A passagem do primeiro
aniversário do impeachment da presidente eleita Dilma Rousseff tem uma
serventia: ela atesta de forma inequívoca que o programa do golpe fracassou em
todas as frentes e castigou todos os seus articuladores com o cipó de aroeira
da rejeição e do descrédito. O fracasso e o castigo deles, entretanto, não
suprime os efeitos devastadores do golpe sobre a ordem democrática, econômica e
social que o Brasil vinha construindo desde a Constituição de 1988. Nestes 12
meses, o país embarcou numa espiral vertiginosa de retrocessos em todos os campos,
e quando os brasileiros se perguntam pela luz no fim do túnel, novos desatinos são perpetrados pelo governo
e seu bloco político-partidário, descomprometidos com a vontade popular, com a
ideia de Nação e com os horizontes do futuro.
Haverá Brasil e haverá brasileiros depois que Temer se for mas ele age
como se fosse o último monarca.
Nesta passagem dos 12 meses sob
seu governo ilegítimo, imoral, entreguista e inepto, o que paira sobre tantos
alaridos de vulgaridade é o silêncio dos envergonhados, dos que bateram panelas
e soltaram gritos irados nas manifestações pró-impeachment, acreditando (nem
todos, pois alguns sabiam exatamente o que faziam) que de uma ruptura
democrática poderia sair alguma solução virtuosa. Um ano depois, eles não têm nada a declarar.
Alguns tentam até dizer que a culpa é novamente de Dilma e do PT, que
escolheram Temer como vice na chapa vitoriosa em 2014. Mas quando pediam impeachment, estavam
pedindo Temer, estavam avalizando a agenda da “Ponte para o Futuro”, o programa
golpista que virou ponte para o passado, estavam pedindo este estado de exceção
dissimulado, que não legitima mas
legaliza a supressão de direitos, a entrega das riquezas nacionais e a execução
de uma política econômica recessiva, que tira empregos, quebra empresas e
engorda bancos.
O fracasso é geral, começando
pelo moral. Eles deram o golpe vociferando contra a corrupção e prometendo
moralidade: um ano depois, a corrupção mostra todos os seus dentes e revela sua
extensão. Eduardo Cunha, o presidente da
Câmara que conduziu o impeachment, foi para a cadeia poucos dias depois. As denúncias fulminaram Aécio Neves, outro
grande artífice do impeachment, encalacraram dezenas de parlamentares e
ministros e fizeram do próprio Temer o primeiro presidente da República
denunciado por corrupção. Agora o será também por obstrução da Justiça e
participação em organização criminosa. A rejeição de todos eles, como se pode
conferir pela pesquisa Ipsos, foi às alturas.
Eles venceram prometendo
“colocar a economia nos trilhos”. Em 12 meses, a recessão e o desemprego se
agravaram, o consumo despencou, travando qualquer disposição de
investimento. Celebram o recuo da
inflação, que nas condições recessivas atuais, é sinal de doença, não de saúde
da economia. Nesta data em que completa
um ano como presidente efetivo, Temer mandará ao Congresso um orçamento
faz-de-conta,com um deficit inferior em R$ 30 bilhões ao tamanho real do
buraco, que ontem o Congresso não conseguiu aprovar completamente na noite de
ontem, a nova meta deficitária de R$ 159
bilhões.
Temer tomou posse falando em
“Ordem e Progresso”. Em outubro, aprovou o congelamento do gasto público por 20
anos. Anunciou a reforma trabalhista,
que conseguiu aprovar, liquidando com a CLT, e a previdenciária, que o
Congresso perdeu qualquer condição para aprovar, depois das denúncias da
JBS. A ordem que mantém a população
receosa em casa decorre do desprezo e do medo de que tudo fique ainda
pior. E em vez de progresso, retrocessos
em todas as frentes: nas políticas sociais, na saúde, na educação, na proteção
ao meio ambiente, aos índios, aos direitos humanos, aos direitos da
mulher. No plano internacional, o Brasil
tornou-se irrelevante, perdeu toda a influência conquista com a política
externa altiva e ativa de Lula-Celso Amorim.
Fracassada a promessa da
reforma previdenciária, outra agenda foi oferecida ao mercado, a das
privatizações no atacado, que juntam uma Eletrobrás com uma entrega das ricas
jazidas da Renca às transnacionais, passando por portos, aeroportos, estradas,
poços de petróleo, Casa da Moeda etc.etc.
O que eles podem celebrar nesta
data? Estando fora do país, Temer poupou-se de fazer qualquer pronunciamento a
respeito. Se fizesse, não haveria panelaço, mas este silêncio pesado, o
silêncio dos envergonhados e os dos que resolveram esperar parados pelas
eleições de 2018, que também não são tão certas.
https://www.brasil247.com/pt/blog/terezacruvinel/314920/Um-ano-depois-do-golpe-a-vertigem-do-retrocesso-e-o-sil%C3%AAncio-dos-envergonhados.htm
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