"Embora
seja apenas um dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, ele dá a impressão
de ser muito mais supremo juiz do que os outros, o dono da verdade definitiva,
indiscutível, absoluta, uma espécie de autonomeado 'ombudsman geral' da
República", diz o jornalista Ricardo Kotscho; "É como se fosse um
novo poder, paralelo e solitário, acima dos outros três. Quem lhe deu este
poder, de onde vem tanta autoridade?", questiona, lembrando ainda que o
ministro não esconde sua ação política
Por
Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho
Basta
abrir a internet em qualquer portal de notícias que você o encontrará. Qualquer
que seja o assunto, em qualquer área, qualquer dia, esteja ou não nos autos, é
batata: Gilmar Mendes tem uma opinião a dar.
Embora
seja apenas um dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, ele dá a impressão
de ser muito mais supremo juiz do que os outros, o dono da verdade definitiva,
indiscutível, absoluta, uma espécie de autonomeado "ombudsman geral"
da República.
É
como se fosse um novo poder, paralelo e solitário, acima dos outros três. Quem
lhe deu este poder, de onde vem tanta autoridade?
Para
uma platéia de executivos e empresários, em São Paulo, na sexta-feira, Gilmar
Mendes se manifestou sobre assuntos variados:
*
Compra de votos: "Se nós temos uma ampla concessão de Bolsa Família sem os
pressupostos e sem a devida verificação, isso pode ser uma forma de captação de
sufrágio que nós, no eleitoral, não conseguimos abarcar".
*
Prisão de Eduardo Cunha: "Nem sei se naquele momento no Supremo houve
pedido de prisão preventiva do deputado, Depois que ele perdeu a condição de
parlamentar e, portanto, a imunidade, aí se pode fazer um encaminhamento. De
qualquer forma, os pressupostos da prisão preventiva do deputado Eduardo Cunha
certamente ainda vão ser apreciados pelos tribunais superiores".
*
Direitos trabalhistas: "Tenho a impressão de que existe uma radicalização
da jurisprudência no sentido de haver uma hiper proteção do trabalhador, que
passou a ser tratado quase como um sujeito dependente de tutela. Isso gerou
inclusive a eleição de um presidente que veio da classe trabalhadora. A mim
parece que esta foi uma inversão. E aí ocorreu, talvez, um certo aparelhamento
da própria Justiça do Trabalho e do TST por segmentos desse modelo sindical que
se desenvolveu".
Os
repórteres foram ouvi-lo ao final de seu discurso num seminário promovido pela
Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. Ao ser perguntado sobre a Operação
Métis da Polícia Federal, que tinha acabado de ser deflagrada, contra policiais
legislativos do Senado suspeitos de embaraçar a Lava Jato, entre outros
assuntos do dia, não se fez de rogado.
"Não
conheço detalhes", começou falando Gilmar Mendes, e foi em frente:
"Certamente deve haver fundamentos para essa medida, que é uma medida
drástica, uma medida restritiva importante".
Em
sua palestra no evento, o ministro Mendes já havia falado sobre o "mais
longo período de normalidade institucional" desde a entrada em vigor da
atual Constituição.
"A
despeito de todas as mazelas que são atribuídas à Constituição de 1988, temos
que observar que estamos vivendo o mais longo período de normalidade
institucional da vida republicana começada em 1989".
Há
controvérsias. Uma das anormalidades institucionais em que vivemos é,
certamente, o papel hegemônico que Gilmar Mendes assumiu no STF, ao dar
sentenças diariamente, fora dos autos, sobre qualquer tema que esteja nas
manchetes.
Nomeado
para o Supremo Tribunal Federal no governo de Fernando Henrique Cardoso, depois
de exercer o cargo de advogado-geral da União, o ministro Mendes não faz a
menor questão de esconder suas preferências e antipatias partidárias, e costuma
dar palpites até sobre as decisões de outros ministros da Corte, sem ser
contestado.
Em
que outro tribunal de país civilizado já se viu comportamento semelhante?
http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/261684/Kotscho-questiona-quem-deu-tanto-poder-a-Gilmar.htm
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