terça-feira, 15 de agosto de 2017

UM GOLPE À DERIVA. Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Há algum tempo fiz comparações entre os programas econômicas do golpe de 1964 e do golpe de 2016. Antes disto já havia feito comparações políticas entre os líderes que rasgaram a CF/4946 e a CF/1988 para retirar a soberania popular do cenário político.
Hoje retornarei ao assunto, enfocando as particularidades políticas dos dois golpes. O golpe de 1964 tinha um projeto de nação claro e o colocou em prática sob o comando dos militares. As elites não estavam divididas em relação ao aspecto político mais importante do novo regime: os militares deveriam ficar no comando do Estado e reprimir os dissidentes dentro da Lei (e fora dela quando possível).

A divisão política das elites na atualidade é evidente. Elas concordam com as reformas, mas não conseguem encontrar um único líder para comandá-las. Geraldo Alckmin comanda o Estado mais rico da federação e tem ambições presidenciais, mas está sendo obrigado a enfrentar o sorridente prefeito de São Paulo que rapidamente conquista a preferência da mídia. Bolsonaro é o candidato da direita retro e certamente retirará alguns milhões de votos de qualquer concorrente ao cargo no campo da direita. José Serra e Aécio Neves ainda não disseram se pretendem ou não disputar a presidência. Marina Silva continuará sendo a eterna candidata do Banco Itaú.

Dória Jr. é cortejado pela imprensa e já se apresentou como opção do mercado, mas é desconhecido fora de São Paulo e será sabotado por Alckmin. Ciro Gomes sonha ser o candidato do centro, mas é mais conhecido no nordeste e não tem musculatura partidária para alcançar seu objetivo. Tudo bem pesado, Doria Jr. é um Ciro Gomes com discurso pró-mercado e Ciro Gomes é um Doria Jr. com propostas desenvolvimentistas.

Lula não apoiou o golpe e continua sendo o candidato presidencial preferido dos brasileiros. Se for excluído das eleições o trauma político será terrível e comprometerá o governo do candidato vitorioso, seja ele de centro ou de direita. Se ganhar a eleição e demolir as reformas pró-mercado de Michel Temer, o petista enfrentará dura resistência dos setores políticos, empresariais, financeiros e midiáticos que arquitetaram e ajudam a consolidar o golpe de 2016.

O cenário político pós-golpe de 2016 não propicia a construção de coesão social mediante o uso da força e sob o comando de militares (como ocorreu após 1964). Os próprios militares tentam se desvencilhar de qualquer compromisso com o aprofundamento do golpe.

Impedidas de cancelar as eleições presidenciais, as forças que lideram o golpe sugerem a adoção do Parlamentarismo. O problema é que a mudança de regime esbarra na preferência popular pelo Presidencialismo. Além disso, os regimes parlamentares são frágeis e raramente conseguem se sustentar durante períodos de depressão econômica e instabilidade política. A República de Weimar desmoronou abrindo espaço para o III Reich nazista. A adoção do regime parlamentar neste momento poderia provocar um resultado semelhante, pois a violência do movimento liderado por Bolsonaro só poderá ser minimizado e/ou derrotado através de um regime forte.

Um novo presidencialismo: é disso que o Brasil precisa. O problema é que os ideólogos e líderes do golpe 2016 não tem interesse em fortalecer o Estado. Muito pelo contrário, eles fragilizam o Estado acreditando que assim ocorrerá um florescimento natural do mercado (muito embora o mercado esteja encolhendo a olhos vistos). Além disto, os golpistas nem mesmo tem um único candidato capaz de levar adiante as reformas pró-mercado.

O contexto político e econômico gerado pelo golpe de 1964 favorecia a preservação do regime infame que foi criado. O contexto criado pelo golpe de 2016 só propicia uma coisa: sua superação. Todavia, o Brasil ainda pode sair totalmente dos trilhos com a adoção do parlamentarismo, sob o comando de um cretino como Doria Jr.* ou nas mãos de um maníaco genocida como Bolsonaro. Gostem ou não, os golpistas dentro e fora do Poder Judiciário serão obrigados a fazer um cálculo racional: o Brasil ficará ruim com Lula ou pior sem ele. Melhor para o povo, pois caso seja eleito Lula ao menos conseguirá restaurar a fé dos brasileiros nas urnas.

* Recentemente o prefeito de São Paulo proibiu as crianças de repetirem a merenda. Criticado ele disse que estava preocupado com a obesidade infantil, mas a verdade é que Doria Jr. conseguiu plagiar o personagem de Charles Dickens que impede Oliver Twist de repetir a refeição no orfanato.

http://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/um-golpe-a-deriva-por-fabio-de-oliveira-ribeiro




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