CARTA
ABERTA* À EXCELENTÍSSIMA MINISTRA CARMEN LÚCIA
Mui
Digníssima Presidenta do STF
“A
justiça é o pão do povo.
Às
vezes bastante, às vezes pouca.
Às
vezes de gosto bom, às vezes de gosto ruim,
Quando
o pão é pouco, há fome.
Quando
o pão é ruim,
há
descontentamento”.
Bertolt
Brecht – Poema O Pão do Povo.
A
democracia no Brasil é um processo complexo e contraditório. Frágil democracia,
tantas vezes abalada por golpes e contragolpes ao longo das últimas décadas.
Não sou daqueles que afirmam, categoricamente, que o golpe trocou a farda pela
toga, mas não escondo minha decepção com a omissão e o silêncio diante de
tantos abusos e seletividade que vivemos nos dias atuais.
O
golpe além de ferir de morte a democracia é reafirmação de privilégios, castas
que, pela força do dinheiro, com a proteção da mídia e com compromissos
corporativos, sentiram-se ameaçadas
diante dos novos tempos.
Essa
crise que vive o Brasil não absolve, a priori, ninguém de responder por seus
protagonismos ou cumplicidades. O
legislativo, o executivo, o MP, os TCU e também o judiciário são formados por
homens e mulheres que reproduzem nos seus ofícios as relações de poder que
emergem da sociedade.
As
críticas são sempre bem-vindas. Nos limites da lei, por óbvio. Mas não devemos
constranger os que se animam a falar, a criticar, a denunciar privilégios,
salários abusivos, vantagens indevidas e abusos de poder, que não podem ser
escondidos ou protegidos.
Imagine,
Vossa Excelência, se, quando acusam um vereador de corrupto, eu me sentisse
atingido? Se, quando um deputado fosse acusado, eu me ofendesse? Se, quando um
senador fosse denunciando, todo Poder Legislativo se sentisse acuado?
Não
devemos encorajar o silêncio das vozes, sejam quais forem, em nosso país.
Também
não podemos permitir que predomine no Brasil a ideia de que determinados escalões
da República sejam intocáveis, especialmente que permaneçam imunes a avaliações
e críticas figuras que têm por função servir a sociedade brasileira. Estimular
isso é, também, desencorajar o papel fiscalizador da sociedade.
Reações
que buscam frear ou impedir críticas a essas figuras públicas, desprovidas de
um rigoroso cuidado, jogarão nosso país de volta a tempos em que se apostava na
falta de informação e no cerceamento da liberdade de expressão como melhores
alternativas de controle da população e proteção das autoridades.
Não
creio que esse seja o melhor caminho. Prefiro luzes da democracia para que toda
denúncia seja apurada. Sem paixões corporativas. Sem medo de revirar as
entranhas do que está escondido, do que “deve” ser evitado! Mais do que nunca,
a democracia pede luzes. Não apague essa chance.
*Paulo Pimenta.
Brasília, 25/10/2016.
Paulo Pimenta é deputado
federal (PT-RS).
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/paulo-pimenta-a-ministra-carmen-lucia-a-democracia-pede-luzes-nao-apague-essa-chance.html
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