Isenção
a esta altura dos acontecimentos?
Escondidinha,
uma nota na primeira página da Folha de hoje traz o que se pode definir como
uma confissão aterradora.
A
nota chama para um artigo de Deltan Dallagnol e outro procurador, e o título é
este: “Lata Jato avança ao atingir todos sem distinção”.
Vou
repetir, tamanha a importância da frase:
“Lata
Jato avança ao atingir todos sem distinção”.
Quer
dizer: agora, e somente agora, a Lava Jato atinge — alegadamente — a todos?
Ao
longo de todo este tempo Moro e seus comandados trataram de destruir o PT. Num
jogo combinado com a mídia, a começar pela Globo, armaram operações
cinematográficas quando se tratava de prender pessoas de alguma forma
vinculadas a Lula.
Como
esquecer as cenas da condução coercitiva de Lula para um depoimento para o qual
ele sequer fora convocado?
E
o vazamento ilegal das falas entre Lula e Dilma?
E
tantas, tantas, tantas outras coisas que colaboraram decisivamente para a
derrubada de Dilma e que, pelo script previsto, levariam a tirar Lula do
caminho em 2018?
Uma
democracia foi destruída. 54 milhões de votos foram incinerados para que a
plutocracia chegasse ao lugar a que não consegue pelas urnas.
E
agora somos obrigados a engolir que a Lava Jato é, aspas e gargalhadas,
“apartidária”? Isenta?
Coloquemos
assim: a Lava Jato tem a isenção que está fixada na missão do Jornal Nacional.
Nela, o JN diz que noticia os fatos do dia com “isenção”.
A
Lava Jato foi, desde o início, tão isenta quanto o Jornal Nacional.
As
coisas saíram do controle de seus mentores, e da própria mídia, quando
delatores graúdos citaram pessoas, de novo aspas e gargalhadas, “acima de
qualquer suspeita”.
Veio
o caos, para os administradores da Lava Jato e para a imprensa. Nenhum entre
eles poderia esperar que da Odebrech saísse a informação preciosa de que Serra
recebera 23 milhões de dólares num banco suíço para a campanha de 2010.
E
atenção: em dinheiro de 2010. Hoje, seriam 34 milhões.
A
confusão entre as corporações jornalísticas ficou estampada notavemente nisso:
a Folha deu manchete e o JN ignorou.
O
fato é que mudaram as circunstâncias: Moro já não é o mesmo. Caminha para ser o
juiz de primeira instância de origem. Hoje é menor do que foi ontem, e amanhã
será menor do que é hoje.
E
a ideia disparatada de Dallagnol de que a Lava Jato “avança ao atingir a todos
sem distinção” merece que evoquemos Wellington.
Só
acredita nela quem acredita em tudo. A não ser que a tomemos como uma confissão
de que ela até aqui pegou apenas um lado.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-desconcertante-confissao-involuntaria-de-deltan-dallagnol-por-paulo-nogueira/
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