Janio
de Freitas, um dos poucos colunistas políticos a não deixar de lado a longa
folha de Eduardo Cunha quando este era o “queridinho” da mídia, por armar as
suas bombas contra o Governo Dilma, analisa hoje a falsa surpresa da prisão de
Eduardo Cunha (daqui a pouco volto a este “surpreendente”) .
O
“catálogo” de negócios escusos do ex-deputado, a rigor, importa menos que a
agenda do juiz Sérgio Moro que, com muito mais crueza que se disse ontem aqui,
o colunista Roberto Dias, fez da prisão de Cunha “um tapa na imagem do
Supremo“.
Catálogo de nomes
de Cunha pode favorecer sua situação
Janio de Freitas,
na Folha
A
Lava Jato sabe pouco sobre Eduardo Cunha. Há 26 anos no mercado das transações
marginais, e reconhecido com justiça como um dos seus mais prolíficos,
versáteis e duros operadores no setor público como no privado, não o honra a
pequena lista de motivações que Sergio Moro conseguiu para ordenar sua prisão.
Sua longa e destacada atividade no mercado é que faz de Eduardo Cunha um caso
especial, como mais um preso sujeito à coação da cadeia praticada na Lava Jato.
A
quantidade e a variedade de pessoas e casos que o novo preso poderia expor não
têm similar na Lava Jato. É provável que parte dos casos esteja prescrita, para
efeito judicial, mas continua sugestiva de linhas de negócios ilegais e
parceiros. Quem está sujeito a citação não ficou temeroso agora, com a prisão
de Cunha. Há meses era antevista a possibilidade da ordem de Moro. Daí duas
questões que a prisão suscita.
Não
é incomum a opinião de que o catálogo de casos e nomes denunciáveis favoreça a
situação de Cunha. Se não por influências externas sobre o seu inquérito, para
delimitá-lo, poderia pelo modo de ação da própria Lava Jato. Tanto porque o
grupo de procuradores e policiais federais evita, até onde consegue, temas e
nomes alheios à sua prioridade absoluta, que são Lula e o PT; como por ser
ignorada e temida a dimensão do desarranjo que Eduardo Cunha pode causar. A
ventania tóxica se estenderia até para o hemisfério norte.
A
questão transborda para outra. Cunha tinha consciência do risco de prisão
(dizia-se que tinha até uma valise pronta, como se fazia na ditadura). Sabia
das condenações que o espreitam. Conhecia o método de coerção para obter
delações, adotado na Lava Jato e recomendado por instrutores dos Estados
Unidos. Apesar disso, não foi para o exterior, para um país sem tratado de
extradição com o Brasil.
Eduardo
Cunha é um planejador obsessivo dos próximos passos. E esperou meses pela
decisão de Moro, sem qualquer ato interpretável como desejo de fuga. Deixou em
mistério os motivos da atitude própria de uma pessoa despreocupada, com a vida
em ordem, entre os comuns. Mas que houve motivos para estar ou mostrar-se
assim, o mais adequado é não duvidar.
Moro,
no entanto, incluiu risco de fuga na relação de itens para a prisão. E também a
possibilidade de ruptura da ordem pública. Como e por que, nem sugeriu. No
mais, só as acusações e indícios que, ao longo de mais de um ano, não pareceram
ao juiz serem casos de prisão. O que de repente, sem fato novo, passaram a ser.
Mas não por causa de Eduardo Cunha. Ou do seu catálogo.
http://www.tijolaco.com.br/blog/janio-de-freitas-o-catalogo-de-cunha-e-agenda-de-moro/
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