O
ensaio de delação do ex-ministro Antonio Palocci é a demonstração cabal de como
funciona a Lava Jato. Sua missão não é prender e punir corruptos e corruptores.
É usar o poder de prender e punir corruptos e corruptores para livrar corruptos
e corruptores, desde que atendam aos objetivos políticos da operação.
É
o caso de Palocci.
Palocci
tinha duas formas de operar. Uma delas, era para o PT, as conversas informais
com financiadores de campanha. Nessa ponta, conversava com empreiteiras e
frigoríficos. Na outra, atuava em benefício próprio agindo preferencialmente
com investidores e bancos de investimento.
Havia
dois terrenos preferenciais para operar. Um deles, histórico, era o insider
information sobre o comportamento das taxas de juros nas reuniões do Copom
(Conselho de Política Monetária do Banco Central) e nos leilões de títulos
públicos.
A
probabilidade é um elemento eficiente de análise. O gênio tatibitate de Deltan
Dallagnoll utiliza para embasar julgamentos: se tem tantas delações apontando
Lula, mesmo sem provas, a teoria da probabilidade indica que Lula é culpado. A
teoria da probabilidade indicaria que se TODAS as delações são comandadas pelo
mesmo juiz e procuradores, seguidores da teoria penal do inimigo, a
probabilidade de todas serem iguais é igual a 1. As desiguais não seriam
aceitas. Simples assim.
Onde
interessa, esses Sherlocks não sabem usar. Uma análise probabilística das vezes
que o Banco Pactual, e outros atores, acertaram nos leilões do BC e no mercado
a termo da taxa Selic seria um indício eloquentes de que operavam com
informações privilegiadas.
A
corrupção em torno das informações sobre indexadores e leilões de títulos é o
campo mais profícuo para corrupção desde as priscas eras de Maílson da Nóbrega
Ministro da Fazenda. O escândalo do Banco Marka, aliás, não foi com os dólares
do Banco Central, como erroneamente interpretou o Ministério Público Federal,
mas com os leilões de títulos públicos.
Mas
trata-se de área tabu. Em parte pela complexidade da avaliação; em parte por
desinteresse e cumplicidade dos órgãos de fiscalização, incluindo a mídia.
O
segundo campo de atuação de Palocci era no Carf (Conselho Administrativo da
Recursos Fiscais). Lá ele operou diretamente para o Banco Pactual, em episódio
que denunciei fartamente pela Folha, até ser impedido de continuar.
Meses
atrás, Palocci insinuou que poderia trazer informações sobre o mercado
financeiro. Ameaçava revelar suas operações privadas.
Aparentemente,
Sérgio Moro e os procuradores propuseram um acordo melhor. Entregando Lula,
Palocci resguardaria suas operações de enriquecimento pessoal e,
principalmente, o interesse de seus patrocinadores. Gozaria em liberdade o
capital acumulado no período.
Quanto
custaria a blindagem de um grande banco de investimento? No episódio da delação
de Delcídio, a mera prisão do banqueiro André Esteves provocou uma queda de
bilhões de dólares nos ativos do Banco BTG-Pactual.
Aparentemente,
a Lava Jato e Sérgio Moro acreditam que os valores envolvidos são miçangas.
O
combate à corrupção não pode depender da crença nas virtudes individuais. As
empresas precisam ser submetidas a regras e transparência, de accountability. O
mesmo se aplica às instituições públicas. Nem será necessário contratar um
escritório de advocacia estrangeiro para ensinar que cabe ao agente público a
plena publicidade sobre seus ganhos.
Por
isso mesmo, para que não pairem dúvidas sobre as omissões da Lava Jato, seria
relevante que o Conselho Nacional do Ministério Público explicitasse as
palestras pagas dos procuradores, com indicação de valor e de instituição
contratante. E que a Receita abrisse as contas das declarações do
primeiro-amigo do juiz Sérgio Moro, Carlos Zucolotto.
http://jornalggn.com.br/noticia/na-delacao-de-palocci-a-lava-jato-preserva-os-operadores-financeiros-por-luis-nassif
Nenhum comentário:
Postar um comentário