Operação
foi comandada pelo folclórico coronel Erasmo Dias que, ao entrar, estendeu a
mão para a reitora Nadir Kfouri. Ela deu as costas a ele e disse que não
cumprimentava assassinos.
Em
22 de setembro de 1977, há exatos 40 anos, 3.000 policiais do Estado de São
Paulo, em harmonia com o regime militar em vigor no país, invadiram a
Pontifícia Universidade Católica e interromperam uma atividade pública dos
estudantes.
O
coronel Erasmo Dias (1924-2010), então secretário de Segurança Pública de São
Paulo, comandou pessoalmente a operação.
Erasmo
Dias tornou-se figura folclórica na época por sua atuação enérgica contra os
“agentes subversivos”. “Vamos almoçar essa gente antes que ela nos jante”,
afirmou certa vez.
No
caso da PUC, pode-se dizer que o coronel foi quase “jantado” pela reitora da
PUC, Nadir Kfouri (1913-2011). Quando estendeu a mão para saudá-la, a reitora
afirmou que não cumprimentava assassinos e virou as costas.
A
ação resultou na detenção de 854 pessoas, levadas ao Batalhão Tobias de Aguiar.
Delas, 92 foram fichadas no Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e
Social de São Paulo) e 42 acabaram processadas com base na Lei de Segurança
Nacional, acusadas de subversão.
A
despeito disso, o ato dos alunos saiu vitorioso: tornou-se bandeira da
resistência pacífica contra os militares e impulsionou o processo de
reconstrução da UNE (União Nacional dos Estudantes), então na ilegalidade.
Em
junho de 1977, a tentativa de realizar o terceiro Encontro Nacional dos
Estudantes em Belo Horizonte foi frustrada pelas forças militares, que cercaram
a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), sede da reunião.
Uma
reconvocação em 21 de setembro daquele ano, em São Paulo, também acabou sendo
impedida. No dia seguinte, a PUC amanheceu cercada por agentes do governo, mas
cerca de 70 alunos conseguiram realizar ali uma sessão secreta, no final da
manhã, na qual foi eleito um comitê para retomar as atividades da UNE.
Pela
noite, em ato com quase 2.000 pessoas, os alunos comemoraram a realização do
encontro e anunciaram suas deliberações. Cerca de 20 minutos depois, às 21h50,
tropas invadiram o campus.
“Foi
uma cena assustadora. Os policias batiam com cassetete e jogavam diversos tipos
de bomba. A PUC parecia uma praça de guerra”, relata Beatriz Tibiriça, uma das
estudantes processadas.
Enquanto
empreendia suas buscas, a polícia depredou salas de aula e outras instalações
da universidade. Os estudantes detidos foram conduzidos em fila indiana e de
mãos dadas ao estacionamento.
“E
os agentes davam pancada quando a fila parava. Ninguém imaginava que uma
violência daquele grau pudesse ocorrer contra uma manifestação pacífica”, conta
Anna Bock, professora de psicologia da PUC. Seis estudantes sofreram
queimaduras.
Além
do barulho das bombas, um outro som ficou na lembrança de muitos dos alunos.
“Eu quero a Veroca e o Marcelo”, bradava Dias.
Referia-se
ao jovem casal Vera Paiva e Marcelo Garcia e Souza (1954-1984), ambos líderes
do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da USP.
Nenhum
dos dois estava lá -naquela noite, ajudavam estudantes de outros Estados a
saírem de São Paulo.
“Além
de minha atuação no DCE, acho que ele me procurou por causa de meu pai”, avalia
Vera. Ela é filha do deputado Rubens Paiva, morto pela ditadura em 1971.
Após
triagem na PUC, 854 pessoas foram transferidas para o Batalhão Tobias de
Aguiar. Por volta das 5h30 do dia 23, os estudantes começaram a ser liberados.
Segundo
reportagem da Folha publicada no dia 24 de setembro de 1977, o comandante da PM
naquela época, o coronel Francisco Batista Torres de Mello, procurava
tranquilizar parentes dos alunos.
“Pode
ficar tranquila, minha senhora. Ninguém está sendo maltratado. Imagine a
senhora se iríamos bater nos meninos”, disse a uma mãe.
Hoje,
aos 92 anos, Torres de Mello diz que a invasão foi um erro. “Não havia
necessidade, a violência não leva a nada. Nós tentamos evitar, mas não houve
tempo. Somos treinados para a guerra, mas preferimos a paz. Seria tão bom se
todo mundo se amasse, se compreendesse.”
Em
1978, o inquérito contra os alunos foi arquivado. No ano seguinte, o Congresso
de Reconstrução da UNE foi realizado em Salvador, sem represálias policiais.
*Com
informações da Folha
Foto:
Arquivo PUC
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