É
tudo extremamente previsível. Operação nascida da Lava Jato vaza à grande
imprensa delação que atinge Gleise Hoffmann, presidenta do PT, no dia em que o
Brasil poderia estar digerindo e tentando entender o surto de hiperação
privatista do governo Temer. A delação é capa no site da Folha nesta manhã de
quinta-feira.
O
vazamento é ilegal, acontece antes da delação ser homologada, antes sequer de
se inventar às pressas qualquer prova (como os “bilhetinhos” e as “planilhas”
que a Lava Jato costuma produzir, oportunamente), mas o país e suas
instituições estão anestesiados. A lei que vale para uns não vale para os
procuradores e delegados envolvidos nas operações. Ninguém mais se manifesta
contra esse tipo de vazamento político. Os ministros de um STF há tempos
controlado por Gilmar Mendes, e “ocupados” militarmente pela Globo, só falariam
alguma coisa se a mídia ordenasse.
Além
do mais, o governo Temer ampliou o controle sobre MP e Polícia Federal, que
agora, mais que nunca, usarão sua influência para orientar politicamente as
investigações.
É
a Lava Jato exercendo o seu papel de praxe em favor do golpe.
No
dia seguinte depois de extinguir reserva florestal maior que a Dinamarca, hoje
o governo anuncia que venderá mais áreas da Amazônia. É importante que a oposição
esteja debilitada, e que a presidenta do principal partido de oposição, o PT,
seja obrigada a direcionar parte de sua energia e atenção para resolver um
problema supostamente pessoal.
No
Globo, Miriam Leitão publica uma coluna que é uma obra-prima de cinismo. Ela
faz críticas fingidas, superficiais, ao governo, apenas para elogiá-lo. É uma
tática manjada da Globo, para ludibriar a opinião pública, fingindo um
distanciamento do governo Temer que ela não tem. A Globo é Temer até a medula.
Globo e Temer formam o mesmo ser político. Temer é um marionete da Globo e é
justamente por isso que o grupo precisa, de vez em quando, forjar um
posicionamento crítico, por uma questão óbvia de propaganda: a opinião pública,
para ser corretamente manipulada, precisa achar que a imprensa está avaliando o
governo criticamente – ao mesmo tempo em que se chancela e apoia tudo que o
governo faz. Nos governos Lula/Dilma, a Globo algumas vezes usou a fórmula
oposta: fingiu isenção em relação, ao mesmo tempo que fazia guerra sem quartel
a tudo que o governo propunha e fazia.
As
manchetes do Globo, assim como na Folha, são ocupadas militarmente pela Lava
Jato, que agora atingiria os “bancos”.
A
ameaça aos bancos na manchete do Globo é uma fake news. Você clica na manchete,
verá que se trata de um parágrafo curto, sem nomes, sem datas, sem números, sem
nada. É uma ameaça puramente semiótica, embora assustadora, na medida em que a
Lava Jato já deixou claro que não tem qualquer compromisso ético com a verdade,
com as provas ou com os efeitos de suas violências na economia.
Ela
precisa continuar ocupando a opinião pública como um exército estrangeiro ocupa
um país inimigo. Se ela atacar o sistema bancário nacional, fá-lo-á para
abri-lo aos grandes bancos norte-americanos. Os membros do Instituto Wilson,
think tank da CIA em Washington, onde as estrelas do nosso judiciário (Sergio
Moro, ministros do STF) e da PGR (Janot) tem sido constantemente recebidas,
devem ter ficado animados. É muito bom para ser verdade, pensam eles.
O
objetivo é o mesmo: abafar o impacto do anúncio das privatizações na opinião
pública.
A
fórmula deu certo e eles vão continuar: Lava Jato nas manchetes, hipnotizando a
opinião pública, e apoio às medidas neoliberais e privatizantes do governo.
Escrito por Miguel
do Rosário, Postado em Arpeggio
http://www.ocafezinho.com/2017/08/24/lava-jato-entra-em-acao-para-abafar-entrega-do-pais/
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