ESSE
TAL DE BRASIL
Finalmente
o Brasil voltou aos noticiários da Alemanha. Eu já havia salientado aqui que,
desde o impeachment da Presidenta Dilma, a imagem do Brasil foi lançada em
queda livre. Na verdade, o país simplesmente deixou de despertar qualquer
interesse na imprensa europeia. Hoje, todos os meios de imprensa, absolutamente
todos, todos os jornais impressos, todas as tevês, todas as rádios noticiaram a
condenação do Presidente Lula.
O
clima, por aqui, é de estupefação total, não só porque Lula é o líder político mais
importante do Brasil, mas também porque é considerado na Europa um dos líderes
mais influentes da História contemporânea mundial. É do consenso geral, na
Alemanha, que Lula ocupa o mesmo panteão de Obama, Merkel, Hatoyama, etc.
Durante
esses anos todos que vivo por essas bandas, jamais encontrei um alemão que não
soubesse quem era Lula e, mais, não o mencionasse espontaneamente com grande
respeito. Em todos os congressos e eventos acadêmicos com foco em
desenvolvimento socioeconômico dos quais participo, os programas de governo
implementados por Lula para redução da pobreza e inclusão social são referência
constante, posto que copiados em diversos países. Eu poderia citar centenas de
trabalhos acadêmicos nesse sentido.
Hoje
cedo, entro no departamento de direito público da Humboldt-Universität e dou a
notícia à queima roupa – alguns ainda não haviam lido as notícias: “Lula foi
condenado a nove anos e meio de prisão”. Reação unânime: Waaas?? (O quê??).
Nos
jornais, os articulistas tentam, sem sucesso, explicar o caso. Falam de um tal
apartamento de luxo numa praia, que teria sido reformado pela OAS, mas que não
pertencia a Lula… Entre os comentários do jornal Zeit, um leitor indaga: “
Condenado a quase dez anos de prisão porque visitou um apartamento que, em
seguida, recusou? País estranho esse tal de Brasil…”.
Na
impossibilidade de explicar logicamente a condenação, todos os jornais, claro,
aludem às eleições de 2018 e explicitam que Lula não só seria candidato, mas
também é o favorito, segundo as pesquisas, muito à frente dos demais, o que
certamente faz lançar sobre a condenação, concluem, “suspeitas de fundo
político”.
Parênteses:
nenhum jornal alemão é filiado ao Partido dos Trabalhadores.
O
notório radialista Brendel, da Deutschlandradio, salientou que a condenação não
era definitiva, mas fez questão de dizer que ela acentuava ainda mais o
“caráter surreal” dos recentes acontecimentos no Brasil, já que, enquanto
condenam o Presidente Lula, sem uma prova concreta que sacie a sanha midiática
brasileira, os parlamentares brasileiros manobram para manter no cargo o
presidente em exercício que foi, palavras do jornalista, “gravado em transações
criminosas”.
Por
fim, o NZZ fala em “tempos difíceis no Brasil” e diz que o que está em jogo é o
“Comeback de Lula em 2018”.
Sem
mais.
Publicado
no Facebook de Antonio Salvador, estudante da Humboldt-Universität zu Berlin
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/pais-estranho-esse-brasil-repercussao-da-condenacao-de-lula-na-alemanha-por-antonio-salvador/
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