"Só
há um meio de fazer as autoridades políticas perceberem que o país não é delas
e levarem em conta a opinião da maioria: é a manifestação pública" escreve
Ivo Lesbaupin, sociólogo, professor da UFRJ, coordenador da ONG Iser
Assessoria.
Eis o artigo.
Nos
últimos meses, após o golpe que derrubou a presidente eleita e instalou um
governo ilegítimo no país, estamos assistindo à rápida e progressiva destruição
do arcabouço legal de proteção social que construímos nos últimos 30 anos.
Executivo e Legislativo (a maioria dos parlamentares) se uniram para desfazer a
Constituição elaborada com a participação da sociedade. Seguidamente, a
aprovação da PEC do Teto dos Gastos, da lei da Terceirização
"universal", leis contrárias à defesa do meio ambiente e à proteção
das terras de povos tradicionais, as propostas de reforma trabalhista e da
previdência, constituem uma pá de cal sobre a Constituição Cidadã e nos fazem
voltar à constituição da ditadura civil-militar e, no caso dos trabalhadores, o
recuo é de 100 anos, à época da República Velha, quando eles não tinham
direitos.
O
governo ilegítimo e a maioria do Congresso (devidamente "comprada"),
com apoio da grande mídia, seguem em frente com seu programa de reformas e de
leis contrárias à grande maioria da sociedade, ignorando seus protestos e suas
reivindicações. É como se nossa Lei Maior afirmasse que "todo poder emana
do Executivo e do Legislativo, que o exercem independentemente do povo".
Não temos mais o governo que foi eleito pelo povo, temos um governo imposto
pela maioria deste Congresso que, em nome do interesse da elite (o 1% mais
rico), exerce o poder como entende. É capaz de manter um presidente mesmo
denunciado por crime no exercício do poder, desde que faça aprovar as reformas
que eles querem.
Nesta
suposta democracia, o povo já foi alijado há muito tempo, primeiro pelo
desprezo do voto popular, depois pela ausência de debate público sobre os temas
em questão (legislação trabalhista e previdenciária), pela pressa em aprovar
reformas elaboradas entre quatro paredes pelos únicos beneficiários das mesmas
(patrões e banqueiros). Todas as pesquisas de opinião indicam que a grande
maioria dos cidadãos - mais de dois terços - rejeita a reforma trabalhista e da
previdência, no entanto a maior parte dos parlamentares não quer tomar
conhecimento disso.
Só
há um meio de fazer as autoridades políticas perceberem que o país não é delas
e levarem em conta a opinião da maioria: é a manifestação pública. Vamos para
as ruas exigir o "Fora Temer", a rejeição das reformas trabalhista e
da previdência e exigir "diretas já", de modo a que o povo – o
soberano da nação – possa se expressar e decidir quem deve governá-lo, em lugar
dos usurpadores atuais. Queremos, além disso, um referendo para podermos anular
os retrocessos em matéria de direitos que foram votados a partir do golpe.
http://www.ihu.unisinos.br/569303-contra-o-desmonte-dos-direitos-sociais-e-a-volta-a-republica-velha
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