Judiciário, era um "novo problema" a ser
resolvido.
A
lógica perversa da legislação política brasileira ajudou muito. A chamada
necessária "governabilidade" trouxe de volta ao governo os velhos
amigos, parceiros e aliados. Em boa parte dos ministérios e estatais foi
possível manter pessoas que "sabem como funciona o jogo da política no
Brasil". Mas e o PT, como resolver?
Em
um momento de crescimento efetivo da atividade econômica, com o PAC, com
crédito farto e com os fundos de pensões já integrados no arranjo, não
faltariam obras para todos trabalharem e ganharem muito dinheiro. Os bancos, a
mídia e as empreiteiras viveram um verdadeiro alinhamento dos
"planetas".
Os
novos modelos de campanha eleitorais empresariais no Brasil, com altíssimos
custos de produção, com marqueteiros resgatados a peso de ouro no mercado
publicitário e programas de televisão de padrão global fizeram as campanhas
caríssimas.
A
verdade é que esse sistema, que se mantinha desde a ditadura, estava
funcionando bem para os grandes empreiteiros. Mais do que isso, com margens de
lucro que permitiam que através de doações legais a candidatados e partidos os
velhos acordos fossem preservados.
O
PT era um novo sócio a ser incorporado ao clube, e foi. Dentro da lei, é
verdade, mas foi. A lógica das grandes campanhas empresariais, as alianças e as
novas amizades possibilitaram que o partido também fosse contemplado com
generosas contribuições dentro e fora dos períodos eleitorais. Um crime? Não.
Um gravíssimo erro para quem surgiu para ser diferente, sem dúvidas.
Pessoas
se utilizarem destas relações para estabelecer práticas ilegais que levaram a
vantagens pessoais, enriquecimento ilícito e outros crimes. Quem cometeu crimes
que responda e pague por eles. Crimes são responsabilidade de indivíduos, que
devem ser apurados, dentro do devido processo legal e exemplarmente punidos.
Os
responsáveis pelos erros que permitiram que o PT mergulhasse neste pântano
devem responder politicamente por isso. Isso é um imperativo moral e político
inadiável.
O
PT não criou tudo isso. A tentativa de responsabilizar o PT por esse esquema
perverso de décadas nas relações entre o público e privado é injusto e absurdo.
Pelo contrário, foram justamente os governos petistas de Lula e Dilma que
ampliaram os mecanismos de transparência, controle e investigações que permitem
que hoje o MPF e a PF possam agir com liberdade, bem diferente de um passado
recente, como nos tempos do PSDB com FHC.
O
golpe tem entre seus objetivos proteger parte destes esquemas de poder
abalados. Não permitir que tentáculos importantes sejam expostos e que a
"sangria" pare imediatamente, como afirmou Jucá e prometeu Temer para
justificar a necessidade do impeachment. Muitos são milionários com centenas de
milhões de dólares em paraísos fiscais pelo mundo afora.
A
exposição das rotas e conexões que revelam as proximidades entre os esquemas de
corrupção confirmariam muitas coisas que até agora não apareceram. Negócios
escusos, parcerias e sociedades que os donos do poder guardam a sete chaves.
Portanto, o golpe foi também uma reação da elite brasileira que sentia o
combate à corrupção dos governos Lula e Dilma batendo as suas portas,
desvendando paraísos secretos, por décadas escondidos.
Por
fim, o fator Lula é uma possibilidade a ser afastada de qualquer forma. A forte
reação que a sociedade brasileira demonstra contra as políticas do governo
golpista fortalecem ainda mais sua liderança e carisma.
O
Lulinha paz e amor ficou no passado. O Lula de 2018 vem para fazer o que não
foi feito. Além de ampliar o consumo, ampliar a consciência. Mexer nas
estruturas arcaicas que constituem o verdadeiro poder no Brasil. No voto ele é
forte. Portanto, trata-se se impedir que ele concorra a qualquer custo.
Separar
o joio do trigo é proteger Lula, seu legado e nosso futuro. Não repetiremos os
mesmos erros. Precisamos ter a humilde para aprender com eles. Mas Lula não
cometeu nenhum crime. Crime é uma parcela da burocracia do Estado, capturada
por um projeto de poder, utilizar métodos e práticas ilegais para tentar
sufocá-lo.
O
Lula e a estrela do PT são sinônimos de esperança, de luta e de resistência.
Somos semente. E quando tentam nos enterrar, brotamos mais fortes. Como toda
boa lavoura precisa ser cuidada, que se limpem os inços e as ervas daninhas
para que nossa somente volte a produzir bons frutos e grandes colheitas.
A
democracia é o único ambiente onde as instituições são preservadas. A
seletividade e a injustiça provocam reações que nos permitem afirmar que não
assistiremos de camarote ao jogo sujo das velhas raposas, sempre ávidas pelo
poder a qualquer custo.
http://www.brasil247.com/pt/colunistas/paulopimenta/260787/%E2%80%9CP%C3%B5e-o-Temer-delimita-e-para-tudo%E2%80%9D-o-golpe-como-rea%C3%A7%C3%A3o-da-elite-ao-combate-%C3%A0-corrup%C3%A7%C3%A3o.htm
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