quinta-feira, 21 de setembro de 2017

PEDRO SERRANO: INVENTOU-SE UM ENQUADRAMENTO PARA CONDENAR LULA

A influência de veículos da mídia na condução de julgamentos na esfera penal também foi um tema abordado por Serrano. “Existem países que tentam experimentar formas de mitigação desse efeito, mas é muito difícil, uma contradição que há nas democracias contemporâneas. Os casos que chamam a atenção do público – às vezes legitimamente porque existe o interesse público envolvido – acabam sendo casos conduzidos não da forma regular e normal. Nesses casos, têm que haver ainda mais cuidados com os direitos do acusado para não haver dúvida de que a decisão da Justiça foi jurídica e não política”, explica. “É preciso haver cautela das autoridades públicas, elas têm que ter contenção. Sei que é difícil, hoje vivemos em uma sociedade onde a vaidade superou a cobiça como pecado capital dos nossos tempos, mas de qualquer forma precisa haver essa elevação de espírito. No mundo democrático é preferível não condenar um culpado do que prender um inocente.”

“São raros os lugares do mundo, diria que só vi isso no Brasil, em que mal se inicia a investigação e ela já está na Globo ou na mídia. A investigação deve ocorrer de maneira silente, até para ser eficaz. O interesse não é só na preservação dos direitos do investigado, mas na própria eficácia da investigação”, defende. “Há que se ter discrição para se ter eficiência na investigação e é preciso preservar a imagem de pessoas que incorretamente tenham sido envolvidas, qualquer um de nós pode ser envolvido em uma investigação estatal.”

Corrupção e falsa esperança

Serrano vê com preocupação as consequências do dito “combate à corrupção” representado por operações como a Lava Jato para a sociedade de um modo geral. “O pior que vejo é o rescaldo que vai sobrar disso. Todos os estudos criminológicos e o estudo histórico do Direito são fartos em demonstrações de que o direito penal não serve como solução para problemas sistêmicos, sejam eles quais forem. Temos no Brasil uma corrupção sistêmica, é verdadeiro quando as pessoas falam isso, mas o direito penal não serve a esse fim, ele chega tarde, depois de muito tempo que o fato ocorreu. Ele não captura tudo que ocorreu nunca e pode capturar errado, cometer injustiças. O sistema penal é falho como sistema para poder dar conta de problemas como a criminalidade sistêmica, não há como ter eficiência nisso”, avalia.

“O meu medo é o rescaldo disso. Quando a população descobrir que isso não vai resolver a corrupção, como vai ser? A apatia, talvez, ou então o surgimento de alguma liderança populista como houve na Itália. Não posso imaginar o que vai acontecer, mas certamente será algo muito ruim, porque estão criando uma esperança na população que a história já demonstrou ser fantasiosa. O sistema penal não soluciona esse tipo de problema.”

https://www.brasil247.com/pt/247/brasil/318505








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