A
bandeira pela liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva unificou a
esquerda brasileira. Em assembleia realizada ao longo deste sábado (16), em São
Paulo, trabalhadores, representantes de partidos políticos e movimentos sociais
definiram que lutar por Lula Livre hoje é lutar por um Brasil livre das
arbitrariedades cometidas pela Justiça, que se aliou a forças do capitalismo
financeiro internacional.
Livre
das injustiças e desatinos cometidos por um governo que quer jogar a conta da
crise sobre os mais pobres. Livre do ódio daqueles que defendem armas, em vez
de livros. Livre das tragédias cotidianas que chocam a todos, do crime
ambiental em Brumadinho ao massacre da escola estadual Raul Brasil, em Suzano.
Livre da violência contra as mulheres e a população negra, da invasão a terras
indígenas, e da perseguição a artistas e intelectuais.
"Temos
obrigação de fazer os brasileiros voltarem a sonhar", afirmou o
ex-prefeito de São Paulo e candidato à Presidência, Fernando Haddad (PT), sobre
as ações diárias do governo Bolsonaro que colocam em risco a soberania nacional
e os direitos do povo, e que mesmo antes da posse, já causavam estragos na
imagem internacional do Brasil.
"Temos
o maior líder político desse país preso, e não se sabe o porquê. E fizeram tudo
isso para colocar na Presidência uma pessoa que nem merece comentário, tamanho
o despreparo. Por tudo isso, Lula livre hoje é sinônimo de Brasil livre."
Haddad
classificou a prisão de Lula como "surreal e absurda", e criticou a
operação Lava Jato, que não conseguiu comprovar um único ato ilícito cometido
pelo ex-presidente durante os seus oito anos de mandato. E que por isso foi
preciso criar uma "ficção jurídica", condenando-o por um "ato de
ofício indeterminado". Ele afirmou ainda que os algozes de Lula
acreditaram que o tempo levaria ao seu esquecimento. "Eles estão
enganados. Não conhecem a esquerda, o PT e as forças populares desse país. Não
esqueceremos dessa injustiça."
Inverno e primavera
Candidata
a vice na chapa de Haddad, Manuela D'ávila (PCdoB) afirmou que as bases sociais
dos partidos de esquerda já estão unidas, porque sofrem na pele as
consequências do "inverno" político pelo qual o Brasil vem passando,
seja pelos ataques aos direitos dos trabalhadores, seja pela violência
crescente contra as mulheres.
Ela
destacou que a perseguição ao PT movida por setores da imprensa e do Judiciário
é também contra tudo aquilo que a esquerda representa. E que a prisão de Lula
nunca foi apenas a prisão de um ex-presidente, mas a prisão de "um
sonho". Ela frisou que a "primavera" que vai superar esse
"inverno" é feminista, e encerrou sua fala citando o poeta Thiago de
Mello: "Faz escuro mas eu canto, porque a manhã vai chegar. Vem ver
comigo, companheiro, a cor do mundo mudar."
Máscaras
Também
candidato nas últimas eleições pelo Psol, o líder do Movimento dos
Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos, disse que chegou o momento em
que "as máscaras começam a cair". E citou o ministro da Justiça de
Bolsonaro, Sérgio Moro, "cúmplice de um laranjal", que integra um
"governo de milicianos". E o atual chefe da força-tarefa da Lava
Jato, o procurador Deltan Dallagnol. "Se a Justiça tivesse um terço do
peso contra Lula, Dallagnol estaria preso por crime de lesa-pátria pelo
conchavo com norte-americanos", afirmou, fazendo alusão à tentativa de
criação de fundo privado com R$ 2,5 bilhões, em acordo dos procuradores de
Curitiba com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
Boulos
afirmou que "democracia não combina com preso político", e destacou
Lula como um "preso político". Ele garantiu o apoio do MTST, do Psol
e da Frente Povo Sem Medo nos esforços pela libertação do ex-presidente.
"A única luta que se perde é aquela que se abandona. Não vamos abandonar
essa luta. Vamos seguir até o fim."
O
ex-senador Roberto Requião (PMDB-PR) também ressaltou a "manipulação do
Direito" e os "artifícios jurídicos" que foram utilizados para
prender Lula. "As sentenças dadas contra Lula têm que ser anuladas, e
reexaminadas por juízes vinculados ao direito, não à direita", afirmou. O
ex-senador foi o primeiro a dizer que Lula Livre "pode ser traduzido hoje
com toda a precisão como Brasil Livre", fazendo alusão à liberdade dos trabalhadores
do país.
Alegria, fé, luto e luta
A
atriz Lucélia Santos também participou da plenária final da Assembleia Nacional
Lula Livre. Ela defendeu "o mágico e lúdico" para enfrentar tempos
obscuros, e lembrou a iniciativa do também ator José de Abreu, que se autoproclamou
presidente do Brasil, em alusão ao líder da oposição na Venezuela Juan Guaidó.
"O
Brasil está hoje vivendo uma energia pesada, de morte, que é o que nós não
queremos. Temos que ser militantes da vida. Propagar energia amorosa contra o
ódio. A gente tem que desarmar pelo amor".
O
pastor Ariovaldo Ramos também afirmou "não arredar pé" da luta por
Lula Livre, que é objeto de suas orações e de tantos outros evangélicos. Ele
disse que, após o golpe contra Dilma e agora no governo Bolsonaro, o Brasil virou
uma nação "difamada e esculhambada no mundo todo", e ressaltou que a
liberdade de Lula, vítima de "toda a sorte de calúnias e mentiras,
condenado sem provas", é também a liberdade da classe trabalhadora.
Lurian
Lula da Silva, filha do ex-presidente, agradeceu o apoio da militância pela
libertação do seu pai, e disse que a família vive em luto, desde março de 2016,
quando ele foi levado em condução coercitiva, anunciando a perseguição que
viria. Depois o luto foi amplificado pela morte de Marisa Letícia, mulher de
Lula, e do irmão e do neto, já quando estava preso. "Temos o dever moral
de estarmos na rua pedindo a liberdade de Lula para desmentir cada acusação e
evitar que o país entre num colapso ainda maior."
Unidade
Mais
cedo, a presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann afirmou que a
bandeira pela liberdade do ex-presidente Lula representa também a luta por
Marielle, contra a retirada de direitos do povo brasileiro, através da proposta
de reforma da Previdência, e também contra os ataques às organizações
sindicais.
As
violações de direitos cometidas pela Lava Jato contra Lula também se relacionam
com a entrega do pré-sal às multinacionais do petróleo. Sobre a negociação
“espúria” da força-tarefa de Curitiba com o Departamento de Justiça dos Estados
Unidos, que resultariam em R$ 2,5 bilhões geridos por uma fundação de direito
privado, sem qualquer base legal, os promotores comandados por Deltan Dallagnol
incorrem nos crimes de formação de quadrilha, corrupção passiva, lavagem de
dinheiro, organização criminosa. “Quem comete crime são eles. Tem material, tem
prova, tem rastro. Quem tem que ir para a cadeia é o Dallagnol”, afirmou
Gleisi.
Ela
prometeu redobrar esforços na mobilização em defesa da liberdade do ex-presidente.
“Presidente Lula, vamos provar a sua inocência. Essa caminhada vamos fazer
juntos. Vamos ocupar as ruas de todo o Brasil e lutar pela soberania, pela
liberdade de Lula, contra a reforma da previdência e pela democracia.”
Dirigentes
de partidos de esquerda que também estiveram presentes na Assembleia Lula Livre
destacaram que essa é uma luta unitária, de todo o povo brasileiro. “Não cabe
luta de protagonismo agora, é hora de unir a esquerda. Nosso lugar é na rua,
lutando por Lula livre”, afirmou a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ),
representando os comunistas. O presidente nacional do Psol, Juliano Medeiros,
também frisou que "a luta pela liberdade de Lula é uma luta da democracia
e todo o povo brasileiro".
Já
o presidente do PCO diz que a esquerda sai fortalecida do encontro de hoje.
"Vamos fazer uma campanha ampla. Ir para as ruas. Que a campanha não seja
só entre a esquerda e para a esquerda, mas para todo o povo brasileiro."
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