Para
além da imensa capacidade de comunicação e organização que proporcionam, as
redes sociais permitem a expressão das frustrações coletivas de forma
socialmente inócua.
Cada
vez que uma injustiça é cometida, seja ela de natureza política ou dessas que
assombram o nosso cotidiano a nossa primeira iniciativa é denunciá-la ou
compartilhá-la nas redes sociais. Afora o aspecto positivo de difusão das
informações que tocam ao interesse coletivo de forma maciça, não conseguimos
dimensionar ainda se o vazio das ruas decorre de uma catarse que é a expressão
privada e inócua da indignação de fato iludida de que possa ter caráter
coletivo ou impacto político.
A
net (e nós) formamos bolhas, ela ao pré-selecionar o que nos interessa e nós ao
excluirmos ou silenciarmos aqueles “amigos” que nos incomodam, sendo que isso
é, naturalmente, o mesmo que reciprocamente fazem conosco. Porém, mesmo sabendo
disto, rápidos no gatilho, compartilhamos tudo com aqueles que concordam a
priori conosco e ao fazê-lo, possivelmente tendo mudado a imagem do perfil para
o tema do momento, nos sentimos mais satisfeitos e com o dever cumprido. Então
o fenômeno do escape da pressão social pelas redes sociais corre o risco de ser
real, de forte magnitude e potencialmente esvaziador das ruas.
Nos
tempos da ditadura, sem redes sociais e sob repressão do direito de opinião
tais frustrações e injustiças, sabidas sem redes sociais sempre de boca a
ouvido, fomentavam a angústia das famílias, o choro e a desesperança vivida em
pequenos círculos. A esperança em dias melhores era preservada como os antigos
preservavam o fogo, um dia aquilo se tornaria um incêndio. É óbvio que aqueles
dias sombrios de tirania absoluta foram mais sombrios que hoje e esse paralelo
nos serve aqui apenas para mostrar que as frustrações não eram expressas, mas
vividas no sofrimento e na angústia interior.
Temos
hoje, até por esse paralelo conhecido por muitos que ainda estão no front, a
tendência de enxergar (prioritariamente) o que há de positivo nas redes
sociais, mas a verdade é que ainda não temos perspectiva histórica suficiente
para ver, no conjunto, que influência realmente terá tido no mundo
institucional, sobre a democracia e sobre a formação de uma vontade coletiva
efetivamente alinhada aos interesses das maiorias. O que concluiremos?
A
bologosfera, que é parte dessas redes sociais da resistência democrática nesses
dias de golpe, promove uma reflexão aberta, aprofundada e plural sobre os temas
que nos atormentam. São jornais e os jornais são partidos como dizia Gramsci. E
as redes são, em parte, importantes caixas de ressonância desse pensamento
progressista.
Mas
a sociedade nos desafia a uma ação social no mundo real e nisso as redes
sociais são insuficientes, pior talvez estejam esterilizando energias que sem
elas estariam fluindo para a organização social.
Intuo
que para evitar o risco que correm os gatos filhotes de ficar correndo atrás do
rabo, os partidos políticos devem ser peças chave para despertar essa
verdadeira guerrilha de sofá, que sim, tem potencial político, a ir para as
ruas, e a ir ao encontro do povo, nas favelas, periferias e zonas rurais para,
com a humildade de quem deseja aprender, empoderá-los com o que sabem e
ajuda-los, até porque eles é que são os verdadeiros protagonistas, a
levantar-se; a sair do discurso e ir ao trabalho e ao trabalho de longo prazo.
Hoje
a esquerda está frustrada com a ausência do povo na rua. De minha parte e já
desde antes do golpe, venho me frustrando, é com a distância da esquerda do
(seu) povo. A quem a responsabilidade histórica maior?
Aos
que deixaram de ter esperança no povo e que o criticam porque não desce às
ruas, justo "eles" tão beneficiados por "nós" (!) diria que talvez seja hora de deixar um pouco
o facebook e tentar materializar os valores que nos movem. Lá no mundo real da
organização coletiva.
http://jornalggn.com.br/blog/ion-de-andrade/redes-sociais-e-catarse-coletiva-por-ion-de-andrade
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