Fazendeiros e criadores
precisam cortar drasticamente o uso de antibióticos em seus cultivos e criações
de animais, porque essa atividade está se tornando uma ameaça à saúde humana,
segundo um relatório publicado no periódico Review on Antimicrobial Resistance.
A reportagem é James
Gallagher, publicada por BBC Brasil, 09-12-2015.
O uso abusivo destas
substâncias tem feito com que algumas doenças sejam atualmente quase
impossíveis de serem combatidas.
Mais da metade dos
antibióticos no mundo são usados em animais, muitas vezes para fazer com que
cresçam mais rápido.
O relatório científico ainda
indica novos parâmetros para o uso de antibióticos em animais.
A administração excessiva
destes medicamentos na criação de animais ganharam novo destaque no mês
passado, quando, na China, pesquisadores advertiram que estamos à beira de uma
"era pós-antibióticos".
Os cientistas descobriram
uma bactéria resistente à colistina, antibiótico usado quando outros meios
usualmente empregados para combatê-la haviam falhado. Aparentemente, ela surgiu
em animais criados por pecuaristas e também foi detectada em pacientes em
hospitais.
Excesso
Em alguns casos,
antibióticos são usados para tratar infecções em animais doentes, mas a maioria
é usada de forma profilática em animais saudáveis para prevenir infecções ou
aumentar seu ganho de peso -- uma prática controversa e mais comum em criações
intensivas.
A expectativa é de que o
consumo de antibióticos no mundo aumente 67% até 2030. Só nos Estados Unidos,
são usadas anualmente 3,4 mil toneladas destas substâncias em pacientes e 8,9
mil toneladas em animais.
O economista Jim O'Neill,
que liderou o estudo, disse que estes índices são "estarrecedores" e
que 10 milhões de pessoas morrerão por causa de infecções resistentes a
antibióticos em 2050 se esta tendência não for revertida.
O'Neill destaca em seu
trabalho que a maioria das evidências científicas aponta para uma necessidade
de redução do uso de antibióticos.
Ele indica que uma meta
razoável para o uso de antibióticos pela agricultura seria de 50 mg para cada
1kg de animais -- um nível já colocado em prática por um dos principais países
exportadores de carne de porco do mundo, a Dinamarca.
A título de comparação, os
Estados Unidos usam quase 200 mg/kg e Chipre emprega mais de 400 mg/kg.
Custo
"Tenho certeza que
muitos criadores pensarão 'Bem, se temos que fazer isso, significa que o preço
cobrado pelo que produzimos aumentará e não conseguiremos mais concorrer no
mercado", disse O'Neill à BBC.
"O exemplo dinamarquês
mostra que, após um custo de transição inicial, a longo prazo, os preços não
foram afetados, e a Dinamarca manteve sua participação de mercado."
Antibióticos são mais úteis
em criações com instalações com muitos animais e sujas, onde as infecções se
espalham mais facilmente, então, locais mais espaçosos e higiênicos são uma
forma de reduzir a necessidade de aplicar estas substâncias.
O relatório também recomenda
um maior investimento na pesquisa de vacinas e testes para diagnosticar
infecções específicas e afirma que países deveriam adotar uma lista de
antibióticos que nunca deveriam ser usados em animais por causa de sua
importância no tratamento de humanos.
Jianzhong Shen, da
Universidade Agrícola da China e um dos descobridores da resistência à
colistina, diz que "todos os países do mundo deveriam usar antibióticos na
criação de animais de forma mais prudente e racional".
"Agora é a hora de
haver uma reação global para restringir ou proibir o uso de antibióticos para
acelerar o crescimento ou prevenir doenças."
Jorge André Irion Jobim.
Advogado de Santa Maria, RS
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/550035-por-que-o-uso-de-antibioticos-na-criacao-de-animais-ameaca-a-saude-humana
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